Regresso aos museus depende de normalidade nas escolas e nos voos

Os museus estão de portas fechadas, mas o trabalho continua e já se preparam as exposições para os próximos meses, de olhos postos num futuro com menos restrições e com a pandemia sob controlo.

Quando é que podemos voltar a … É a nova rubrica diária do ECO, numa altura em que se assinala um ano desde que foi confirmado o primeiro caso de Covid-19 em Portugal. Com o confinamento, muitas atividades fecharam portas e a nossa vida mudou. Com a descoberta e distribuição das vacinas, muitos países e algumas atividades já começam a planear o desconfinamento. Em Portugal, quando é podemos voltar ao nosso local do trabalho e às escolas? Quando é que poderemos voltar aos festivais de música e viajar sem restrições? E ao cinema, aos museus e a uma discoteca? Quando é que poderemos voltar a ver futebol nos estádios e ir ao ginásio? Nesta série de artigos, fomos falar com responsáveis de cada um desses setores.

Ainda não há sinais de desconfinamento, mas nos museus já se prepara o regresso do público e as exposições dos próximo meses. Vivem-se tempos de “confusão generalizada“, mas também de muita criatividade, avançam ao ECO o diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), Joaquim Oliveira Caetano, e a diretora do Museu Nacional do Azulejo (MNAz), Maria Antónia Pinto Matos.

A evolução da crise sanitária vai ditar a data de reabertura destes espaços, mas o regresso às dinâmicas do passado pré-pandémico só será possível quando houver normalidade nas escolas e regularização no transporte aéreo e, consequentemente, no turismo internacional, sublinham os responsáveis.

Com a identificação dos primeiros casos de Covid-19 em Portugal, a 2 de março de 2020, e a passagem do país a confinamento geral, poucos dias depois, os museus nacionais foram forçados a fechar portas. Estiveram assim por dois meses, até que a 18 de maio tiveram “luz verde” para voltarem a receber visitantes.

Há públicos muito significativos que desapareceram por completo.

Joaquim Oliveira Caetano

Diretor do MNAA

Os museus que, nessa altura, reabriram não eram já, contudo, os mesmos de antes. No chão do Museu Nacional do Azulejo, por exemplo, passaram a estar marcadas as distâncias de segurança entre visitantes. À porta, passou a estar disponível o gel desinfetante. E nas casas de banho, passou a estar indicada a lotação máxima, conta Maria Antónia Pinto Matos. Também as visitas guiadas foram limitadas.

O mesmo aconteceu no Museu Nacional de Arte Antiga. Aí passou mesmo a fixar-se um número máximo de visitantes por sala, para evitar ajuntamentos, tarefa que nem implicou “grande dificuldade”, uma vez que a recuperação do público não se deu aos níveis pré-pandemia, diz o diretor. “Há públicos muito significativos que desapareceram por completo“, explica Joaquim Oliveira Caetano. Em causa estão os turistas, as pessoas que “já têm uma certa idade“– “muitas vezes organizadas em grupos” — e o público escolar.

No Museu Nacional do Azulejo, um dos mais visitados antes da pandemia, de acordo com as estatísticas da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), 80% dos visitantes eram estrangeiros, daí que por efeito da pandemia — e das restrições impostas em reação — tenha havido uma quebra significativa do público, explica a diretora. “Este era um dos museus mais visitados, no âmbito da DGPC. Passou de mais de 200 mil visitantes para 50 mil em 2020″, conta ao ECO a responsável.

Estas características dos principais públicos dos dois museus em causa levam agora os seus diretores a sublinharem que só será possível um regresso “à séria” quando houver normalidade nas escolas e regularização nos transportes aéreos.

Joaquim Oliveira Caetano explica que o MNAA continua a oferecer “uma programação de qualidade e grande interesse”, mas é preciso normalidade nas escolas para o público escolar voltar, aplicando-se condições equivalentes no que diz respeito aos visitantes de idade mais avançada e aos turistas. Já Maria Antónia Pinto Matos sublinha que o MNAz abrirá assim que for possível — até porque “prefere um museu com poucos visitantes a um museu fechado” — mas só quando as companhias aéreas “operarem com regularidade” será possível reconquistar um público de dimensão pré-Covid-19.

