BRANDS' ECOSEGUROS Museus e monumentos em tempo de pandemia

  • ECOSeguros + Innovarisk Underwriting
  • 9 Fevereiro 2021

Será o seguro de obras de arte dispensável numa altura em que os museus estão vazios? Rui Ferraz, director comercial da Innovarisk Underwriting, responde.

A nossa perceção do tempo tem destas coisas: parece que foi há muito tempo que vimos cenas caóticas no Louvre para admirar a Mona Lisa. Em que cada visitante tinha em média um minuto com o quadro, entre cotovelos e smartphones, para observar todos os detalhes daquela que é provavelmente a obra mais emblemática da humanidade.

O mesmo Louvre, por exemplo, teve uma quebra em 2020 de 72% do seu número de visitantes (cerca de 2,7 milhões contra quase 10 milhões em 2019), tendo a perda de receitas sido de cerca de 90 milhões de euros.

São números brutais mas não caso único: quase todos os museus e monumentos a nível mundial sofreram quebras na ordem das mesmas percentagens. Recentemente descobrimos que o mesmo se passa em Portugal: de acordo com os números da DGPC, a quebra de visitantes aos museus e monumentos tutelados por aquela entidade foi exatamente a mesma: – 72%.

Para isto contribuiu não só o facto de muitos museus terem estado encerrados cerca de seis meses do último ano mas, principalmente, a redução do turismo e a dificuldade (e o receio) em viajar nos últimos tempos.

Então e onde entram os seguros nisto tudo?

Bom, existe uma ideia geral que este período de pandemia significa uma redução brutal de risco face ao que garante uma seguradora especializada em obras de arte.

"O facto de uma peça não estar exposta ao público não diminui a responsabilidade que o museu tem perante o emprestador. Esta continua à sua responsabilidade e, como tal, o seguro continua ser “obrigatório” para o empréstimo.”

Rui Ferraz

Diretor Comercial Innovarisk Underwriting

Por experiência própria, o sinistro mais usual ocorre durante o transporte das peças, ou durante o seu manuseamento no museu ou na casa do emprestador. E é fácil perceber porquê: quando estão expostas ou armazenadas o risco de que lhes aconteça alguma coisa, que não seja por curiosidade extrema de um visitante ou excesso de zelo de um funcionário da limpeza, é muito reduzido. E, sejamos francos: a probabilidade do Thomas Crown aparecer para roubar uma peça é mínima, e o Pierce Brosnan, persona non grata na maioria dos museus provavelmente.

Rui Ferraz, diretor comercial da Innovarisk Underwriting

Com a redução do número de exposições, e a estadia maior do que esperada em armazéns e museus, a manipulação das peças é menos frequente e, como tal, também o é o potencial de sinistro.

Logo, o seguro é menos necessário, certo?

Na verdade, não. O facto de uma peça não estar exposta ao público não diminui a responsabilidade que o museu tem perante o emprestador. Esta continua à sua responsabilidade e, como tal, o seguro continua ser “obrigatório” para o empréstimo, com a agravante de ser muito provavelmente necessário o prorrogar do mesmo na sequência da estadia prolongada das peças no museu.

"Lembram-se de ter falado no Thomas Crown? Pois é, a sinistralidade por roubo também tem vindo a aumentar.”

Rui Ferraz

Diretor Comercial Innovarisk Underwriting

Por outro lado, o encerramento de museus e monumentos, e correspondente falta de pessoal presente, traz uma maior exposição a riscos anteriormente menos considerados, como por exemplo os decorrentes de danos por água ou incêndios que anteriormente eram detetados com muito mais rapidez. No caso do risco de incêndio ainda mais exacerbado por alguma menor manutenção do próprio equipamento do museu, por falta de pessoal ou plafond.

Lembram-se de ter falado no Thomas Crown? Pois é, a sinistralidade por roubo também tem vindo a aumentar, principalmente em museus ou fundações mais pequenos. Isto deve-se essencialmente à conjugação de vários fatores: espaços encerrados (logo, sem visitantes ou outros terceiros que possam atrapalhar a atividade do larápio), menos meios de segurança no museu devido à sua dimensão e menor visibilidade, poupança de custos, e autoridades mais preocupadas com debelar a pandemia em que estamos envolvidos.

Finalmente, o apostar de muitos espaços culturais pelas plataformas online trouxe outro risco adicional: o de exposição à fraude cibernética. A necessidade de ter estas plataformas rapidamente a funcionar fez com que muitas não estivessem ainda bem protegidas contra o hacking ou contra o roubo de identidade, expondo-se a situações de pedidos de resgate para libertar os seus sites, ou ao caso extremo do Rijksmuseum Twenthe que, numa aquisição de uma obra de John Constable avaliada em cerca de três milhões de euros, acabou por efetuar o pagamento para uma conta fraudulenta sediada em Hong Kong.

Um pouco à imagem de tudo o que nos rodeia, os museus encontram-se numa encruzilhada das suas vidas, dando passos temerários por caminhos muitas vezes desconhecidos. Às seguradoras, cabe-nos iluminar o caminho e ver por onde pisam.

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