Maiores seguradoras de Moçambique: Emose é líder há 30 anos

  • ECO Seguros
  • 8 Março 2020

As seguradoras envolvem-se com a inclusão financeira no mapa rural, ancorando a operação em quatro regiões. Com estatal Emose à cabeça, o 'top10' de Moçambique inclui 3 portuguesas.

O valor nominal dos prémios brutos (equivalente a 178 milhões de euros) cresceu 1% em 2018, face ao ano anterior, evidenciando desaceleração face a variações de 13% em 2016 e 22% em 2017. A taxa de penetração de seguros (1,48%) situou-se no nível mais baixo desde 2014 em Moçambique. A informação mais recente do supervisor e regulador (ISSM) estabelece o ranking local no final do terceiro trimestre de 2019, analisa o conjunto de 2018 e permite visualizar uma janela temporal de, pelo menos, quatro anos.

Produção e dados do setor (2014-2018):

Fonte: ISSM. Valores em milhões de novos meticais (conversão 1€=66,86 MZN, Banco de Portugal – taxa de câmbio setembro 2019).


O país é considerado pobre
, com perto de 30 milhões de habitantes em que mais de 60% tem menos de 24 anos de idade e vive em zonas rurais, mas o mercado de seguros apresenta um conjunto diversificado de operadores nos ramos Vida, propriedade, saúde e acidentes e fundos (fechados e abertos), revela o relatório anual do Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique (ISSM).

 

Os dados globais de 2018 indicam que a produção do ramo não Vida recuou 0,2%, contrariamente ao verificado no ramo Vida que cresceu em 10,4%. Por outro lado, 0,2% da produção pertenceu à única seguradora de micro seguro a operar no país. O ramo automóvel é o mais expressivo dos segmentos Não Vida, com 29% de quota, seguido dos ramos acidentes pessoais e doença e incêndio e, ainda, elementos da natureza, com 26,4% e 19,2%, respetivamente.

Repartição Vida e não Vida: Longo prazo sacrificado

Fonte: ISSM. Relatório anual 2018


No ano considerado,
foram comercializadas 1.133.514 apólices de seguro, com o peso de não Vida a contar 798 mil contratos. O seguro automóvel obrigatório (44,3% do total) e o segmento doença saúde (18,48%) predominaram, indicam os dados do ISSM.

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O posicionamento das cinco primeiras seguradoras manteve-se inalterado em termos globais, comparativamente a 2017, “realçando-se a ascensão das seguradoras Fidelidade e Sanlam para o conjunto das dez primeiras empresas, que no seu conjunto detêm 91,7% da quota global”, com aquelas duas companhias a ocuparem a oitava e nona posição, respetivamente. Considerando a SIM, ligada ao grupo Millennium BIM, Fidelidade e Tranquilidade, as subsidiárias de seguradoras portuguesas (ou participadas de instituições dos sistema financeiro português) posicionam-se entre as dez com maior produção.

O mercado integra cerca de duas dezenas de companhias licenciadas (incluindo a NBC Micro Seguros) e é tradicionalmente liderado pela Emose – Empresa Moçambicana de Seguros, estatal nascida há 43 anos (dois anos depois da Proclamação de Independência nacional) com a nacionalização e fusão de três seguradoras (Lusitânia, Tranquilidade de Moçambique e a Nauticus). Durante mais de 10 anos, a entidade de herança colonial deteve o monopólio do setor. Em 1991, decretada a liberalização do setor (as primeiras seguradoras privadas começaram a surgir em 1995), a Emose reconstituiu-se como sociedade anónima de capitais públicos.

Desde 2010, de acordo com a informação oficial, é detida em 49% pelo Estado, outros 31% entregues à holding que gere as participações do Estado (IGEPE) e mais 20% atribuídos à GETCoop (uma cooperativa de quadros, técnicos e trabalhadores da estatal). Em finais de 2013, a Emose dispersou 10% do seu capital social na bolsa de valores de Maputo, revela o prospeto de OPV dirigida a institucionais, na qual o Estado moçambicano foi a entidade oferente.

A companhia detém participações diversificadas na economia (Cimentos de Moçambique; Sociedade Notícias; Sociedade de Desenvolvimento do Corredor de Maputo e a resseguradora MozRe), sendo preponderante nos seguros de setores onde o Estado está presente como infraestruturas, transporte aéreo e atividade marítima.