O nosso trabalho no museu só faz sentido servindo o outro. Foi assim que aprendi, já lá vão 40 anos. Estamos de portas fechadas, mas estamos a trabalhar para o servir, através de conteúdos online e a fazer investigação para a exposição de junho.

Maria Antónia Pinto Matos

Diretora MNAz

Com o país novamente confinado, desde meados de janeiro que os museus voltaram a estar de portas fechadas, mas o trabalho continua e já se prepara a oferta para quando for possível reabrir.

No MNAz, por exemplo, trabalha-se, neste momento, numa exposição sobre a obra das mulheres ceramistas portuguesas, que deverá ser inaugurada em junho. “O nosso trabalho no museu só faz sentido servindo o outro. Foi assim que aprendi, já lá vão 40 anos. Estamos de portas fechadas, mas estamos a trabalhar para o servir, através de conteúdos online e a fazer investigação para a exposição de junho“, diz a diretora.

no MNAA, o esforço atual vai no sentido de prolongar a exposição que havia aberto pouco antes de o país ser forçado a regressar ao confinamento. “Vamos tentar que a exposição possa ainda estar presente até 25 de abril”, avança Joaquim Oliveira Caetano, referindo que, em circunstâncias normais, essa oferta teria terminado no final de fevereiro. O diretor frisa, contudo, que esse prolongamento implica um investimento significativo, nomeadamente no que diz respeito aos seguros.

Investimento esse que, de resto, é particularmente exigente já que, por força da pandemia, também as contas dos museus estão mais fragilizadas. O financiamento do MNAA, por exemplo, decorre de verbas diretamente concedidas pela DGPC e por “apoios mecenáticos para iniciativas específicas”. E enquanto esta segunda fonte “não tem faltado”, “a parte do financiamento da tutela tem-se ressentido”, ressalva Oliveira Caetano.

Além do impacto financeiro, o diretor do MNAA sublinha que a pandemia prejudicou as rotinas de trabalho, a relação com o público e até as relações com os outros museus, com os quais se estabelecem empréstimos, afetando a capacidade de programação. “Quando as coisas falham e falham em vários países ao mesmo tempo, isso provoca uma confusão generalizada naquilo que deve ser a programação. São fatores muito preocupantes e influenciam as ofertas que o museu pode dar”, diz o responsável.

Quanto à relação com o público, Oliveira Caetano explica que uma parte da programação passou a ser mais direcionada para o online, com a disponibilização, por exemplo, de pequenos filmes para as escolas. “Mas isso não é o museu. O museu são as próprias peças e como são organizadas, como são fruídas ao vivo, presencialmente”, frisa o responsável.

Também no MNAz tem sido feito esse trabalho de maior aposta no universo digital. “Temos feito muito mais trabalho online. Estamos a colaborar com o ensino à distância, por exemplo. Estamos a fazer um outro tipo de trabalho que antes não fazíamos”, conta Pinto Matos. No que diz respeito às escolas, o Museu do Azulejo tem disponibilizado conteúdo e até visitas guiadas online.

A pandemia acabou, tudo somado, por ser sinónimo de um impulso no sentido da reinvenção dos próprios museus, com a intensificação da sua presença no mundo virtual, indicam os responsáveis. “Não tiramos muitas coisas positivas [da pandemia], a não ser a capacidade de algumas áreas do museu se reinventarem, como as áreas educativas“, observa o diretor do MNAA.

Já para a diretora do MNAz, a crise sanitária veio mostrar que nada há de garantido e “tornou-nos mais criativos”. “Uniu-nos”, salienta Maria Antónia Pinto Matos. A responsável remata assegurando que, apesar de tudo e mesmo com uma parte considerável das visitas estrangeiras agendadas até maio já cancelada, está confiante na recuperação futura. “Nem posso pensar de outra forma”, diz, animada.

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