Dona do Novo Banco vende “Vilamoura” à Arrow por cerca de 100 milhões
Os norte-americanos da Lone Star venderam o "Project Vilamoura" a um conjunto de investidores, entre os quais o fundo britânico Arrow Capital e os empresários Filipe de Botton e Alexandre Relvas.
Os norte-americanos da Lone Star fecharam a venda do Project Vilamoura — que inclui, literalmente, uma parte de Vilamoura — aos britânicos da Arrow Capital e um conjunto de investidores, entre os quais Filipe de Botton e Alexandre Relvas, apurou o ECO. Fazem parte do “pacote” a marina de Vilamoura, duas sociedades e 21 lotes de terreno com potencial de construção. A operação foi fechada por cerca de 100 milhões de euros, um valor bastante abaixo do que estava a ser pedido inicialmente, uma vez que o projeto incluía ainda a Cidade Lacustre (expansão), que acabou chumbada no final do ano passado.
Foi em 2015, num “competitivo” processo, que a dona do Novo Banco comprou estes ativos. Dois anos depois, no final de 2017, colocou-os no mercado para venda. Entre alguns obstáculos, foram precisos mais três anos para conseguir vender. A operação foi fechada na semana passada, sabe o ECO, e deverá ter rondado os 100 milhões de euros, um valor abaixo dos 180 milhões que a Lone Star pedia inicialmente.
Do lado do comprador está o fundo britânico Arrow Capital, que detém as sociedades portuguesas Whitestar e Norfin (que fazem a gestão e recuperação de ativos de malparado e imobiliário), e um conjunto de investidores privados, entre os quais Filipe de Botton e Alexandre Relvas, sócios da Logoplaste, e João Brion Sanches, fundador da Norfin juntamente com os dois empresários anteriores. Contactados pelo ECO, tanto o Grupo Arrow como Filipe de Botton recusaram fazer comentários.
Em comunicado enviado após a publicação desta notícia, a Arrow refere que João Brion Sanches será o novo CEO da Vilamoura (Lusotur). Citado no documento, o empresário afirma que “ninguém é verdadeiramente dono de Vilamoura” e que este conjunto de investidores “pretende ser o guardião deste património, orientá-lo e cuidar bem dele para as próximas gerações”.
O projeto compreende 100% do capital social da Vilamoura World (sociedade que gere todos estes ativos), 21 lotes de terreno para desenvolvimento, 49% da Inframoura (empresa municipal que gere as obras públicas de Vilamoura) e, por fim, um centro equestre e a marina, que é o ativo mais interessante. Inaugurada em 1974, é a maior do país com 825 postos de amarração”, lê-se no teaser do projeto ao qual o ECO teve acesso. A concessão da marina é válida até 2060.
Nos últimos anos foram sendo concluídos vários projetos em “Vilamoura”, que resultaram em 704 habitações no período pré-crise (Victoria Boulevard, The Victoria Gardens, 1.ª fase do L’Orangerie, Villa Rosa Golf, Monte Laguna, The Victoria Residences e Laguna Golf) e 219 no período pós-crise (Gardens Vilamoura, Laguna Village, 1.ª fase do Uptown, 2.ª fase do L’Orangerie, Villa Nature e a 1.ª fase do Central”.
Para o futuro, entre os vários projetos idealizados, contam-se 3.658 unidades habitacionais, num total de 566.374 metros quadrados, refere o teaser.
“Cidade Lacustre” chumbada em novembro
A Lone Star comprou estes ativos em 2015 e 2016, mas em 2018 idealizou uma expansão do projeto, mesmo depois de o ter colocado à venda no final de 2017. Essa expansão, chamada “Cidade Lacustre”, já tinha sido pensada por André Jordan anos antes e é considerada Projeto de Potencial Interesse Nacional (PIN), refere o teaser a que o ECO teve acesso.
A Lone Star adaptou o projeto pensado por André Jordan e, numa primeira fase, chamou-lhe Vilamoura Lakes”. Previa 1.777 habitações (uso residencial e turístico), numa área total de 283.000 metros quadrados. Este lote representava um investimento de 652 milhões de euros e incluía ainda restaurantes, espaços de comércio e lagos de água salgada.
Acabou adaptado e chamado de “Cidade Lacustre”. A ideia do novo projeto era “criar uma zona nova, com baixa densidade de construção, a fazer a conexão entre a marina e o centro urbano com o resto de Vilamoura”, disse Rob Jenner, CEO da Vilamoura World, em entrevista ao Expresso em maio do ano passado. A ideia era “atrair investimento ao Algarve”.
As expectativas eram muitas, mas nem a adaptação do projeto foi suficiente para obter “luz verde”. Em maio de 2020, a Câmara de Loulé chumbou o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e, em novembro, foi a vez de a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) se pronunciar no mesmo sentido, conforme noticiou na altura o Jornal de Negócios.
Mesmo assim, depois desses chumbos, a Vilamoura World continuava a afirmar que iria reformular novamente o projeto. Certo é que, até ao momento, nada foi feito. Ao ECO, fontes do mercado imobiliário explicaram que o novo dono, a Arrow, pode agora fazer essa reformulação e apresentar novo pedido junto das respetivas entidades, a autarquia e a CCDR.
Idealizado por banqueiro português, projeto passou por várias mãos
A história remonta a 1960, ano em que o banqueiro português Cupertino de Miranda comprou estes 1.700 metros quadrados de terrenos para construir um resort conhecido internacionalmente. As obras arrancaram em 1966 e, três anos depois, foi inaugurado o primeiro campo de golfe, seguindo-se a marina, em 1974. Durante a década de 80, foram muitos os investidores, sobretudo da hotelaria, que ali aplicaram as suas poupanças.
Entretanto o casino foi inaugurado e, em 1990, o Grupo André Jordan comprou “Vilamoura”, vendendo-a em 2004 aos espanhóis da Prasa, seguindo-se os cinco campos de golfe que existiam na altura, alienados aos irlandeses da Oceânico em 2007. Quatro anos mais tarde, em 2011, a “holding” que detinha o resort acabou por ir para as mãos do banco espanhol Catalunya Caixa.
Finalmente, em 2015, entra a Lone Star. O fundo norte-americano, dono do Novo Banco, compra estes terrenos num “competitivo” processo de venda, e em 2016 adquire os cinco campos de golfe que estavam, na altura, nas mãos da Kay CC Portugal, uma parceria entre a Keith Cousin e o Grupo Dom Pedro Hotels. Passa, assim, a ser proprietário de “Vilamoura”.
No final de 2017, de acordo com o Jornal de Negócios, o Lone Star pôs estes ativos à venda, sem adiantar valores. Contudo, o ECO sabe que em causa estavam cerca de 180 milhões de euros. Entretanto, em 2018, a Lone Star idealizou a Cidade de Lacustre, mas essa expansão acabou chumbada, o que fez descer o valor da operação fechada na semana passada para cerca de 100 milhões de euros.
O ECO apurou ainda junto de fontes do mercado imobiliário que a Lone Star estava desejosa de alienar estes terrenos. Destaque ainda para um crédito de 80 milhões de euros que o fundo tem junto do banco Santander que deverá agora ser saldado.
(Notícia atualizada às 16h33 com reação da Arrow)
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