PS ganha eleições nos Açores sem maioria absoluta

  • ECO e Lusa
  • 25 Outubro 2020

O PS voltou a ganhar as eleições dos Açores, mas perdeu a maioria absoluta. POCP ficou de fora do Parlamento regional e Chega conseguiu eleger dois deputados.

O PS venceu este domingo as eleições regionais dos Açores, mas perdeu a maioria absoluta só tendo conseguido eleger 25 deputados do total de 57 parlamentares da Assembleia Legislativa Regional, ao obter 39,1% dos votos.

O presidente do PS/Açores, Vasco Cordeiro, definiu como “clara e inequívoca” a vitória do partido, mesmo reconhecendo um novo “quadro parlamentar desafiante” que resulta da perda da maioria absoluta socialista. “As eleições terminaram. O PS venceu estas eleições e, nos próximos tempos, começa esse trabalho de também ser esse garante de estabilidade, de segurança, para que os Açores e açorianos possam sair desta situação complexa em que vivemos derivada da situação da pandemia de covid-19”, disse.

O PS governa a região desde 1996, mas apenas nas eleições realizadas em 2000 obteve maioria absoluta, renovada nos escrutínios de 2004, 2008, 2012 e 2016. Para alcançar a maioria absoluta o PS teria que ter pelo menos 29 dos 57 deputados do parlamento açoriano.

O PSD, com 33,74% (35.091 votos), garantiu 21 mandatos, ficou em segundo lugar, seguido pelo CDS-PP com 5,51% (5.734 votos), que elegeu três deputados, além de um parlamentar em coligação com o PPM.

O presidente do PSD, Rui Rio, destacou “o resultado francamente positivo”, considerando que a perda da maioria absoluta do PS mostra “um notório desgaste do governo regional” socialista, tal como do executivo nacional. Rio comparou os números dos dois maiores partidos e referiu que o PS “perdeu 7,5% dos votos e perdeu cinco deputados regionais”, enquanto o “PSD subiu 3% e subiu dois deputados regionais”. “Há um notório desgaste do governo regional, tal como aqui, no continente, há um notório desgaste do Governo nacional, mas mesmo assim o resultado francamente positivo”, apontou.

Em reação aos resultados, o presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, defendeu que estes mostram que as notícias sobre a morte do partido foram “manifestamente exageradas” e representaram uma vitória da “direita moderada”. “Estão bem recordados que disse no Congresso de janeiro que à direita lidera o CDS e, no primeiro teste eleitoral, que muitos quiseram dizer que era o teste desta direção, o CDS provou que à direita lidera o CDS-PP”, afirmou, na sede nacional do partido, onde foi recebido em clima de festa, com muitas palmas.

O Chega, que concorreu pela primeira vez às regionais dos Açores, teve 5,06% (5.260 votos), elegeu dois deputados, tal como o BE, que alcançou 3,81% (3.962 votos). E o PPM obteve 2,34% (2.431 votos) e elegeu um deputado, além de um outro eleito em coligação com o CDS-PP.

A Iniciativa Liberal, que também concorreu pela primeira vez à Assembleia Legislativa dos Açores, conseguiu 1,93% (2.012 votos) e elegeu um deputado, assim como o PAN, que teve percentagem idêntica e apenas menos oito votos.

o PCP ficou de fora do Parlamento regional, porque não conseguiu eleger o único deputado que tinha, segundo os resultados divulgados pela Direção Regional de Organização e Administração Pública (DROAP). Nas anteriores regionais, em 2016, a CDU (coligação PCP/PEV) obteve 2,6%, conseguindo eleger um deputado regional, João Paulo Corvelo, pelo círculo das Flores.

O secretário-geral do PCP lamentou o resultado “particularmente negativo” do partido, apontando que a perda de maioria absoluta do PS traduz “descontentamento crescente”. Numa declaração em formato vídeo enviada à imprensa, o secretário-geral dos comunistas, Jerónimo de Sousa, considerou que o resultado da CDU nas eleições regionais dos Açores “não traduz quer a influência social e política da CDU, quer o reconhecimento da sua intervenção na vida política açoriana”.

Estas eleições ficaram marcadas pela segunda maior abstenção de sempre — 54,58%, ainda assim inferior à taxa de abstenção verificada há quatro anos, segundo dados oficiais. De acordo com a Direção Regional de Organização e Administração Pública (DROAP), até ao encerramento das urnas na Região Autónoma, às 19:00 (20:00 em Lisboa), votaram 124.993 eleitores, 54,58% do total. Em 2016, a abstenção nas eleições regionais açorianas atingiu 59,16%, um recorde absoluto nestes sufrágios, superando os 53,34% de abstenção em 2008, que era até então o valor mais elevado.

