“Estamos a baixar custos em tudo o que há. Este é ‘o’ plano para a TAP”, diz Humberto Pedrosa

Plano enviado hoje a Bruxelas estima poupanças até 350 milhões de euros por ano. Acionista Humberto Pedrosa afirma ao ECO que se não houver reestruturação "será mau para todos".

A reestruturação da TAP será feita de cortes nos custos com salários, frota e rotas nos próximos anos. O plano, que tem de ser enviado ainda esta quinta-feira para aprovação da Comissão Europeia, é o possível e necessário para dar a volta à situação da empresa, segundo o acionista privado Humberto Pedrosa. Ao ECO, o empresário diz que despedimentos foram a última opção e mostra-se confiante quanto à aprovação de Bruxelas já que o plano “não está demasiado otimista”.

É o plano necessário para o reequilíbrio da companhia e para ser aprovado pela DGComp em Bruxelas“, diz Humberto Pedrosa, ao ECO. Após a saída de David Neeleman e do reforço da posição do Estado para 72,5%, o empresário é atualmente o único acionista privado na TAP. Conta que teve conhecimento do plano através da administração.

Até 2024, as necessidades da TAP deverão levar o Estado a injetar um total de 3 mil milhões de euros na empresa. Este apoio público está condicionado às medidas do plano, que, caso sejam aprovadas em Bruxelas, poderão gerar uma poupança até 350 milhões de euros, sabe o ECO.

“A TAP está numa situação em que precisa de reestruturação. É um sacrifício enorme, mas se não o fizermos será mau para todos”, sublinha Pedrosa. “Estamos a baixar custos em tudo o que há e deixámos [os cortes de custos com] os trabalhadores para o fim, mas temos de perceber que a TAP está com receitas na ordem dos 10% do que tinha e não consegue fazer face às despesas que tem”.

O acionista — que detém 22,5% do capital (os trabalhadores têm os restantes 5%) — considera que é ainda prematuro comentar dados do plano, mas as linhas gerais foram já dadas a conhecer a sindicatos e partidos. É, assim, já conhecido que a reestruturação, que é condição europeia para permitir as ajudas públicas à companhia, prevê a saída de duas mil pessoas e cortes salariais, bem como a redução de frota, rotas e contratos de leasing.

"É um sacrifício enorme, mas se não o fizermos será mau para todos. Temos de perceber que a TAP está com receitas na ordem dos 10% do que tinha e não consegue fazer face às despesas que tem.”

Humberto Pedrosa

Acionista da TAP

Caso a Comissão Europeia aprove o plano como está previsto, a empresa poderá cortar custos entre 250 milhões e 350 milhões de euros por ano, o que até 2025 poderá significar 1.750 milhões de euros. Parte dessa poupança é conseguida com a saída de trabalhadores através de rescisões por mútuo acordo, não renovação de contratos a prazo ou reformas antecipadas. No total, serão duas mil pessoas que acrescem aos 730 trabalhadores que saíram só nos primeiros seis meses da pandemia. A massa salarial será reduzida também através de cortes nas remunerações de quem fica.

Os sindicatos têm criticado a estratégia e acusam mesmo a empresa de despedir funcionários com salários mais elevados para, quando a procura recuperar, voltar a contratar a baixo custo. Questionado pelo ECO sobre as reivindicações dos trabalhadores, Humberto Pedrosa diz considerar “normal que os sindicatos lutem pelo que pretendem para os direitos dos seus sindicais”, mas defende que “o problema é que a TAP precisa de reestruturação e se não o fizermos será mau para os trabalhadores e para o país”.

Em simultâneo, a frota será também fonte de poupança. Após ter adiado a entrega de novas aeronaves junto da Airbus logo no início da pandemia, a TAP começou na segunda metade do ano a reduzir a frota. A empresa fechou o terceiro trimestre com 101 aviões, mas com acordos para vender oito aparelhos. Entre vendas e substituições, o plano prevê que a TAP ajuste a frota para 88 aviões. Só em 2020, a TAP prevê que as renegociações reduzam em cerca de 145 milhões de euros as saídas de caixa relacionadas com leasing operacional de aviões.

Após injeção até 3 mil milhões, Governo espera retorno em 2025

Apesar dos cortes de custos, a TAP vai precisar de novos financiamentos nos próximos quatro anos. Segundo avançou o ECO, o valor poderá chegar a 1,8 mil milhões de euros (em injeções de fundos públicos ou de garantias de Estado a novos empréstimos) que se somam ao cheque de 1,2 mil milhões de ajudas em 2020, colocando o total próximo de 3 mil milhões de euros.

No próximo ano, o apoio público estará próximo de mil milhões, com o Executivo a apontar para 470 milhões de euros além dos 500 milhões em garantias que já estavam previstos no Orçamento do Estado para 2021.

Depois disso, o Governo está a prever que os montantes diminuam gradualmente nos três anos seguintes: 442 milhões de euros em 2022, a que se seguem 319 milhões em 2023 e 327 milhões no ano seguinte. Estes dois últimos anos têm o desafio adicional de chegar ao fim a maturidade de duas linhas de obrigações da TAP, que aumentam as necessidades financeiras em mais de 500 milhões. Já em 2025, a expectativa do Governo e da TAP é que o negócio já tenha recuperado permitindo já o reembolso de 30 milhões de euros.

O acionista Humberto Pedrosa não avança ainda a tão longo prazo, mas diz esperar que o Executivo chegue a acordo com a Comissão Europeia condições favoráveis para o reembolso (em prestações) do primeiro cheque, impedindo que o empréstimo se transforme em capital. “A minha expectativa é que possa ser reembolsado. Se passar a capital será praticamente como se um empréstimo a fundo perdido. Aliás, reembolsar aliviaria muito a pressão de se chamar Novo Banco à TAP. Penso que seria bom para todos se se pudesse reembolsar“, acrescentou.

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