Like & Dislike: BES está mascarado de Novo Banco. É Carnaval

O Novo Banco nada mais é do que o BES mascarado de banco bom. É Carnaval, mas os contribuintes levam a mal.

De cada vez que apresenta contas, descobrimos que dentro do Novo Banco continua a haver um BES disfarçado de banco bom, uma espécie de zombie a assombrar o sistema financeiro e a esvaziar os bolsos dos contribuintes.

De acordo com o Jornal Económico, a instituição liderada por António Ramalho prepara-se para apresentar esta sexta-feira prejuízos de 1.300.000.000 euros relativos a 2018. Os zeros são tantos que atestam a nulidade da solução encontrada para a venda do banco que nasceu da resolução em 2014, e que separou o BES Bom do BES Mau.

O BES Mau foi para liquidação e para a massa falida do universo Espírito Santo e o BES Bom foi recauchutado e transformado numa outra instituição com o pomposo nome de Novo Banco. Mas de novo só mesmo o nome.

E adivinhe quem vai pagar os prejuízos de 1,3 mil milhões de euros? Acertou, Sr. Contribuinte!

A solução desenhada por Sérgio Monteiro e validada pelo Banco de Portugal para a venda da instituição foi um desastre. O Banco de Portugal provou que, além de ser incompetente a supervisionar bancos, também é incompetente a vendê-los. A solução para alienar o Novo Banco aos norte-americanos do Lone Star nada mais é do que nacionalizar prejuízos e privatizar lucros futuros.

Quando comprou o Novo Banco (sendo que “comprar” aqui é um grande eufemismo), os americanos do Lone Star injetaram mil milhões de euros para capitalizar a instituição e o Estado deu-lhes uma garantia de 3,89 mil milhões sob a forma de um mecanismo de capital contingente. Este mecanismo garante que o Estado compense o Lone Star sempre que o Novo Banco venda parte da sua carteira de ativos problemáticos abaixo do valor de balanço e os rácios desçam abaixo de um determinado nível.

Um incentivo perverso para vender ao desbarato

Ora, este mecanismo é perverso porque o Novo Banco tem um grande incentivo para vender ativos ao desbarato e aproveitar, até ao último cêntimo, o dinheiro dos contribuintes. Se o Novo Banco tem um ativo no balanço avaliado em 10 euros, e se o mercado o avalia a 7, o Novo Banco ao vendê-lo tem de registar uma imparidade ou fazer o write-down de 3 euros no balanço. Se os rácios baixarem de um determinado nível, o Estado dá-lhe esses 3 euros (que daqui a 30 anos serão pagos aos contribuintes pelo Fundo de Resolução).

O Novo Banco pode repetir estas vendas até esgotar a garantia 3,89 mil milhões de euros de ajuda pública. Este mecanismo seria menos perverso se o Novo Banco tivesse algum incentivo em maximizar o valor dos ativos a vender. No exemplo anterior, o Estado poderia pagar-lhe apenas 10% dos 3 euros de perdas se a venda fosse realizada no espaço de um ano. Podia ressarcir 20% da perda se a venda fosse feita no espaço de dois anos e assim sucessivamente até ao ponto em que lhes garantia 100% dos 3 euros caso efetuassem a venda a mais longo prazo, por exemplo, os oito anos contratualizados no mecanismo de capital contingente.

Esta fórmula permitia ao Novo Banco tentar gerir a carteira de ativos problemáticos com mais tempo e mais racionalidade económica, sabendo que ganharia sempre que conseguisse maximizar o valor da venda ou protelar a alienação para uma altura em que esse ativo estivesse mais valorizado pelo mercado. Sem este mecanismo de travão, o incentivo para o Lone Star é vender depressa e mal.

António Ramalho e os seus dois balanços

António Ramalho é um bom gestor. Aliás, é um excelente gestor. Um bom gestor não se mede apenas pelos bons lucros que apresenta; também se mede pelos bons prejuízos que reporta. Do ponto de vista do acionista, estes prejuízos valem muito dinheiro, já que representam uma limpeza do balanço, colocando o banco mais enxuto para ser vendido a curto prazo. Quando a limpeza estiver feita, os norte-americanos colocam o banco à venda, recuperam os mil milhões de euros que lá injetaram, e ainda levam para casa uns milhões em mais-valias. É o negócio da China gizado nos corredores do Banco de Portugal e que vai custar muitos milhões aos contribuintes (nem que seja pelo custo de oportunidade de abdicar de 3,89 mil milhões durante três décadas).

Na apresentação das contas esta sexta-feira, António Ramalho vai apresentar, além dos resultados consolidados, dois balanços e duas demonstrações de resultados; uns com as contas do Novo Banco Bom e outros com os prejuízos do Novo Banco Mau, o tal cujas perdas estão a ser ressarcidas pelo mecanismo de capital contingente.

Porquê esta excentricidade de António Ramalho, perguntam? Por duas razões. Por um lado, é para ajudar ao ego da atual administração que quer mostrar que está a recuperar o banco do ponto de vista operacional. E justiça lhe seja feita, está a conseguir. Por outro lado, é para começar a colocar o Novo Banco na montra do mercado, para posterior venda, já depois de os contribuintes injetarem 3,89 mil milhões de euros. Um Novo Banco Mau disfarçado de Novo Banco Bom.

Tinha razão João Galamba quando se juntou ao coro do Bloco de Esquerda a exigir a nacionalização do banco, ao invés de uma venda mal feita. Teria sido uma decisão mais racional do ponto de vista económico. Se nacionalizámos os prejuízos, temos direito a ficar com os lucros e não entrega-los de bandeja aos norte-americanos.

Se por estes dias de Carnaval passar por si algum folião disfarçado de Tio Sam a fazer travessuras e a gozar com a sua cara, é provável que seja alguém do Lone Star. É Carnaval, mas os contribuintes levam a mal.

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