As curiosidades das eleições presidenciais: Lisboa com a menor abstenção, Marcelo ganha todos os concelhos e Ana Gomes é a mulher mais votada
As eleições presidenciais deste ano foram as "mais estranhas de sempre", repetiram vários analistas e políticos, por se terem realizado no meio de uma pandemia. Mas há outras curiosidades a notar.
Foi a eleição “mais estranha de sempre” ao realizar-se no momento pior de uma pandemia que dura há quase um ano, mas a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa não surpreendeu, consolidando a sua legitimidade e força política com 60,7% dos votos (52% em 2016). Logo aí surge uma curiosidade: pela primeira vez, um candidato presidencial ganhou em todos os concelhos. O melhor distrito para o atual Presidente foi Aveiro (65,66%) e o pior Beja (51,3%).
Mas há mais curiosidades a marcar estas eleições ímpares. Como foi noticiado ontem à noite, Ana Gomes tornou-se a mulher mais votada em eleições presidenciais, superando a votação de Marisa Matias em 2016, e Tino de Rans perdeu para Marcelo na sua freguesia de Rans (Penafiel, Porto), ao contrário do que tinha acontecido há cinco anos. Ainda assim, Vitorino Silva ficou em segundo lugar em Penafiel, o único concelho em que conseguiu tal feito.
Ana Gomes, apesar de ser a mulher mais votada em presidenciais, alcançou o segundo lugar com o pior resultado de sempre, isto é, nenhum outro candidato que tenha ficado em segundo lugar teve tão poucos votos. Anteriormente, essa “marca” era de Basílio Horta com cerca de 700 mil votos (14,09%) em 1991, na reeleição de Mário Soares que conseguiu 70,35%, de acordo com os dados do EyeData da Lusa. O pior resultado de Ana Gomes, que tem criticado a Zona Franca da Madeira, foi na Madeira.
O liberal Tiago Mayan conseguiu ficar em segundo lugar na Foz do Douro, a freguesia que o viu crescer, superado apenas por Marcelo Rebelo de Sousa. Marisa Matias conseguiu o seu melhor resultado em Coimbra (distrito onde nasceu), mas confirmou o seu preanunciado desaire eleitoral — a própria admitiu ter ficado bem longe do objetivo e das expectativas — e só ficou à frente de André Ventura no concelho do Corvo (Açores, onde o Chega viabilizou um Governo do PSD), no qual o candidato da extrema-direita teve o seu pior resultado. Pior: em todos os concelhos, a votação da bloquista baixou face a 2016.
Apesar da vitória histórica que fica apenas atrás de Ramalho Eanes e Mário Soares, nem tudo foram boas notícias para Marcelo. Em Celorico de Basto, a terra da sua avó e concelho onde foi de propósito votar (e onde tinha anunciado a candidatura às presidenciais de 2016), o atual Presidente da República perdeu votos, o que poderá ser parcialmente explicado por uma maior abstenção, mas também percentagem: passou de 81,9% em 2016 para os 76,1% em 2021.
André Ventura conseguiu uma votação melhor nos concelhos alentejanos e em quase todos os distritos conseguiu ficar em segundo lugar pelo menos em um dos concelhos, exceto no Porto, tendo este distrito sido essencial para que o segundo lugar fosse de Ana Gomes e não do candidato do Chega. Ainda assim, Ventura teve sete vezes mais votos do que nas legislativas de 2019.
Entre os votos dos emigrantes também há curiosidades, ainda que aí o número de eleitores que efetivamente votaram seja muito baixo (menos de 2%). Por exemplo, Ana Gomes conseguiu vencer na Hungria, após ter criticado duramente o atual primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, e em Timor-Leste, onde teve um papel importante no referendo de independência. Ventura ficou em segundo lugar na Suíça, mas não conseguiu o mesmo em países onde tem importantes figuras que o apoiam como França (Marine Le Pen) e Itália (Matteo Salvini).
Apesar da abstenção ter sido recorde ao atingir os 60,5%, a taxa até diminuiu em alguns dos maiores concelhos do país, como é o caso de Lisboa em que ficou nos 46,66% (a abstenção mais baixa de todo o país), abaixo dos 50,68% da reeleição de Cavaco Silva. O mesmo aconteceu no Porto, Sintra, Odivelas, Cascais, Amadora e Setúbal, por exemplo. Já a maior abstenção foi em Bragança (quase 67%). O distrito de Braga foi o que registou a maior percentagem de votos em branco (1,62%).
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