Centeno não quer Portugal “isolado” na Europa pelo que moratórias têm de acabar

O governador do Banco de Portugal sinalizou que é favorável ao fim das moratórias no final de setembro. "As responsabilidades de crédito têm de ser cumpridas", diz Centeno.

Mário Centeno sinalizou esta sexta-feira que não é favorável ao prolongamento das moratórias bancárias em Portugal para lá de setembro de 2021, como tem sido pedido por alguns. O governador do Banco de Portugal recordou em que “muitos países” da União Europeia estas já não existem e que o grau de incumprimento foi inferior a 5%.

Em muitos países já não há moratórias e eu não vejo nenhuma especificidade de Portugal para que nós nos isolemos no contexto europeu nesse sentido. Não vejo mesmo“, disse Centeno na conferência de imprensa de apresentação do boletim económico de março, especificando que o incumprimento nesses países após o fim das moratórias foi “muito reduzido”, sendo inferior a 5%.

O governador do Banco de Portugal disse que “não podemos ficar à espera que um agente na economia [neste caso, o setor financeiro] seja responsável por responder a todas as dificuldades que se nos colocam”, algo que “foi um erro de crises anteriores”. “Não podemos esperar que seja o Estado a resolver todos os problemas, nem o sistema financeiro, nem esperar que as empresas e as famílias façam tudo“, concretizou, pedindo um esforço dividido entre todos.

Ainda assim, Centeno reconheceu que as moratórias foram uma peça importante das respostas dadas à crise pandémica e relembrou que as políticas de ajuda continuam ativas, quer a orçamental quer a monetária. “Nenhum destes decisores anunciou a retirada de apoios e políticas”, afirmou, relembrando que “todos estão preocupados e atentos ao que possa ser a criação de efeitos de precipício, do fim abrupto dos apoios”, algo que se quer evitar.

Outro fator identificado pelo governador do banco central é que há medidas criadas em 2020 que ainda não tiveram impacto, mas que vão começar a ter em 2021. Centeno referia-se ao fundo de recuperação europeu (Próxima Geração UE), cujas verbas europeias a fundo perdido deverão chegar no segundo semestre, existindo a expectativa de “substituição de medidas por outras”. Ou seja, que esta “bazuca” ou “vitamina” ajude a retoma de tal forma que outras medidas no terreno deixem de ser necessárias.

Sobre as moratórias, Mário Centeno recordou que “Portugal não age sozinho no domínio das moratórias” e, por isso, não pode tomar medidas “isoladamente”. Caso contrário, existe o risco de um “efeito de ricochete nos clientes bancários muito mais negativo do que a própria moratória pudesse vir a ter se achássemos que o fim dessa moratória tinha problemas”. O governador avisou que o trabalho de vigilância destes créditos tem de começar nos bancos e depois deve ser analisado o caso das empresas e particulares em dificuldades.

A convicção do ex-ministro das Finanças é que as “responsabilidades de crédito têm de ser cumpridas” e a esperança é que no final do verão “as condições económicas sejam compatíveis com essas responsabilidades”, relembrando que “há vastas áreas que já recuperaram a atividade pré-crise”. “Temos de olhar para onde isso ainda não aconteceu”, admitiu.

Mário Centeno fez questão também de dizer que o stress financeiro vivido em 2020 foi inferior ao de 2016, ano em que entrou para o Governo. “2020 não foi um ano de tensão financeira nos mercados e isso contribuiu de forma decisiva para como todos os setores de atividade conseguiram reagir a um período dificílimo do ponto de vista económico”, argumentou.

De acordo com os dados do Banco de Portugal, no final de 2020 as moratórias correspondiam a cerca de 34% dos empréstimos das sociedades não financeiras e a cerca de 16% do total de empréstimos no caso dos particulares.

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