Perdas dos obrigacionistas da TAP nas mãos de Bruxelas

Secretário de Estado do Tesouro, Miguel Cruz, diz que é preciso "equilíbrio na distribuição de sacrifícios por todas as entidades que estão associadas à TAP".

A TAP vai ser reestruturada num processo que deverá começar a ser implementado ainda no primeiro trimestre do ano. Já se sabe que os trabalhadores serão particularmente afetados (com a saída de 3.000 pessoas e reduções salariais para quem fica), mas os obrigacionistas ainda não conhecem o seu destino. O Governo admite que eventuais impactos para os investidores na dívida da TAP ainda estão a ser estudados e serão negociados com Bruxelas.

O tema dos obrigacionistas é um tema sobre o qual ainda estamos a trabalhar e em relação ao qual a discussão com a Comissão Europeia tem uma utilidade grande“, disse o secretário de Estado do Tesouro, Miguel Cruz, na sexta-feira quando apresentou o plano de reestruturação da TAP em conjunto com o Ministro das Infraestruturas e da Habitação Pedro Nuno Santos.

O plano de reestruturação da TAP já entregue pelo Governo à Comissão Europeia na quinta-feira, ou seja na data limite para fazer, seis meses depois de Bruxelas ter aprovado o primeiro apoio público de 1,2 mil milhões de euros. Depois deste cheque — que está a servir para garantir a liquidez até final do ano –, a empresa ainda deverá precisar de mais 2 mil milhões de euros. A condição para esta ajuda é um duro plano de retoma, que inclui despedimentos e cortes na frota.

O objetivo da TAP é atingir o equilíbrio operacional em 2023 e gerar fundos a partir de 2025 para amortizar dívida. No entanto, em 2023 e 2024 a TAP tem de reembolsar as emissões de obrigações a investidores particulares e a institucionais, respetivamente 200 milhões e 375 milhões de euros, o que aumenta a pressão. Este será um ponto de negociação entre Bruxelas e Lisboa, sendo que o Governo diz que está ainda tudo em aberto. Mas Cruz deixou um aviso: “Obviamente que temos de ter uma cautela no plano de reestruturação que tem a ver com equilíbrio na distribuição de sacrifícios por todas as entidades que estão associadas à TAP“.

Lessors e fornecedores levam corte de 1,3 mil milhões

O secretário de Estado ressalvou ainda que, em matéria de dívida, “o mais relevante não são claramente os obrigacionistas, mas os leasings dos aviões”. Sobre este tema, “houve uma grande concentração no próprio plano muito significativa no tema dos leasings e na renegociação dos leasings e isso é importante para o período de implementação do plano”.

Antes do início da pandemia, a TAP tinha 1.126 milhões de euros de dívida líquida. Considerando contratos de leasing de aeronaves, este montante disparava para 3.300 milhões de euros. Em setembro, nas contas dos primeiros nove meses do ano, a TAP dizia que os pagamentos associados ao leasing operacional de aeronaves caíam 43%, quando comparados com igual período do ano passado, refletindo as negociações com lessors para diferimento de pagamentos e reduções de rendas.

Só em 2020, a previsão é que estas renegociações reduzam em quase 145 milhões de euros as saídas de caixa. Ao longo do período do plano espera-se que as negociações com lessors e fornecedores poderão gerar benefícios com frota na ordem de 1,3 mil milhões de euros, a que acrescem 200 a 225 milhões de euros ao ano pela renegociação com mais de mil fornecedores e otimizações.

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