Os efeitos da pandemia sobre o trabalho

Empresas a fechar, trabalhadores a perderem o emprego, e degradação das perspetivas. Estes são os "Números da crise" que permitem medir os efeitos da pandemia na vida dos trabalhadores portugueses.

A celebração do 1.º de Maio deste ano ocorre numa situação extraordinária devido aos constrangimentos de mobilidade impostos pela pandemia. Mas os efeitos da pandemia já se fazem sentir de uma forma muito mais dura na vida dos trabalhadores, com perda de empregos, reticências sobre a viabilidade futura das empresa, mas também sobre o nível de confiança que depositam no futuro. Como forma de se assinalar o Dia do Trabalhadores, a Pordata [Fundação Francisco Manuel dos Santos] reuniu alguns dados estatísticos que permitem avaliar o impacto da pandemia a estes níveis. Fique a par de alguns dos principais dados da última semana. E consulte aqui todos os indicadores relevantes, e comparativos, a partir de março.

Situação das empresas degrada-se. Ainda mais na restauração e alojamento

  • O último inquérito semanal às empresas, do Instituto Nacional de Estatística e do Banco de Portugal, revela que 16% das empresas fechou temporariamente e 1% definitivamente. Em todos os setores, mais de 80% dos estabelecimentos mantêm-se em funcionamento (mesmo que parcialmente). Mas a realidade no setor da restauração e alojamento a realidade é mais dura. Neste setor, apenas 41% das empresas se encontram em funcionamento. Os encerramentos definitivos são ainda mais extensos: 5% das empresas deste setor encerraram em definitivo.
  • Mesmo as empresas que continuam a operar enfrentam um futuro desafiante. Nas circunstâncias atuais, e na ausência de medidas adicionais de apoio à liquidez, três em cada dez empresas não poderá mesmo permanecer mais de dois meses em atividade. Em risco de sobrevivência, estão sobretudo as micro e pequenas empresas. O setor do alojamento e restauração, volta a ser o mais exposto a essa realidade: 29% das empresas diz não aguentar mais dois meses face ao quadro atual, sendo que 16% admite que nem sequer será capaz de manter-se mais um mês.
  • Com empresas a funcionarem com restrições, o número de trabalhadores em atividade também é menor. Na semana terminada a 24 de abril, 56% das empresas responderam que a pandemia está a refletir-se numa redução do número de pessoas efetivamente a trabalhar. Mais de 3 em cada 4 das médias e grandes empresas reportam a redução de pessoal. Por setores, destaca-se este impacto em 77% das empresas da área de alojamento e restauração.

Desemprego acelera. Mas parte de níveis baixos

  • Os efeitos das pandemia já se fizeram sentir nos números do emprego de março, mês em que foi reportado o primeiro caso de contágio em Portugal e determinado o estado de emergência. Naquele mês estavam registados, no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), cerca de 344 mil desempregados, mais 3% do que no mesmo mês de 2019. Comparativamente ao ano anterior, desde janeiro de 2019 que não havia tanto desemprego. Contudo, desde 2007, e comparando os períodos homólogos (março), o valor registado é dos mais baixos: em março de 2013, o número de desempregados inscritos no IEFP foi mais do dobro, atingindo cerca de 734 mil pessoas.
  • O número de novos desempregados inscritos no mês de março de 2020 atingiu os 53 mil. Trata-se de um aumento de 34% face a março de 2019. Comparativamente ao período homólogo, desde março de 2016 que não havia tantos novos desempregados inscritos nos centros de emprego.
  • O aumento do desemprego registado no país, entre março de 2019 e março de 2020, foi mais notório nos trabalhadores do sexo masculino (+3,7%), com ensino secundário (+11,8%), à procura de novo emprego (+4,5%) e dos inscritos há menos de um ano nos centros de emprego (+12,4%), indicam as estatísticas mais recentes. Os dados disponíveis para o continente revelam ainda o maior crescimento do desemprego no setor dos serviços (+5,9%). O aumento do número de desempregados verifica-se, sobretudo, nas atividades imobiliárias, administrativas e serviços de apoio (+7.626) e de alojamento, restauração e similares (+4.967). Entre as profissões mais afetadas, estão os trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores (+3.836) e os trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices (+3.112).

Pessimismo é cada vez maior face ao emprego

  • Os portugueses estão cada vez mais pessimistas quanto à evolução do desemprego. O saldo de respostas extremas ao inquérito aos consumidores do INE mostra que a diferença entre os que acham que o desemprego vai aumentar muito e os que acham que o desemprego vai diminuir muito nos próximos 12 meses nunca se tinha degradado tanto como de março para abril de 2020. É preciso recuar a fevereiro de 2009 para observar expectativas mais negativas quanto ao desemprego.

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