Há vacinas portuguesas contra a Covid-19? Sim, mas para produzir em Portugal são precisos milhões

As vacinas portuguesas precisam de dezenas de milhões para as próximas fases. Produzir em Portugal é uma realidade longínqua, pois falta investir em infraestruturas, o que tem um custo muito elevado.

Nem só nos Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido, Alemanha e outras grandes potências se fazem vacinas contra a Covid-19. Em Portugal também foram desenvolvidas vacinas para combater a pandemia que assolou o mundo em 2020, mas precisam de muitos milhões de euros para saírem do laboratório para chegarem ao braço das pessoas.

Há, pelo menos, duas vacinas em desenvolvimento em Portugal. A da Immunethep e a da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, em conjunto com a Universidade de Telavive, em Israel.

A primeira vacina funciona com vírus como um todo, ao contrário da vacina da Pfizer/BioNTech que é com parte do vírus, explica ao ECO Bruno Santos, cofundador e presidente executivo da Immunethep. Tem ainda uma grande diferença face a outra vacinas: a administração é intranasal (como alguns medicamentos para a asma) “o que leva a que a maior parte dos anticorpos fiquem concentrados nos pulmões”.

Já o fármaco desenvolvido pela equipa de Helena Florindo, investigadora da Faculdade de Farmácia, e pela professora Ronit Satchi-Fainaro é uma “estrutura microscópica, em forma de esfera que transporta fragmentos de porções de proteínas do SARS-CoV-2” que depois iniciam o processo imunológico.

O melhor? Os dois fármacos teriam um preço semelhante ao praticado no mercado, isto é, cerca de 10 euros.

A vacina da Immunethep encontra-se a acabar a fase pré-clínica (ainda antes dos ensaios em humanos) e Helena Florindo terminou agora “os estudos pré-clínicos da vacina”. Aproximam-se, a pequenos passos, das etapas finais. Mas têm dinheiro para as próximas fases? Segundo Bruno Santos, a sua empresa necessita de cerca de 20 milhões de euros para a próxima fase. Já Helena, para a primeira fase (de três) dos ensaios clínicos estima precisar de aproximadamente 3 milhões de euros, mas o valor aumenta para as dezenas de milhões nas fases seguintes. Mesmo depois deste dinheiro angariado, a questão fica no ar: é possível produzir as vacinas em Portugal?

Produção de vacinas em Portugal: possível ou uma miragem?

Neste momento não existe qualquer capacidade para a produção da vacina em Portugal”, começa por referir Bruno Santos. “No entanto, trazer essa capacidade para Portugal, é um esforço que deve ser feito e estamos em contacto com alguns parceiros internacionais que nos permitem fazer essa transferência”, revela.

Segundo o que disse a investigadora Teresa Summavielle à Lusa, o valor de investimento para que Portugal tivesse uma infraestrutura capaz de produzir 50 milhões de doses da vacina por ano está estimado em cerca de 100 milhões de euros.

Contudo, o país ganhava com este investimento, especialmente numa altura em que a escassez de vacinas é tão evidente e há ainda várias dúvidas no ar sobre uma das vacinas aprovadas na Europa (AstraZeneca). “Esta pandemia não foi a primeira e não será a última. Por isso, será sempre desejável que se aposte na produção industrial de vacinas a nível nacional”, defende a cientista. “Seria desejável para que o acesso ao número de vacinas necessário para a nossa população fosse facilitado”, acrescenta.

Bruno Santos acrescenta ainda que: primeiro, produzir vacinas no país seria “um cartão-de-visita para atrair a indústria farmacêutica para Portugal”, depois criava “oportunidades para uma série de pessoas com formação na área que saem das universidades portuguesas e não têm onde trabalhar na indústria” e, por fim, permite a Portugal ajudar outros países, como os de língua oficial portuguesa, a terem acesso mais rápido às vacinas.

Porém, os dois responsáveis não baixam os braços. O presidente da Immunotherp esclarece que o projeto do fármaco só avançou quando garantiram parceiros que pudessem produzi-lo no estrangeiro, neste caso no Canadá.

Já a investigadora, acreditando não ser impossível produzir a vacina a nível nacional, assume que a produção passará, pelo menos ao início, “por empresas que já tenham implementadas tecnologias semelhantes às que são utilizadas no fabrico da vacina”. As empresas foram já identificadas na Europa e Estados Unidos e os contactos já se iniciaram.

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