Em não Vida, o negócio mais representativo da indústria seguradora em Moçambique (correspondendo a 90,6% do total de prémios processados pelos corretores de seguro), o ISSM não assinala alterações no ranking das mais fortes em produção de prémios face a 2017, mantendo-se a Emose em primeiro lugar, com 21,8%, seguida da Hollard com 17,9% e SIM que mantém a terceira posição, com 12,3%.

Ranking Não Vida e Mistas: Top ten tem 90% do mercado

Fonte: ISSM. Relatório anual 2018


A taxa de sinistralidade dos ramos Não Vida
, o mais representativo dos seguros do país, situou-se em 49,8% em 2018, revelando uma redução de 2,4 pontos percentuais em relação a 2017. No período em análise, os segmentos acidentes pessoais e doença apresentam a taxa de sinistralidade mais alta, com 69,6%, seguido dos acidentes de trabalho (56,7%) e automóvel (44,8%). As coberturas incêndios e elementos da natureza (22,9%) figuram com a quarta taxa mais elevada de sinistros, enquanto a mais baixa foi registada no ramo aéreo com 6,4%.

No que toca à gestão de sinistros (124,5 mil ocorridos em 2018), o ano encerrou com 111,4 mil regularizados e uma pilha de 30,3 mil processos pendentes, incluindo os acumulados de anos anteriores.

Abordando a situação patrimonial do setor, o relatório anual do ISSM indica que os capitais próprios apresentaram um crescimento de 11,9% comparativamente a igual período de 2017. Por seu turno, ativo e passivo reduziram-se cerca de 10,2% e 20,1%, respetivamente.

Evolução da estrutura patrimonial (2014-2018): reforço de capitais

Fonte: ISSM, Relatório anual 2018

Em 2018, as seguradoras constituíram provisões técnicas num total de 11.263,6 milhões de meticais (cerca de 168,5 milhões de euros), revelando uma redução de 24%, comparativamente a igual período de 2017, sendo 8.784,1 milhões de meticais (130,8 milhões de euros) para os ramos não Vida (maioritariamente em provisões para sinistros) e 2.479,5 milhões de meticais (41,1 milhões de euros) do ramo Vida (sobretudo em provisões matemáticas do ramo Vida).

Não obstante o prejuízo na conta técnica Vida, o resultado da conta técnica situou-se em 1.484,7 milhões de meticais (cerca de 22,2 milhões de euros), tendo aumentado cerca de 1.232,5 milhões de meticais, face a 2017. Assim, globalmente, o setor apresentou um resultado líquido do exercício situado em 1.479,9 milhões de meticais (22,13 milhões de euros) em 2018, contra 259,8 milhões de meticais (cerca de 3,89 milhões de euros) de prejuízo verificados em 2017, detalha o relatório.

Na vertente operacional e de distribuição, a generalidade dos players está mais ou menos presente nos segmentos retail ou corporate, nos diversos ramos de seguros, nos resseguros e gestão de ativos, atuando com distribuição direta e também recorrendo a redes de balcões dos bancos parceiros, agentes de seguro (mediadores e corretores).

A dez maiores corretoras distribuem cerca de 95% do total de seguros processados pelo canal de mediação. Este canal – bancos; corretores e agentes comerciais – processou 552,3 mil apólices de seguro em 2018 (49% do total global do mercado), indica a informação do ISSM. Cerca de 381 mil foram contratadas através de balcões bancários e 154 mil foram despachadas por corretores. Quanto ao volume de prémios, as corretoras levam vantagem sobre os bancos (4,9 mil milhões contra 1,37 mil milhões de meticais).

Classificação de empresas por ramo: Emose à frente em quase tudo

Fonte: ISSM. Relatório anual 2018


O setor segurador evidencia presença sul-africana forte e consolidada
(Sanlam; Global Alliance, do grupo ABSA, e a Hollard Insurance) e integra ainda as referidas subsidiárias de grupos portugueses: Tranquilidade (Seguradora Unidas, atualmente detida pela Generali); Fidelidade (Fosun/Longrun); SIM-Seguradora Internacional de Moçambique (participada do Millennium_bcp através do Millennium BIM). O leque de operadores inclui ainda a ICE (International Commercial & Engineering), cuja detentora está sediada na Ilha de Man e estende os negócios por Londres e Joanesburgo. Em julho de 2018, a Allilanz Care (Allianz Partners) anunciou uma parceria com a ICE Insurance para o mercado moçambicano de seguro saúde.

