Calçado português volta a Milão mais pequeno e menos luxuoso

Os industriais estão de regresso à maior feira de calçado do mundo, com a comitiva reduzida a um terço, quase sem referências premium, mas confiantes na retoma e já com mais 19 viagens no calendário.

A indústria portuguesa está de regresso à maior feira de calçado do mundo, que se realiza em Milão de 19 a 21 de setembro, com uma comitiva reduzida a 34 empresas. É quase um terço daquele que era o número de participantes nacionais nas edições da Micam realizadas antes da pandemia de Covid-19.

Paulo Gonçalves, o porta-voz da associação do setor (Apiccaps), explica, em declarações ao ECO, que esta participação mais reduzida se deve, por um lado, ao “clima de alguma indefinição” que ainda subsiste entre os empresários – “há todas as dúvidas e mais algumas no horizonte”, desabafa – e, por outro, à ausência confirmada de muitos visitantes asiáticos e americanos.

A organização aponta para “relativamente poucos” clientes provenientes de fora da Europa, sendo que os mercados extracomunitários foram ganhando peso ao longo da última década, até valerem quase 20% das exportações do calçado português. E esta feira na capital da moda italiana sempre foi até mais relevante para conseguir chegar a clientes do Canadá, Estados Unidos, Rússia, Japão, China ou Coreia do Sul.

“Não deixa de ser, de certa forma, frustrante porque o setor está a recuperar, a dar os primeiros sinais [de retoma] nos mercados externos, mas estamos sempre dependentes da evolução da pandemia e não está a acontecer tudo ao mesmo tempo nos diferentes países”, sustenta Paulo Gonçalves, falando, ainda assim, desta presença em Itália como “o primeiro grande momento deste ano” para os industriais.

"O online é importante, mas colocar a qualidade dos nossos sapatos na mão de um profissional do setor, achamos que continua a fazer alguma diferença.”

Paulo Gonçalves

Porta-voz da associação do calçado (Apiccaps)

Se este já tivesse sido um ano normal, a Apiccaps teria cerca de 200 empresas a participarem em 60 feiras espalhadas pelo mundo, em vez das quatro em que estiveram envolvidas até este momento. O responsável fala numa “machadada grande nas aspirações” deste setor e de algo que “limita muito a abordagem aos mercados externos”, uma vez que as fábricas nacionais exportam 98% do que produzem.

Tal como noutras áreas, também o calçado se virou para o online e fez um investimento inédito na promoção digital. Ao abrigo de um projeto da Apiccaps designado “Valorização da Oferta”, as empresas estão este ano a investir cerca de três milhões de euros só em marketing digital. Porém, “aquele serviço de proximidade, aquela relação próxima que tínhamos com os clientes, de certa forma perdeu-se neste ano e meio”.

“Por isso, estamos muito sedentos de voltar a viajar, aos mercados, ao contacto com os profissionais do setor. Até porque o calçado tem algumas especificidades, como a espessura da pele, o peso… O online é importante, mas colocar a qualidade dos nossos sapatos na mão de um profissional do setor, achamos que continua a fazer alguma diferença”, completa Paulo Gonçalves.

Tiro de partida para 19 ações no exterior

Na Fiera Milano, que por estes dias volta a ser o epicentro da indústria mundial de calçado para a apresentação das coleções para a próxima estação primavera / verão, vão estrear-se dois projetos portugueses: My Cute Pooch e Hugo Manuel / Hupa Shoes. De resto, a comitiva que vai receber a visita do secretário de Estado da Economia, João Neves, é dominada por exportadoras de média e grande dimensão e, face ao histórico, tem muito menos empresas com sapatos de luxo.

O gestor de comunicação da Apiccaps relata que a maioria dessas produtoras, apostadas sobretudo no estilo clássico, não vai estar desta vez na feira de Milão, cuja edição prevista para fevereiro deste ano acabou por ser cancelada devido às restrições aos eventos naquele período. Esse segmento foi um dos mais penalizados pela pandemia e “é normal que ainda esteja à espera de um momento de maior normalização” do negócio para voltar às feiras internacionais.

O empresário Luís Onofre é presidente da Apiccaps.Octávio Passos / Lusa

Na partida para Itália, os industriais mostram-se confiantes de que a Micam possa ser “o início de uma coisa muito boa” e “um novo momento de afirmação do calçado português nos mercados internacionais”. Até porque – assim o permita a evolução da crise sanitária no Ocidente e no Oriente –, para os próximos seis meses estão calendarizadas 19 ações promocionais no exterior: estão concentradas sobretudo no primeiro trimestre de 2022 e incluem os regressos aos Estados Unidos e ao Japão.

Para já, estas são as marcas e fabricantes portugueses que vão estar na Micam até terça-feira: Aerobics / Bella B, Ambitious, Bemood, Cloud Footwear, Coxx-Borba / Thegrls, Cruz de Pedra, Darita / Friendly Fire, Dark Collection, Esc, Felmini, Flex&Go, Hugo Manuel / Hupa Shoes, Ibershoes / Creator, J. Reinaldo, Jooze / Pretty Love, Last Studio, Mariano Shoes, Men’s Devotion, Miguel Vieira, My Cute Pooch, Overstate, Pedreira, Pratik / Imagini, Private Label, Profession: Bottier, Sónia Patrício / Bisous Confiture, Storm, Suave, Tatuaggi, Tentoes, True Shoes, Urbanfly by Vegastyle e Walkys.

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