Tumultos nos EUA impactam seguros. De Rodney King a George Floyd

  • António Ferreira
  • 4 Junho 2020

Os distúrbios e atos de vandalismo em diversas cidades dos EUA são eventos que, não fazendo esquecer a brutalidade policial contra a revolta civil, representam custos para as seguradoras.

Os tumultos da última semana e meia nos EUA ligam-se com a morte de George Floyd – um cidadão negro que, depois de ser detido por alegada tentativa de passar uma nota falsa de 20 dólares numa loja, foi estrangulado por um agente – quando já estava sob custódia de quatro polícias de Minneapolis (Minnesota, EUA), a 26 de maio.

A reação popular começou por manifestações pacíficas que foram subindo o tom e, face à pressão policial, rapidamente degenerou em distúrbios e motins nas ruas, envolvendo pilhagens de estabelecimentos e fogo posto em edifícios e automóveis.

Loretta Worters, responsável de comunicação do Instituto de Informação de Seguros dos EUA considera confortante “saber que os danos materiais causados por motins, tumultos civis e vandalismo estão cobertos pelas apólices de seguro normais”, refere o site PropertyCasualty360.

Perdas estão cobertas nos seguros automóvel, habitação e propriedade

Incluindo o último fim de semana de maio, as manifestações que se estenderam a dezenas de cidades (incluindo Washigton, Nova Iorque, Chicago, Filadélfia e Los Angeles), deram lugar a atos de vandalismo e destruição de propriedades privadas e públicas (edifícios e carros queimados, vidros partidos, equipamento urbano destruído).

Até 1 de Junho, pelo menos 40 cidades em 23 estados tinham imposto o recolher obrigatório, e os tumultos resultaram em pelo menos seis mortes, contabiliza o instituto. A Guarda Nacional (uma força paramilitar) foi colocada em prontidão em 15 estados e na capital (Washington D.C.). Até 4 de junho mais de nove mil pessoas foram detidas pela polícia.

Na linha de eventos semelhantes que marcam a história política e social dos EUA, parte dos custos com reparações e perda de bens é geralmente assumida pelas seguradoras. De acordo com o Instituto de Informação dos Seguros (III), os sinistros provocados por desordens públicas, envolvendo motins e atos de vandalismo estão em geral cobertos nas apólices do ramo automóvel, habitação e propriedade.

Citando uma unidade de análise da Verisk Analytics, o III afirma que os tumultos em Minneapolis podem ser classificados como catástrofe e alerta para a possibilidade de as perdas seguradas aumentarem à medida que os tumultos se propaguem a outros estados.

Não dispondo ainda de estimativas dos danos da desordem pública originada pelos distúrbios gerados pela reação ao homicídio de Floyd, a III lista as “desordens civis” que maiores danos segurados causaram nas últimas décadas. A mais cara antes de 2020 ocorreu de 29 de abril a 4 de maio de 1992, em Los Angeles (Califórnia) depois de um tribunal de júri ter absolvido os agentes do departamento local de polícia de uso excessivo da força na detenção e espancamento de Rodney King.

De acordo com a Property Claim Services, unidade da Verisk, os distúrbios resultantes dos protestos nas ruas causaram perdas seguradas no valor de 775 milhões de dólares, ou cerca de 1,4 mil milhões de dólares ao valor atualizado da moeda em 2020, sendo o mais oneroso entre as desordens civis consideradas.

Danos patrimoniais justificam mais brutalidade policial

Estas foram as desordens civis sinalizadas como tendo o custo mais elevado para a indústria seguradora. Porém, o problema da brutalidade policial sobre os negros vai muito além da questão patrimonial, cuja proteção é agora utilizada para justificar ação policial. A questão fundamental radica nos direitos cívicos que há séculos ensombram a história dos Estados Unidos, sustentam políticos e defensores e direitos cívicos.

“Utilizando os danos materiais como cobertura, a polícia dos Estados Unidos recorre a uma brutalidade chocante e indiscriminada na sequência da revolta”, observa Rebecca Solnit, colunista norte-americana no jornal britânico The Guardian.

A palavra violência vai ser muito usada para descrever os acontecimentos” noticiados em dezenas de cidades dos EUA nos dias seguintes ao episódio que tirou a vida a George Floyd. “Por isso, será importante clarificar quem é violento e o que é a violência. A destruição de propriedades e os danos causados a seres humanos são ações profundamente diferentes,” argumenta a escritora e ativista ambiental e de direitos humanos.

Nos EUA, centenas de pessoas morrem por ano vítimas de violência policial, reporta a imprensa local. Além dos casos exemplificados, a lista de homicídios que originaram protestos e revoltas nos EUA é longa e muitos casos não chegam sequer a ocupar agenda mediática.

Entretanto, mais de uma semana depois do crime que indigna cidadãos de muitos países, três dos quatro agentes envolvidos na detenção de Floyd foram finalmente detidos, acusados de cumplicidade com o autor do crime (já em prisão), acusado agora de homicídio em 2º grau.

Por estes dias, outros jornais como o Washington Post e o New York Times dedicam páginas a questões como racismo, linchamento sistemático de negros e impunidade dos agentes policiais. Por seu lado, a NBC recorda a razão por que Chicago é uma das cidades com histórico mais problemático ao nível da violência policial contra os negros.

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