Pandemia tem “impacto grande” nas receitas. Altice vê com “bons olhos” reabertura da economia
Alexandre Fonseca, CEO da Altice Portugal, diz que as telecomunicações não são imunes à crise da pandemia e vê com "muito bons olhos" a abertura "gradual da economia".
O presidente executivo da Altice Portugal afirmou esta quinta-feira à Lusa que as telecomunicações não são imunes à crise da pandemia, tendo um “impacto grande” nas receitas da operadora, já que o aumento de tráfego não se reflete no negócio.
Alexandre Fonseca faz um balanço positivo da capacidade de resposta no grupo no período de estado de emergência, embora esteja “preocupado com o impacto que todo este confinamento e todas estas questões trouxeram também para o setor das telecomunicações”.
As telecomunicações não são um setor imune à crise e a empresa, que já investiu “mais de uma dezena de milhões de euros” no reforço das redes neste período, prevê um “impacto grande” nas receitas.
“Desde o início que a nossa preocupação foi sempre muito direcionada para os nossos colaboradores, temos conseguido manter a operação em funcionamento com cerca de 5.500 a 6.000 pessoas diariamente em teletrabalho”, começou por dizer o presidente executivo da Altice Portugal, referindo tratar-se de “uma operação gigantesca”.
Disse também que o número de colaboradores afetados diretamente pelo Covid-19 é “reduzido, o que demonstra que as medidas de confinamento foram tomadas em tempo e foram respeitadas”.
Temos conseguido manter a operação em funcionamento com cerca de 5.500 a 6.000 pessoas diariamente em teletrabalho.
A Altice Portugal tem “mais de 1.000 pessoas” que trabalham no terreno diariamente, desde técnicos que vão a casa dos clientes, aos que tratam de avarias na rede, como ainda mais de 60 lojas abertas no país, ou seja, das cerca de mais de 230, “três quartos das lojas estão fechadas”.
Ora, isso “tem um impacto direto no nosso negócio, temos obviamente um conjunto de canais presenciais, comerciais, que foram também desativados desde a primeira hora, também nesse sentido temos um impacto significativo”, afirmou.
Apesar dos crescimentos de tráfego que a Altice tem registado nas suas redes, estes “não se refletem de forma nenhuma em negócio“, prosseguiu.
Isto “porque o crescimento dos tráfegos que temos registado, essencialmente na rede fixa, onde temos crescimento quer na voz, quer nos dados, na casa dos 60% face aos consumos em período normal, e na televisão cerca de 30% de crescimento adicional, não têm qualquer impacto de custo para o cliente”, explicou.
“Para nós tem sido não só um impacto grande a perda de receitas por aqueles canais que referi estarem fechados, como também os investimentos significativos de mais de uma dezena de milhões de euros que já gastámos em reforço da redes que suportam o trabalho das pessoas em casa”, o qual “não tem qualquer reflexo em receitas adicionais”, disse.
Alexandre Fonseca rejeitou a ideia de que o setor das telecomunicações passe “ao lado do impacto” da pandemia.
Sublinhou que “não há registo de nenhuma falha, quer seja temporária, ou de grande escala nos serviços da Altice, neste mês e meio” de confinamento, apesar do aumento do consumo de telecomunicações.
“É com muita satisfação que vemos que temos sido capazes de absorver estes crescimentos”, afirmou o gestor.
Tal só é possível devido aos investimentos realizados pelo grupo “ao longo dos últimos dois anos e meio em fibra ótica”, o que “permite que as pessoas estejam a trabalhar, ter aulas, fazer videoconferências a partir de casa”, argumentou.
“Este investimento privado da Altice Portugal permitiu que Portugal tenha sido um dos países da Europa que talvez mais facilmente se tenha adaptado a esta questão do teletrabalho e do confinamento”, considerou.
Alexandre Fonseca avançou que já deu conta ao Governo, e inclusivamente em carta ao primeiro-ministro, de que as telecomunicações, embora não sejam tão afetadas como a aviação ou turismo, por exemplo, “também são um setor que foi fortemente afetado” pelo impacto da pandemia.
O gestor destacou os vários projetos em que a Altice tem vindo a colaborar – durante o período de estado de emergência – com vários setores de atividade, desde a educação, saúde, IPSS, entre outros.
