“Há que apostar no investimento público sem complexos”, defende Ana Gomes

O ECO desafiou os sete candidatos presidenciais a responder a questões sobre a economia portuguesa. Ana Gomes dá prioridade ao investimento público, mas não esquece a importância do setor privado.

O ECO desafiou os sete candidatos presidenciais a responder a questões sobre a economia portuguesa: como devem ser ajudadas as empresas, como abordar o problema da dívida pública, como aplicar o fundo de recuperação europeu e como avaliam a política económica do atual Governo em resposta à crise pandémica. Esta sexta-feira publicamos todas as respostas recebidas nesta rubrica “O que é que eles querem para a economia?”.

Ana Gomes, ex-eurodeputada do PS e candidata à Presidência da República com o apoio declarado do PAN e Livre, defende que o investimento público, “que há muitos anos anda abaixo dos mínimos exigíveis”, deve ganhar mais destaque nos próximos anos, com a ajuda do fundo de recuperação europeu, “sem complexos”. A embaixadora confia que assim o Estado também irá estimular o investimento privado, defendendo “absolutamente” apoios para as empresas.

A necessidade de apoiar os empresários leva a candidata que não é apoiada formalmente pelo PS, o partido a que pertence, a classificar os apoios no início da pandemia de “demasiado tímidos”. E não deixa de notar que o “excesso de burocracia” deixou “muitas pessoas e muitas empresas” sem apoios “em devido tempo”. “Os serviços da Segurança Social não estiveram à altura”, critica, apelando a uma modernização dos serviços. Ainda assim, considera que “globalmente” o Governo tem estado “bem” no combate à crise pandémica.

Portugal deve apoiar mais as empresas para estimular a retoma? O elevado nível da dívida não é uma preocupação?

O nível da dívida portuguesa não é uma preocupação. Se fosse, os investidores estariam preocupados – e não estão. O Tesouro português paga juros de mercado negativos desde há muitos meses e nos prazos de 2 e 5 anos. E até, mais recentemente, no prazo de 10 anos. A confiança dos investidores na dívida portuguesa é sólida. Até as agências de notação financeira tiveram de moderar os seus habituais ímpetos críticos, face à realidade dos mercados. É uma realidade objetiva.

A quase estagnação do crescimento da economia portuguesa desde o início do milénio reclama desde há muitos anos um forte reforço do investimento. Por maioria de razão, para recuperar da crise económica no pós-pandemia, Portugal deve absolutamente apoiar as suas empresas e os seus empresários. A pandemia exauriu em grande parte os recursos de muitas empresas e esgotou a sua capacidade de investimento. Seria desejável que a retoma desse investimento viesse do setor privado. Mas é preciso também que o investimento público, que há muitos anos anda abaixo dos mínimos exigíveis, jogue o seu papel.

Os novos fundos europeus devem ser usados em grandes obras/grandes projetos ou mais para as empresas?

Os grandes fundos europeus devem ser usados com total controlo e rigor em projetos reprodutivos, de preferência com alto valor acrescentado. Há lugar para projetos grandes e pequenos. O importante é que os fundos sejam bem aplicados. Há também fundos específicos para apoio às empresas e ao emprego. Todos os países os têm aproveitado e é preciso que as empresas portuguesas tenham a capacidade de esgotar a fatia que lhes cabe. No passado perderam-se muitos fundos inépcia e incapacidade. Espero que isso não volte a acontecer.

Como é que avalia a ação do Governo no combate à crise económica provocada pela pandemia?

O Governo tem estado bem globalmente. No início da pandemia os apoios foram demasiado tímidos. Toda a gente parecia acreditar que seria uma crise para três ou quatro meses. Com o prolongamento da crise o Governo foi ajustando metas e os apoios atingiram um nível mais adequado.

O excesso de burocracia, porém, deixou pelo caminho muitas pessoas e muitas empresas que não receberam apoios em devido tempo. Os serviços da Segurança Social não estiveram à altura. É preciso usar melhor o sucesso do Simplex para modernizar serviços, torná-los mais ágeis e mais rápidos. A estruturas administrativas da segurança social que ainda temos são lentas e pesadas, não respondem às necessidades do século XXI.

No capítulo do relançamento da economia, há que ter em conta uma realidade: mesmo com o crédito quase a custo zero, os privados estão naturalmente retraídos. Há, pois, que apostar no investimento público sem complexos. Mais investimento público irá induzir mais investimento privado. E os próximos Orçamentos de Estado deverão traduzir claramente essa opção estratégica.

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