Vinho verde com quebras até 40%. Porque não destilar para produzir álcool sanitário?
O setor do vinho verde não escapou ao Covid-19. As vendas diminuíram e os custos são os mesmos. A exportação sofreu quebras, mas são os pequenos produtores nacionais os mais afetados.
O Covid-19 está a afetar brutalmente vários setores e a indústria do vinho verde não é exceção. Com o país confinado, a restauração de portas fechadas e eventos cancelados, não se avizinham tempos fáceis para o setor. Só no mês de abril, as vendas de vinho verde sofreram uma quebra entre 30 a 40%.
“2020 vai ser um ano mau, não tenho dúvidas que será o ano mais difícil da nossa geração. Abril foi um mês extremamente penalizador, as vendas baixaram cerca de 30% a 40%”, alerta o presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), Manuel Pinheiro. O representante dos comerciantes e engarrafadores de Vinhos Verdes e administrador da Quinta da Lixa, Óscar Meireles, corrobora a ideia do presidente e destaca que “vai ser muito difícil compensar as perdas”.
O fecho da restauração e pequeno comércio provocou fortes prejuízos na venda de vinho verde e são os pequenos produtores os mais prejudicados. Só na região do Minho, o Vinho Verde é produzido por 15 mil agricultores em 48 concelhos. “Os pequenos produtores estão 100% parados porque dependem da restauração”, explica Armando Fontainhas, vogal da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes e presidente da Adega Cooperativa de Monção.
Em relação à exportação, na Adega de Monção, a quebra é menos significativa. “Temos quebras globais no setor entre 10% a 20%, no mercado nacional temos uma quebra maior, tendo em conta a forte presença no canal Horeca. Este mês já temos uma quebra superior a 50% em relação ao período homólogo”, explica ao ECO, Armando Fontainhas. Óscar Meireles concorda e destaca que “a maior perda é no país, porque quem está na exportação as coisas estão a funcionar”.
Destilação pode ser uma solução para o setor
As vendas caíram, mas os custos mantêm-se. Na agricultura não é possível fazer uma pausa. As videiras continuam a crescer, a colheita está à porta e os trabalhadores são indispensáveis. “Uma empresa que produza uvas não pode colocar os seus trabalhadores em lay-off, as plantas precisam de cuidados”, refere Armando Fontainhas.
No mercado nacional, a região do vinho verde é a segunda com maior dimensão e só o ano passado foram exportados cerca de 63 milhões de euros em vinho verde para mais de 100 países. Perante as quebras nas vendas e a acumulação de stocks, o processo de destilação é uma medida que está em cima da mesa para o setor. O objetivo é adequar a oferta à procura. Os intervenientes concordam com esta medida, mas defendem que deve ser apoiada pela Comissão Europeia.
“Precisámos retirar a oferta de forma a ajudar a suportar os preços, mas pretendemos que seja Bruxelas a financiar essa mesma destilação de forma a retirar a vinho do mercado e evitar que na próxima vindima haja vinho a mais, porque isso vai levar a uma desvalorização das uvas dos agricultores”, alerta Manuel Pinheiro.
A destilação para produzir álcool sanitário é uma forte possibilidade para alguns produtores. “O setor precisa de uma destilação que compre o vinho que está parado e o transforme em álcool para ser usado na saúde e retire esta pressão do mercado”, defende o presidente da Comissão do Vinhos Verdes.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Vinho verde com quebras até 40%. Porque não destilar para produzir álcool sanitário?
{{ noCommentsLabel }}