Reino Unido apela à UE para ser mais realista nas negociações do Brexit

  • Lusa
  • 8 Setembro 2020

“Precisamos de fazer progressos esta semana, se quisermos chegar a um acordo a tempo”, disse o negociador britânico, David Frost, a Michel Barnier.

O Reino Unido apelou à União Europeia (UE) para ser mais “realista” antes do reinício das negociações de terça-feira sobre a sua relação pós-Brexit, quando aumenta a tensão face à aproximação do fim do período de transição.

Entre Londres e Bruxelas tem crescido a tensão à medida que se aproxima o fim do período de transição, durante o qual as regras da UE se aplicam em solo britânico, até final de dezembro, enquanto as negociações para alcançar um acordo de comércio livre permanecem num impasse.

“A UE precisa de ser mais realista sobre o nosso estatuto de país independente”, declarou o negociador britânico David Frost, acrescentando: “Já não podemos dar-nos ao luxo de repetir as mesmas coisas”, após “seis meses de diálogo”.

O Reino Unido deixou formalmente a UE a 31 de janeiro, quase quatro anos após um referendo histórico que marcou o fim de quase 50 anos de adesão à UE. Mas continua a ser regido pelas regras da UE até ao final de dezembro, enquanto ambas as partes tentam concluir um acordo de comércio livre.

Com as negociações sobre a pesca e a concorrência leal, entre outras questões, os dias estão contados, uma vez que Bruxelas falou da necessidade de um acordo até ao final de outubro para permitir uma ratificação europeia atempada.

Na sua declaração, o negociador britânico disse que queria enviar uma “mensagem clara” na terça-feira ao seu homólogo europeu Michel Barnier: “Precisamos de fazer progressos esta semana, se quisermos chegar a um acordo a tempo”.

Se não for encontrado um compromisso no “tempo muito limitado de que dispomos, então teremos condições comerciais semelhantes às que a UE tem com a Austrália”, disse Frost, avisando que o Reino Unido estava “a acelerar os seus preparativos” para o fazer “até ao final do ano”.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já tinha ameaçado bater com a porta nas negociações, reforçando os receios de um “não acordo” potencialmente destrutivo para a economia.

“A UE tem sido muito clara quanto ao calendário. Eu também. Tem de haver um acordo com os nossos amigos europeus até o Conselho Europeu de 15 de outubro, para que entre em vigor até ao final do ano”, salientou o líder conservador.

Caso contrário, “temos de o aceitar e seguir em frente”, advertiu Boris, assegurando que o fracasso em chegar a um acordo seria “um bom resultado” permitindo ao Reino Unido “prosperar” com “a liberdade de fazer acordos comerciais com todos os países do mundo”.

Já tempestuoso, o ambiente na véspera do reinício das conversações ficou mais sombrio quando o “Financial Times” revelou que o Governo britânico planeava introduzir legislação na quarta-feira para inverter partes do acordo que estabelecia um quadro para a saída da UE a 31 de janeiro.

A legislação visa assegurar que não haja fronteiras físicas entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, um membro da UE, e evitar um ressurgimento de tensões na região, que foi ensanguentada por três décadas de “problemas”.

O Governo britânico confirmou que queria fazer alterações “limitadas” ao protocolo para o “clarificar”, a fim de “eliminar qualquer ambiguidade” e evitar “consequências imprevistas” do texto para o processo de paz ou para o mercado interno britânico.

Mas os europeus reagiram fortemente, chamando Londres à ordem nos seus compromissos. “Tudo o que foi assinado no passado tem de ser respeitado”, insistiu o negociador da UE Michel Barnier, quando a porta-voz diplomática francesa Agnès von der Mühll alertou que, se a “confiança” fosse quebrada, “as negociações sobre a relação futura seriam afetadas”.

Apesar destas diferenças, os britânicos não abandonaram a ideia de chegar a um compromisso. “Aguardo com expectativa as negociações cara-a-cara desta semana, durante as quais espero que possam ser feitos progressos”, disse David Frost.

Sem um acordo, as únicas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), com as suas tarifas elevadas e controlos aduaneiros extensivos, seriam aplicáveis, causando custos adicionais para as empresas e podendo a perturbar os fornecimentos.

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