Uma coligação à direita?

Perante os resultados das eleições seria possível formar nos Açores uma espécie de geringonça da direita que teria de incluir CDS, Chega, Iniciativa Liberal e PPM, já que atingem os 29 deputados, o necessário para uma maioria absoluta.

O presidente do PSD/Açores anunciou que o partido tem “total disponibilidade para o diálogo” e para a “concertação”. “Do ponto vista do quadro parlamentar que hoje existe, posso garantir-vos humildemente a minha total disponibilidade para o diálogo, para a concertação, e não haverá nenhuma declaração unilateral sem antes interpretarmos a vontade do povo”, declarou José Manuel Bolieiro. Questionado sobre uma possível coligação à direita para poder governar, José Manuel Bolieiro frisou que não se comove por “atitudes extremistas”. “Devo afirmar hoje, como sempre, que atitudes extremistas e populistas não me comovem, nem creio que interessam aos açorianos, mas também acho que os açorianos já deram provas, e os seus representantes, de que não são extremistas nem populistas”, afirmou.

Sobre este tema, o líder do CDS-PP/Açores, Artur Lima, reiterou que o partido só viabiliza compromissos eleitorais, mas sublinhou que não deixará a região numa situação de “ingovernabilidade” na próxima legislatura. “O CDS sempre disse que viabiliza os seus compromissos eleitorais e os compromissos com os açorianos. É isso que vamos viabilizar. O CDS é um partido responsável e não deixará os Açores numa situação de ingovernabilidade”, afirmou.

Mas o líder nacional do Chega rejeitou qualquer acordo de coligação que permita à direita governar os Açores, lembrando que foi o PSD que se afastou do seu partido. “Amanhã ao almoço, quando estiverem todos sentados a definir um acordo de coligação, eu sei que partido não vai lá estar. Esse partido é o Chega”, afirmou André Ventura, em reação aos resultados finais. “Temos valores e convicções. Ou aceitam ceder e juntar-se a nós nestas convicções ou não aceitamos vender-nos por lugares, nem por governabilidades, nem por chantagens, que é isso que os outros partidos estão a fazer”, acrescentou.

Bloco de Esquerda admite acordos pontuais com o PS

O Bloco de Esquerda (BE) saudou o “resultado extraordinário” do partido nas eleições regionais nos Açores e disse estar disposto para acordos pontuais e ajudar a “construir pontes” para uma maioria no Parlamento.

Em declarações aos jornalistas, na sede nacional do BE, em Lisboa, Pedro Filipe Soares, líder parlamentar e membro da direção do partido, afirmou que os bloquistas não vão apresentar uma moção de rejeição de um programa do Governo do PS, que perdeu a maioria absoluta, nem votarão ao lado da direita para chumbar uma moção desse tipo. “Sabemos que aos nossos votos têm de ser somados mais votos para garantir que esse caminho é feito, mas não nos compete a nós a construção desse caminho, compete ao PS como partido mais votado construir as pontes para esse caminho”, afirmou, numa referência implícita a acordos pontuais com os socialistas, “medida a medida, proposta a proposta, orçamento a orçamento”.

O dirigente bloquista defendeu que é preciso o PS “tirar as consequências devidas” dos resultados, ou seja, do “descontentamento”, que “decorreu das condições económicas e sociais dos açorianos e açorianas”. “Aprendendo com isso, o BE, medida a medida, proposta a proposta, orçamento a orçamento, iremos analisar”, afirmou, sublinhando que “tem de ser sempre com uma geometria parlamentar que alcance uma maioria”. “Não está só nas nossas mãos”, concluiu.

As legislativas dos Açores decorreram com 13 forças políticas candidatas aos 57 lugares da Assembleia Legislativa Regional: PS, PSD, CDS-PP, BE, CDU, PPM, Iniciativa Liberal, Livre, PAN, Chega, Aliança, MPT e PCTP/MRPP. Estavam inscritos para votar 228.999 eleitores.

No arquipélago, onde o PS governa há 24 anos, existe um círculo por cada uma das nove ilhas e um círculo de compensação, que reúne os votos não aproveitados para a eleição de parlamentares nos círculos de ilha.

(Notícia atualizada com os resultados finais e com as reações das diferentes partidos)

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