Mercado cresce 19,4% em 2019

Em termos acumulados, o valor bruto prémios aumentou 19,4% face ao período de janeiro a setembro de 2018, totalizando 11,9 mil milhões de novos meticais (cerca de 161 milhões de euros).

Ainda em termos acumulados (janeiro a setembro de 2019), os custos com sinistros elevaram-se 6 615 milhões de novos meticais (perto de 89 milhões de euros), agravando-se 135% face aos primeiros nove meses de 2018, refletindo sobretudo incrementos nos segmentos de incêndio, acidentes pessoais e apólices de automóvel, com variações sequenciais mais acentuadas entre os dois primeiros trimestres de 2019. Portanto, o rácio combinado situou-se em torno de 55% para o período alargado (janeiro a setembro).

Na análise trimestral (julho a setembro e em comparação com igual trimestre de 2018), o montante bruto de prémios (equivalente a cerca de 51 milhões de euros), evidencia crescimento de 26,4%, sendo que os seguros não Vida, pesando 80% do total de prémios emitidos, representaram perto de 42,5 milhões de euros, ou mais 23% do que um ano antes. No ramo Vida, os prémios somaram cerca 8,4 milhões de euros, mais 45,7% em variação homóloga, revelam os dados do Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique.

Prémios em três trimestres de 2019:

Fonte: ISSM. Relatório 3T 2019.


O volume total de prémios processados por canais de mediação (banca, corretores e agentes) continuou a corresponder a cerca de 50% da produção total
, progredindo 9,4% em valor face a idêntico período de 2018. No final de setembro de 2019, cerca de 75% da atividade de mediação passava pela Aris (34,5% do total), AON (14,0%), Poliseguros (10,1%), Skydoo (7,9%) e Prima (7,8%).

Num cenário em que as cinco maiores seguradoras controlam cerca de dois terços do mercado, o ranking seguia encabeçado pela Empresa Moçambicana de Seguros (Emose), com 28% de quota (mais 8,1 pontos percentuais em comparação com um ano antes), logo seguida da sul-africana Hollard com 10,3% de quota (- 4,7 pp face à parte que detinha um ano antes).

Entre as seguradoras portuguesas consolidadas pelas respetivas matrizes europeias, a Fidelidade (líder em Portugal) mantém a posição que trazia do final de 2018, ocupando o 8º lugar no negócio não Vida (3,2% de quota, contra 3,7% um ano antes), enquanto a filial Vida é relegada para o último posto (21ª com um décimo de ponto percentual em quota). Ligeiramente melhor do que a Fidelidade Vida, a Tranquilidade Vida (20ª na tabela) respondia por uns residuais 0,3% do mercado, ocupando o 16º lugar em Não Vida com 1,3% do total do mercado local, indica a informação no final do terceiro trimestre de 2019.

Quotas de mercado em três trimestres de 2019

Fonte: ISSM. Relatório 3T 2019

As duas seguradoras que operam sob a marca Tranquilidade (vida e seguros gerais) são consolidadas pela Seguradoras Unidas, grupo que integrou, por fusão (em 2016), as seguradoras Tranquilidade, Açoreana e Logo. Embora mantendo as marcas comerciais, estas entidades foram formalmente extintas em Portugal, passando a assumir a designação Seguradoras Unidas. A Fidelidade e a SIM também mantêm as respetivas marcas em Moçambique.

Neste enquadramento, no ano completo de 2018, o mercado moçambicano atingiu uma produção estimada em 13,15 mil milhões de meticais (cerca de 196,7 milhões de euros em prémios brutos emitidos), correspondendo a uma taxa de penetração dos seguros que, em 2018, se aproxima dos 1,5% (pouco acima do nível assumido em Angola). Em 2017, este indicador rondava 6% em Portugal e os 3,5% no Brasil.

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