António Mexia sai da EDP. “É a decisão mais difícil da minha vida”

António Mexia decidiu comunicar já à EDP que não está disponível para integrar um novo mandato, assim como Manso Neto. Os dois gestores estão suspensos de funções desde julho por causa do caso EDP.

António Mexia comunicou esta segunda-feira à EDP a sua indisponibilidade para integrar os novos órgãos sociais da companhia num próximo mandato, que seria o sexto à frente da empresa. E fê-lo com uma carta dirigida a Luís Amado (presidente do Conselho de Supervisão) e a Luís Palha da Silva (presidente da assembleia geral), a que o ECO teve acesso. “Há decisões difíceis na vida e esta é, seguramente, a mais difícil da minha vida profissional, acima de tudo por resultar de um contexto de incompreensível injustiça“.

Nessa carta, “que poderá parecer longa mas que será sempre curta perante tudo aquilo que teria para dizer e partilhar“, diz Mexia, o gestor explica porque é que decidiu antecipar esta decisão. “Faço-o independentemente da decisão que vier a ser proferida pelo Tribunal de Relação de Lisboa no tocante ao recurso que foi interposto relativamente às medidas de coação aplicadas há quase seis meses atrás“. Foi no dia 6 de julho que o juiz Carlos Alexandre validou a suspensão de funções de António Mexia, presidente da EDP, e João Manso Neto, presidente da EDP Renováveis, no âmbito do caso das rendas da elétrica, que tinha sido proposta pelo Ministério Público. Entre as medidas de coação esteve ainda a proibição de contactar, por qualquer meio, com arguidos.

Caso, como se espera, a Relação de Lisboa venha a reverter as medidas de suspensão de funções terei como intenção, como já o demonstrei, contribuir para esta transição, que permite que a EDP desenvolva, sem sobressalto, todo o enorme potencial identificado e em plena execução, dando sequência ao trabalho feito até hoje e que é amplamente reconhecido pelo mercado“, escreve Mexia. Ou seja, o gestor (e Manso Neto) regressará à empresa até ao final do mandato caso o tribunal da relação venha a aceitar o seu recurso.

Como fica claro do comunicado da EDP à CMVM, os acionistas da companhia pediram ao presidente interino, Miguel Stilwell para “que lhes submetesse uma proposta relativa à composição do Conselho de Administração Executivo para o próximo mandato (2021-2023)”. E o gestor deverá assim transitar para presidente executivo efetivo, já a partir de janeiro.

O gestor assegura nesta carta que vai continuar a defender a inocência da EDP e de si próprio no caso que está em investigação, e que ficou conhecido como o caso das rendas excessivas. E o que vai fazer agora? “Quanto ao futuro, só poderei estar associado a desafios profissionais em novas áreas que tragam aquilo que temos sabido fazer: contributos importantes para um mundo mais sustentável do ponto de vista ambiental, económico, social e cultural. De uma coisa estou certo: nunca serão conflituantes com os interesses e projetos da EDP“, garante.

Nesta carta, Mexia faz questão de referir que EDP encontrou e a EDP que vai deixar: “Nestes anos transformámos a EDP num líder incontornável nas energias renováveis, com uma estratégia focada na transição energética, sem a qual teríamos sido conduzidos a uma total irrelevância estratégica. Garantimos uma presença global nos mercados mais competitivos do mundo, sendo hoje a EDP a maior multinacional de origem portuguesa com presença em 19 países, e sem a qual não teríamos a inquestionável pertinência que conquistámos“. E também não deixa de fazer a comparação com as outras empresas cotadas em Portugal. “Nos últimos quinze anos, a capitalização bolsista da EDP duplicou, tendo hoje o grupo as duas maiores empresas cotadas na bolsa de Lisboa, que representam em conjunto mais de metade do valor agregado deste índice“.

Mexia e Manso Neto indisponíveis. Stilwell com caminho aberto

Antes de conhecida a carta de Mexia aos órgãos sociais da EDP, a própria elétrica comunicou ao mercado o que tinha sido decidido. “A EDP recebeu uma carta do Presidente do Conselho de Administração Executivo (PCAE) suspenso de funções, Dr. António Mexia, e uma carta do membro do Conselho de Administração Executivo (CAE) suspenso de funções, Dr. João Manso Neto, informando da respetiva indisponibilidade para integrar qualquer lista candidata aos órgãos sociais da EDP para o próximo mandato (2021-2023)“. Na prática, os dois gestores decidiram clarificar a sua posição antes da data final de mandato e abrem caminho a uma assembleia geral mais rápida e à eleição de Miguel Stilwell como novo presidente executivo.

Aliás, como refere a EDP neste comunicado, os acionistas revelam que pediram a Stilwell para apresentar uma proposta de conselho de administração executivo da empresa para o próximo mandato. E mais. “Os acionistas signatários esperam, assim, dispor de condições para solicitar ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral da EDP que convoque uma Assembleia Geral Extraordinária a realizar em janeiro de 2021” para o mandato 2021-2023.

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