Negócio fechado. Fundo alemão paga mais de 125 milhões por torre em Picoas
A torre de escritórios na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, está oficialmente em nome do fundo alemão Deka Immobilien, que a comprou ao fundo da ECS Capital.
Foi uma das maiores transações do ano no mercado de escritórios. A polémica torre de Picoas, em Lisboa, passou oficialmente para as mãos do fundo alemão Deka Immobilien, por um valor superior a 125 milhões de euros, apurou o ECO. O imóvel, considerado um dos mais altos da capital, foi vendido pelo fundo FLIT, propriedade da portuguesa ECS Capital.
O negócio foi fechado esta quinta-feira por um valor superior ao apontado inicialmente, sabe o ECO, com uma yield que rondou os 4%. Contactadas, a ECS Capital e a Deka Immobilien não quiseram fazer comentários. O fundo alemão foi um dos interessados na compra deste imóvel, cujo concurso para apresentação de propostas decorreu entre abril e maio do ano passado, e acabou por ser aquele que fez a proposta mais alta.
O Fontes Pereira de Melo 41 (FPM 41) — também conhecido como Edifício 41 — resulta de um investimento de 70 milhões de euros da promotora Edifício 41, ligada à ECS Capital. Está localizado entre a Avenida Fontes Pereira de Melo e a 5 de Outubro, ao lado do Hotel Sheraton e um pouco abaixo da praça do Saldanha.
Com uma área de 22,5 mil metros quadrados, tem 67,8 metros de altura e seis pisos subterrâneos com 221 lugares de estacionamento. Conta ainda com um espaço público verde — Praça Picoas –, que faz a ligação com o jardim da Maternidade Alfredo da Costa.
Mesmo antes de o edifício estar concluído, já tinha como futuros inquilinos a consultora KPMG — que abandonou o Edifício Monumental — e a sociedade de advogados PLMJ — que deixou a sede na Avenida da Liberdade –, aos quais se juntou recentemente a Via Verde, com uma loja no rés-do-chão. Ao todo são 17 andares, com cerca de 1.400 metros quadrados cada um, sendo que dez são para a KPMG e seis para a PLMJ.
O projeto nasceu há cerca de seis anos, embora as obras só tivessem arrancado em 2016. A ideia inicial era construir uma torre com escritórios e lojas, mais baixa do que os 90 metros do Hotel Sheraton. No final de 2013, a gestora da obra, a Rockbuilding, lançou um concurso à procura das melhores ideias para o projeto de arquitetura e, um ano depois, o ateliê Barbas Lopes, liderado por Patrícia Barbas e Diogo Seixas Lopes, foi o vencedor.
Mas a história desta torre está repleta de polémicas. Em 2016, o Bloco de Esquerda denunciou ilegalidades na construção, que acabaram por ser confirmadas pelo próprio responsável da obra. Parte de uma estrutura tinha sido cravada em terrenos municipais subterrâneos, o que acabou por envolver uma “troca” de terrenos entre o município e a dona da obra, a empresa Edifício 41. Isto porque a parte subterrânea da torre também estava a ser ocupada por um parque de estacionamento de outra entidade.
De um privado para as mãos do BES… até à ECS Capital
Até o projeto passar para as mãos da ECS Capital muita água correu. Durante vários anos, Armando Martins, presidente do Grupo Fibeira e ex-proprietário do terreno onde está a torre e dono do Atrium Saldanha, apresentou à Câmara de Lisboa (CML) sucessivas propostas de projetos para aquele lote, que foram sendo sucessivamente rejeitadas. Rejeições que foram atribuídas ao próprio Manuel Salgado, vereador do Urbanismo.
Na altura, Manuel Salgado justificava que a área que Armando Martins queria construir (20 mil metros quadrados) era superior à que o Plano Diretor Municipal (PDM) permitia — até 12 mil metros quadrados de escritórios ou 14 mil metros quadrados de habitação. Face a várias dificuldades económicas e sem alternativas, Armando Martins terá sido aconselhado “por um dos Espírito Santo” a fazer uma hipoteca sobre o terreno de 15 milhões de euros, revelou em entrevista ao SOL o ex-vereador da CML, Fernando Nunes da Silva.
Mais tarde, a KPMG terá feito uma proposta a Armando Martins para adquirir aquele terreno, mas Manuel Salgado voltou a rejeitar o projeto e a venda acabou por não acontecer. Com o terreno hipotecado, Armando Martins acabou por ter de entregá-lo ao BES, pelo simbólico preço de um euro, dadas as dívidas que tinha na altura.
Após a venda ao BES, na altura com Ricardo Salgado como presidente (primo direito de Manuel Salgado), o mesmo vereador aprovou um projeto com uma área ainda maior do que a que havia sido pedida por Armando Martins. Isto porque, na altura da venda, o Plano Diretor Municipal estava a ser alterado e, ainda que isso viesse a permitir a construção do projeto que Armando Martins queria, Manuel Salgado não terá informado corretamente o ex-proprietário.
Em julho de 2017, o Ministério Público abriu um processo de averiguações à construção da torre de Picoas. Em setembro de 2017 o processo ainda corria, mas sem arguidos constituídos. No centro da investigação está Manuel Salgado e as alegadas restrições que colocou a Armando Martins, referia o Público.
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