Dos elogios às “omissões” e falhas, partidos atentos a discurso de Marcelo

Enquanto o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa na tomada de posse mereceu os aplausos das bancadas do PS, PSD e CDS, outros partidos salientaram algumas falhas e omissões.

Marcelo Rebelo de Sousa já tomou posse, seguindo assim para o segundo mandato enquanto Presidente da República de Portugal. Discursou na Assembleia da República, em declarações seguidas com atenção pelos partidos. As bancadas do PS, PSD e CDS aplaudiram o discurso, enquanto outros partidos notaram algumas omissões e falhas na visão das prioridades de Marcelo para este mandato.

O Presidente disse querer garantir “estabilidade [política] sem pântano” no segundo mandato, uma “renovação que evite rutura e o abuso do poder”. Reiterou também que manterá os seus princípios com “qualquer maioria parlamentar”, com “qualquer Governo” e “antes ou depois” das autárquicas, das eleições parlamentares, das eleições europeias, e dos 50 anos do 25 de abril, em 2024.

Marcelo foi “claro no que deve ser cooperação institucional”, diz PS

A líder parlamentar do PS, sublinhou que o Presidente foi “muito claro naquilo que deve ser a cooperação institucional entre vários poderes”. Ana Catarina Mendes destacou também a necessidade de todos, dentro da diversidade de programas políticos, os partidos estarem “focados em vencer questões essenciais para o país”, nomeadamente a crise sanitária, económica e social.

Ana Catarina Mendes destacou também três pontos essenciais do discurso, nomeadamente que a “pandemia e o estado de emergência não pode suspender a democracia”, com o apelo para aprofundar a democracia, e não ceder a “respostas fáceis ou populistas”. Salientou ainda a “importância de continuarmos a vencer crise sanitária, que o Serviço Nacional de Saúde continue a responder”.

Finalmente, a líder parlamentar socialista sublinhou a “necessidade de continuarmos, depois da pandemia, a perceber vulnerabilidades e desigualdades este ano”, nomeadamente com o “reforço da coesão social e territorial”.

PSD sublinha “dimensão social” de discurso

Adão Silva, líder parlamentar do PSD, destacou a “dimensão social” do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, nomeadamente pelas preocupações com “a pandemia social que a pandemia sanitária está a gerar”, com os desempregados e as empresas em dificuldades, em declarações citadas pelo Observador.

O líder parlamentar do PSD destacou ainda que o partido está a trabalhar para criar uma “alternativa singular” para o país. Mesmo com a atitude inicial do partido de cooperação com o Governo, na pandemia, o líder do partido, Rui Rio, “tem estado a criar esta alternativa”, focando-se nas eleições autárquicas e nas próximas legislativas.

BE destaca diversidade na democracia, investimentos e responsabilidade política

A coordenadora bloquista sublinhou que o partido acompanha Marcelo Rebelo de Sousa em três aspetos que mencionou na sua intervenção, que diz ter ouvido “com atenção”: Portugal tem de “ser uma democracia que vive bem e respeita diversidade, precisamos de investimentos estruturais e responsabilidade política na resposta a maiores vítimas da crise”.

Catarina Martins destacou então a “declaração e afirmação que Portugal é uma democracia que conta com diversidade da população e respeita diversidade”. Concordou também que “muita da nossa fragilidade decorre da falta de investimento estrutural”, e salienta a “responsabilidade das políticas públicas para acorrerem a mais sacrificados pela pandemia”.

O discurso do Presidente foi então “interessante”, apesar de “com as diferenças de opinião que são conhecidas”, referiu a líder bloquista. Catarina Martins defendeu ainda assim que foi um “discurso importante, bem pensado para este dia”.

PCP nota “omissões” no discurso de Marcelo

Jerónimo de Sousa reiterou que “a parte mais importante da intervenção do Presidente foi o juramento solene que fez perante portugueses e Assembleia da República, de cumprir e fazer cumprir Constituição”. Para o secretário-geral do PCP, existiram algumas “omissões” no discurso de Marcelo Rebelo de Sousa.

“Um dos problemas da Constituição tem sido a não efetivação em muitas matérias”, já que no quadro que Marcelo destacou, nomeadamente com a situação económica, social e sanitária e as perspetivas de desenvolvimento do país, “encontramos norma constitucional capaz de dar resposta”, defendeu o comunista.