Hoje, Altice Portugal, Huawei Portugal e GNR juntaram-se para combater o isolamento social, nomeadamente junto dos mais idosos, no âmbito do programa 65 Longe+Perto, da Guarda Nacional Republicana (GNR).
Relativamente ao investimento em fibra ótica – que conta com 5,1 milhões de lares servidos com aquela tecnologia –, Alexandre Fonseca salientou que tal mostra que “era um investimento muito importante para o país”, na sequência desta pandemia.
“Claro que fizemos [o investimento] enquanto empresa privada, tendo por objetivo vender os nossos serviços. Agora, sempre dissemos que este investimento também se revestia de alguma componente de serviço público e agora está na altura de se reconhecer isso”, sublinhou.
É importante que seja reconhecido pelo Estado, por um lado, o serviço público que foi feito pela Altice, na construção desta rede de fibra ótica, mas que depois seja acompanhado ou então estimulado e incentivado esse investimento privado para que chegue efetivamente a 100%.
“É importante reconhecer que o investimento 100% privado da Altice tem hoje um impacto público positivo“, acrescentou.
“Acredito profundamente que o sucesso das regras de confinamento que os portugueses respeitaram e o sucesso das regras saúde pública também derivam deste investimento em fibra ótica. Agora chega o momento de nós percebermos que este investimento privado – que chega hoje a mais de 85% das casas portuguesas – é importante”, referiu o gestor.
A Altice Portugal pretende alcançar os 5,5 milhões de lares com fibra ótica.
“É importante que seja reconhecido pelo Estado, por um lado, o serviço público que foi feito pela Altice, na construção desta rede de fibra ótica, mas que depois seja acompanhado ou então estimulado e incentivado esse investimento privado para que chegue efetivamente a 100%”, concluiu o gestor.
“Vejo com muito bons olhos abertura gradual da economia”
Alexandre Fonseca, diz ver com “muito bons olhos” a abertura “gradual da economia”, salientando que o grupo já está a trabalhar “num plano de retoma”.
“Vejo com muito bons olhos a abertura gradual da economia real, é fundamental que seja feita e com medidas que possam garantir que a retoma da atividade não põe em causa o trabalho que foi feito de ponto vista de saúde pública”, afirmou o gestor, quando questionado pela Lusa sobre o tema.
Para Alexandre Fonseca, “o início do regresso à atividade que está aparentemente previsto para o início de maio é extremamente importante”, realçando que as decisões tomadas “conseguiram conter o pico” da pandemia de Covid-19 que se receava.
Já começámos há cerca de duas semanas a trabalhar num plano de retoma.
“Sabíamos que depois da garantia da saúde pública, a vertente económica era fundamental para não entrarmos numa recessão profunda que tem efeitos gravíssimos na vida das pessoas. Esta retoma, além de necessária, deve ser feita em áreas que permitam que esta recessão que vamos ter seja o mais curta e menos profunda possível”, defendeu, dando como exemplo o comércio de rua e atividades relacionadas com o turismo.
Mas, alertou, “é importante que sejam ditadas as regras” para que todos possam garantir o seu cumprimento.
“Já começámos há cerca de duas semanas a trabalhar num plano de retoma”, avançou, salientando que assim que for dada indicação para tal seja possível o regresso de “alguma atividade” nos escritórios da empresa.
“Iremos fazer gradualmente”, disse, apontando que alguns dos “ensinamentos” deste período de confinamento poderão passar a integrar a organização da empresa, como por exemplo, semanas de quatro dias no escritório e um dia em teletrabalho.
Questionado sobre a entrega no parlamento da proposta da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) para reforço da proteção dos utilizadores de comunicações eletrónicas, Alexandre Fonseca escusou-se a fazer comentários.
“No dia 20 de março, muito antes de qualquer comentário da Anacom, os CEO [presidentes executivos] dos três operadores, sob a égide da Apritel [associação do setor]” informaram o Governo que não iriam promover a desligamentos de serviços a clientes que não fossem capazes de pagar neste período de crise, “antes do decreto-lei do Governo”, apontou.
Além disso “desde a primeira metade de março” que a Altice tem “estado em permanente contacto com o Governo” em grupos de trabalho, que “têm sido eficazes”, salientou.
“Temos mostrado uma total colaboração e chegado a consensos entre Governo e operadores”, rematou.
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