Da dose única aos coágulos, 10 respostas sobre a vacina da Janssen

Depois da AstraZeneca, também a vacina da Janssen está "debaixo de fogo" por suspeita de provocar coágulos sanguíneos. Da dose única ao armazenamento, o ECO preparou um guia sobre esta vacina.

Estava previsto que esta semana chegassem a Portugal as primeiras 30 mil vacinas da Janssen contra a Covid-19. Com esta primeira remessa, o país ficava com 1,9 milhões de vacinas para administrar ao longo deste mês. Contudo, a farmacêutica do grupo Johnson & Johnson decidiu “atrasar proativamente” a distribuição da sua vacina contra a Covid-19 na Europa.

Esta decisão foi anunciada poucas horas depois de as autoridades de saúde norte-americanas terem suspendido a administração desta vacina no país, com o intuito de investigar seis casos de pessoas que desenvolveram coágulos sanguíneos em quase sete milhões de pessoas vacinadas do outro lado do Atlântico. Os casos dizem respeito a mulheres com idades entre 18 e 48 anos e foram reportados cerca de duas semanas depois de serem vacinadas.

Mas, afinal, o que diferencia esta vacina das restantes três que já estão a ser administradas? Como é produzida e qual é a duração da proteção? O ECO preparou um guia com 10 perguntas e respostas sobre a vacina da Janssen.

1. Como é produzida a vacina da Janssen?

Esta vacina foi criada através de um método de desenvolvimento de vacinas criado em Israel há uma década, usando um adenovírus chamado A26. E é também, por isso, uma vacina de vetor viral.

2. Qual o método de inoculação? E a eficácia?

Ao contrário das três outras vacinas já aprovadas pelo regulador europeu — Pfizer/BioNTech, Moderna e AstraZeneca –, cuja imunização requer a toma de duas doses de vacinas, a vacina da Janssen é de dose única. Este fator poderá constituir uma peça fundamental, já que se continuam a verificar atrasos nas entregas das vacinas.

Quanto à eficácia, esta vacina demonstrou ter um grau de proteção ligeiramente inferior às vacinas da Pfizer e da Moderna, por exemplo, cuja eficácia varia de 95% e 94%. Segundo a farmacêutica norte-americana, esta vacina teve 85% de eficácia na prevenção de doença grave nas diferentes regiões estudadas e conferiu proteção contra hospitalizações e mortes relacionadas com a Covid-19, a partir do 28º dia após a vacinação. Não obstante, importa sublinhar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) determina que para uma vacina ser aprovada tem de ter pelo menos 50% de eficácia.

3. Como pode ser armazenada?

Esta é também uma das grandes diferenças e uma das grandes vantagens face às vacinas já aprovadas. Ao contrário da vacina da Pfizer que requer que seja mantida a uma temperatura entre 70 a 75 graus negativos e da Moderna que pode ser armazenada durante 30 dias à temperatura de um frigorífico doméstico, entre dois a oito graus, mas que num prazo superior deve ser guardada num congelador a 20 graus negativos, a vacina do grupo Johnson & Jonhson pode ser armazenada durante três meses num frigorífico normal, pelo que o seu uso e distribuição é mais prático do que as vacinas que utilizam mRNA. Já se estiver fora do frigorífico deve ser administrada num prazo máximo de 12 horas.

4. Qual é a duração da proteção da vacina da Janssen?

Segundo a Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês), as pessoas que tomam a vacina da Janssen começam a estar protegidas 14 dias após a inoculação, contudo, a duração da imunização ainda não é conhecida, sendo que as pessoas que participaram nos ensaios clínicos vão ser acompanhadas durante, pelo menos, dois anos, de modo a obter mais informações sobre a duração da proteção.

5. Esta vacina pode ser administrada em adultos? E nas crianças?

Neste momento, e à semelhança da vacina da vacina da Moderna e da AstraZeneca, esta vacina está autorizada para ser administrada em indivíduo com idade igual ou superior a 18 anos, pelo que o regulador europeu não recomenda a sua utilização em crianças. Não obstante, a EMA deu “luz verde” à farmacêutica norte-americana para que incluísse as crianças nos ensaios clínicos que estão a ser realizados, de modo a testar os efeitos da vacina. Nesse sentido, a empresa já inciou testes em crianças dos 12 aos 17 anos.

6. Já tem autorização para ser administrada na Europa?

Esta vacina foi aprovada pelo regulador europeu a 11 de março, sendo que esta semana estava previsto que começasse a ser distribuída aos Estados-membros. Contudo, a empresa decidiu atrasar proativamente” a distribuição da sua vacina contra a Covid-19 na Europa, horas depois de as autoridades dos EUA a terem suspendido.

7. E quando vão chegar as primeiras doses da vacina da Janssen a Portugal?

Ao ECO, o Infarmed indicou que estava previsto Portugal receber 30 mil doses da vacina da Janssen esta quinta-feira, “tendo o país já sido notificado do adiamento” das entregas na sequência da decisão da empresa. Para já, não se sabe qual o impacto da decisão no plano nacional de vacinação.

8. Quantas doses desta vacina vai receber Portugal?

No âmbito do contrato realizado com a Comissão Europeia, estão previstas 200 milhões de doses da vacina da Jassen para a Europa este ano, com a opção de compra de mais 200 milhões adicionais. Quanto a Portugal, o país espera receber 4,5 milhões de doses desta vacina ao longo deste ano, das quais 1,25 milhões já neste segundo trimestre.

9. Em que países a vacina da Janssen é administrada?

Além de ter sido aprovada pelo regulador europeu, a vacina da Janssen foi aprovada pela Food and Drug Administration (o regulador do medicamento dos EUA) a 28 de fevereiro.

10. Mas ouvi dizer que pode formar coágulos sanguíneos, é verdade?

À semelhança da vacina da AstraZeneca, o regulador europeu está também a investigar uma possível formação de coágulos sanguíneos e a administração da vacina do grupo Johnson & Johnson, com o intuito de “avaliar relatórios de eventos tromboembólicos […] em pessoas que receberam a vacina Janssen contra a covid-19” nos Estados Unidos.

Em causa estão seis situações graves de coágulos sanguíneos invulgares, uma das quais fatais, registadas em mulheres com idades entre os 18 e os 48 anos nos EUA, que sucederam cerca de duas semanas depois de serem inoculadas. Importa sublinhar que no total, há já quase sete milhões de vacinados do outro lado do Atlântico, sendo que os casos reportados com a vacina da J&J foram diagnosticados como sendo tromboses do seno venoso cerebral (CVST). Face a esta situação, as autoridades de saúde norte-americanas suspenderam a administração da vacina do grupo Johnson & Johnson, apesar de não estar confirmada qualquer ligação entre os coágulos e a vacina.

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