Portugueses não vão perder rendimento disponível com esta crise, prevê o Banco de Portugal
As previsões do BdP apontam para que não haja uma perda de rendimento disponível dos portugueses, em termos agregados, este ano e nos próximos. Mas tal não significa que todos escapam à crise.
As previsões do Banco de Portugal para o período de 2020 a 2023 apontam para uma resiliência do rendimento disponível dos portugueses, em termos agregados. O boletim económico de dezembro divulgado esta segunda-feira prevê uma manutenção do rendimento disponível, apesar da crise pandémica. Contudo, haverá franjas da população afetadas dado que o impacto é heterogéneo.
“O impacto no rendimento das famílias em 2020 foi amortecido pelas medidas governamentais, incluindo as moratórias ao crédito“, justifica o banco central no boletim económico, prevendo uma manutenção do rendimento disponível este ano apesar da queda de 8,1% do PIB nacional. Nos anos seguintes, com a recuperação da economia, o rendimento disponível irá crescer, de acordo com as previsões do banco central, como mostra o gráfico seguinte.
Este desempenho do rendimento disponível dos portugueses, em termos agregados, foi assinalado pelo governador do Banco de Portugal na conferência de imprensa de apresentação do boletim económico. Mário Centeno destacou que, ao contrário de outras crises, o rendimento disponível não vai cair em 2020, com os números das contribuições para a Segurança Social a mostrarem aumentos homólogos da massa salarial, assim como os números de IRS. “Há uma contenção muito significativa do emprego nas empresas“, disse, referindo que “deve ser sublinhado este esforço muito significativo que tem sido feito” pelos empresários.
Nuno Alves, diretor do departamento de estudos do Banco de Portugal, assinalou o papel das “medidas muito potentes de apoio ao rendimento das famílias”, como é o caso do lay-off simplificado, na manutenção do rendimento disponível este ano. A nível agregado, o economista antecipou que haverá “ganhos reais” nos salários, ou seja, o crescimento da remuneração dos trabalhadores será superior ao da inflação na economia.
Contudo, Nuno Alves avisou que “existirá grande heterogeneidade nesta evolução” dado que “há franjas que não terão um desempenho tão favorável como esta média poderia sugerir”. A média “esconde uma heterogeneidade que deve estar sempre presente” na análise dos dados, alertou, sugerindo que o impacto desta crise pandémica será desigual e não homogéneo, tal como já sugerem os dados económicos até ao momento.
Um exemplo disso é o aumento do salário médio na economia portuguesa numa altura em que o número de desemprego aumentou, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Tal é explicado por uma maior destruição de emprego nos salários mais baixos, em especial nos trabalhadores a auferir o salário mínimo, o que determina um aumento artificial do salário médio, mesmo sem subidas (ou até existindo descidas) nos outros salários. Contudo, é sabido que os salários estavam a crescer antes da crise pandémica chegar a Portugal em março.
Um sinal de que, apesar de prever uma manutenção do rendimento disponível, o Banco de Portugal assume que não será assim para todos é que prevê um aumento da taxa de desemprego em 2020 e 2021: de 6,5% em 2019 subirá para 7,2% em 2020 (acima dos 7,5% estimados em outubro), voltando a subir em 2021 para os 8,8%. Só em 2022 é que o desemprego desce para os 8,1% e depois para 7,4% em 2023, ainda acima do pré-crise. “A recuperação lenta do emprego decorre da evolução perspetivada para os setores mais expostos aos contactos pessoais, ligados ao alojamento, restauração, viagens e serviços recreativos”, refere.
(Notícia atualizada às 17h40 com mais informação)
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