Faltou, no entanto, Marcelo “apreciar mais a fundo”, como quando mencionou a descentralização, mas “não falou da regionalização”, e também “não falou da valorização de trabalho e trabalhadores”, no que diz respeito a salários e direitos. Já questionado porque é que a bancada comunista não aplaudiu o discurso, explica que o partido tem “apreciação crítica” em certas matérias, nomeadamente “a visão do país no quadro da luta pela paz, no quadro de sacudir pressão dos poderosos com todos efeitos que têm tido na soberania e a aproximação a política externa que tem acontecido, particularmente na União Europeia”.

CDS elogia discurso “positivo, lúcido e oportuno”

Francisco Rodrigues dos Santos, do CDS, elogiou o discurso do Presidente da República, apontando que foi “muito positivo, lúcido e oportuno”, nomeadamente nesta fase da realidade do país. Destacou o “sentido patriótico que imprimiu no discurso e nos convoca a ajudar” uns aos outros, salientando que é “crucial que nesta altura Portugal saiba amar-se a si próprio e olhar para o futuro”.

O líder do CDS reiterou também que é “extremamente satisfatório notar o papel central para desenvencilhar a teia que o país atravessa”, com tónica nas questões sociais. Salientou as “preocupações na área social e económica que o Presidente elencou”, nomeadamente a situação dos pequenos e micro empresários, e que os fundos europeus sejam “eficientes, usados com bom senso e transparência”.

Do discurso de Marcelo, Rodrigues dos Santos sublinhou também o combate à corrupção e a limitação de mandatos, que defende “ajudar a renovação do sistema político”, bem como o papel que atribuiu às novas gerações. Conclui apontando que espera que o Presidente seja um “ator central que ajude Portugal e os portugueses”.

PAN nota falta de combate à corrupção

André Silva, do PAN, sinalizou que o Presidente da República, “eleito por um número muito significativo de portugueses”, não mencionou medidas ou preocupação “significativa de medidas de combate à corrupção e transparência” no que diz respeito aos “dinheiros europeus da bazuca” que virão, para fazer face à pandemia. Para o PAN, esta é uma “prioridade fundamental ausente do discurso”.

Para além disso, André Silva sublinhou que o partido se “revê” na preocupação e prioridade aos jovens, “mas o Presidente que manifestou preocupação foi o mesmo que em 2019 promulgou extensão do período experimental dos contratos de trabalho para o dobro”, medida que diz prejudicar os mais novos.

PEV espera “intervenção mais ativa” do Presidente

José Luís Ferreira defendeu que os “Verdes esperam do segundo mandato uma intervenção mais ativa por parte do Presidente”, nomeadamente a nível da “denúncia de problemas sociais que se agravaram e também novos problemas criados com crise pandémica”. O partido espera ainda que “este mandato seja marcado por reforço nas funções sociais do Estado, que pandemia mostrou ser decisiva”.

“Esperamos um olhar mais atento sobre questões como pobreza, desigualdade, disparidades salariais entre homens e mulheres, problemas ambientais e alterações climáticas como combate sério e determinado”, disse o deputado.

Discurso de Marcelo deu para “agradar a todos”, diz IL

João Cotrim de Figueiredo defendeu que o discurso de Marcelo foi “ecuménico: teve um pouco de tudo para agradar a todos”, no Parlamento, em declarações citadas pelo Público. O deputado da Iniciativa Liberal admitiu que se identifica com as cinco missões deixadas pelo Presidente no discurso, ressalvando que “poucos portugueses” devem discordar destas, mas reiterou que parece “continuar a haver distância entre o que o que diz e o que é feito”.

Chega quer mandato diferente do anterior

André Ventura saudou o facto de Marcelo “pretender ser garante de estabilidade” e a referência para a luta contra a pandemia mas pela reparação dos danos causados na economia e sociedade. No entanto, disse esperar que “tenha mandato diferente do que foi o último mandato”, algo que não ficou claro no discurso. “Nada do que Marcelo disse hoje vai neste sentido, vai no sentido de continuar a defender afirmação de valores mais ou menos vazia”, bem como de “continuar a ser principal aliado de António Costa”, reiterou.

(Notícia atualizada às 13h50)

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