Grandes devedores do Novo Banco não são representativos da atividade geral

  • Lusa
  • 4 Junho 2021

"Todos os casos em que o Novo Banco teve sucesso na recuperação acabaram por não ser alvo desta comissão, na medida em que não geraram perdas", afirmou Rui Fontes.

O vogal da comissão executiva do Novo Banco Rui Fontes disse esta sexta-feira no parlamento que os casos dos grandes devedores que têm sido ouvidos na comissão de inquérito não representam a normal atividade do banco.

“Todos os casos em que o Novo Banco teve sucesso na recuperação acabaram por não ser alvo desta comissão, na medida em que não geraram perdas. O que se vê aqui não é representativo da realidade global do banco”, disse esta sexta-feira o administrador do banco responsável pelo risco.

Rui Fontes foi esta sexta-feira ouvido pelos deputados na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, e foi sendo questionado acerca dos vários grandes devedores da instituição financeira.

O deputado Alberto Fonseca (PSD) falou no caso da Prébuild, de João Gama Leão, lembrando os créditos dados para exportação, ou ainda faturação ‘empolada’.

“Posso dizer-lhe que isso não era um processo normal” e que “correu francamente mal”, respondeu o administrador, considerando o processo normal para créditos à exportação como “razoavelmente robusto, em que é confirmado pela área internacional”, tendo o caso da Prébuild sido alvo de uma auditoria interna.

Rui Fontes acrescentou que a Prébuild tinha “identificados vários sinais de alerta, um ‘rating’ B relacionado com a estrutura de Angola, que lhe daria um ‘rating’ mau”.

“As orientações genéricas de crédito é que o banco concede crédito a clientes com ‘rating’ B+ ou superior. B fica fora do apetite normal de risco”, disse.

Rui Fontes afirmou ainda que o grupo empresarial era apresentado como estando em Angola “com um volume de obras significativo”, e que haveria “por parte do BES Angola, a abertura de cartas de crédito que justificaria as encomendas que estavam a fazer a Portugal”, tendo existido depois “falta de controlo da área da gestão do cliente”.

Quanto a imparidades, no caso da Prébuild, Rui Fontes disse que foram constituídas quando foi detetado o “problema com o pagamento de faturas”, uma vez que anteriormente não tinha sido detetado e tinha um relatório de uma consultora “que calculava um número significativo de capitais para o grupo“.

Já quanto à Promovalor, de Luís Filipe Vieira, tinha “um ‘rating’ relativamente fraco” e havia indicações do departamento de risco para “manter a exposição e acompanhar os projetos que estavam a desenvolver no sentido de obter garantias reais”.

À deputada Isabel Oneto (PS), que sugeriu que o Novo Banco poderia ter “acionado os bens”, Rui Fontes disse que foi entendido que “essa não era a melhor estratégia para defender os interesses do Novo Banco“.

A deputada Mariana Mortágua (BE) questionou ainda Rui Fontes acerca do facto de os administradores do BES andarem “em voos privados para verem jogos da bola com Luís Filipe Vieira”.

“Isso não era visto totalmente como negativo”, respondeu, já que esses factos permitiam-lhe “achar” que os administradores “tinham um profundo conhecimento dos negócios do cliente e o que estavam a desenvolver no Brasil”.

“Não tinha a perceção que havia uma gestão contra os interesses do Banco Espírito Santo. Isso não tinha”, disse o então diretor de risco do banco.

Já sobre Bernardo Moniz da Maia, o deputado Duarte Alves (PCP) deu conta de um parecer de risco do Novo Banco que referia não terem sido disponibilizadas contas da Sogema, e “mesmo assim o parecer” acabou por ser positivo.

Rui Fontes disse que o processo foi visto como “uma operação de reestruturação” que não acrescentou exposição ao devedor, tendo o Novo Banco ido em busca de “mais garantias, nomeadamente os ativos imobiliários da Mata do Duque”.

“Esse era o racional por detrás dessa reestruturação e potencialmente chegar aos ativos do Brasil. O que o departamento de risco não conseguia fazer, e na altura era impossível fazer, era uma análise total do grupo, porque não havia demonstrações financeiras“.

Rui Fontes considerou que “dos vários problemas que existiam no grupo Moniz da Maia, não haver informação financeira atualizada e credível era apenas um deles”.

“Quando temos operações de recuperação, muitas vezes não podemos decidir com base na informação ideal. Decidimos com base na informação possível”, tendo sido entendido na altura ter sido “favorável” fazer uma reestruturação “em que dentro do grupo Sogema não sairia mais dinheiro”, disse Rui Fontes.

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