Cinco riscos que preocupam os banqueiros centrais

Christine Lagarde, Jerome Powell, Andrew Bailey e Haruhiko Kuroda estão otimistas, mas veem fatores de incerteza a curto, médio e longo prazo que partilharam no Fórum do BCE.

A economia mundial está em franca recuperação e os quatro líderes dos principais bancos centrais — Christine Lagarde, Jerome Powell, Andrew Bailey e Haruhiko Kuroda — dizem todos que até ao final deste ano ou início do próximo o PIB terá voltado aos níveis pré-pandemia. No entanto, os governadores e presidentes do BCE, Reserva Federal, Banco de Inglaterra e Banco do Japão continuam a ver fatores de incerteza e risco, no curto, médio e longo-prazo, que podem afetar o crescimento. Estes são os principais que elencaram no Fórum do BCE, que decorreu esta quarta-feira.

Rutura das redes de abastecimento

A procura dos consumidores está a recuperar a um ritmo tão acelerado que a oferta não consegue dar resposta, criando um entrave à economia. “A procura por bens tecnológicos e automóveis está a crescer muito rapidamente. As cadeias de abastecimento não conseguem acompanhar”, diagnostica Haruhiko Kuroda, presidente do Banco do Japão. Constrangimentos que estão a intensificar-se e a preocupar os banqueiros centrais.

Um dos fatores de incerteza que mais a preocupa Christine Lagarde são “os constrangimentos nas cadeias de abastecimento que temos visto nos últimos meses meses e que em alguns casos aceleraram”. “É frustrante ver que estes problemas nas cadeias de abastecimento não estão a melhorar. Na verdade, na margem, estão aparentemente a ficar piores. Vão continuar no próximo ano e manter a inflação elevada”, assinalou, por sua vez Jerome Powell. O presidente da Reserval Federal disse mesmo que estão a travar o crescimento da economia.

Inflação

Todos os banqueiros centrais insistem que ela será transitória e não justifica, por ora, um maior aperto da política monetária. Mas no Fórum BCE ficou claro que este é um tema que impede os banqueiros centrais de dormir melhor. Quer Christine Lagarde, quer Jerome Powell afirmaram que estão a monitorizar de forma muito próxima as expectativas de inflação. Se o período de subida dos preços “for mais prolongado, será que muda a forma como as pessoas pensam sobre a inflação?”, questionou o presidente da Reserva Federal, garantindo que está atento. Não sendo esse o cenário atual, se for necessário subir as taxas diretoras, é o que fará.

Evergrande

A possível falência do gigante chinês do imobiliário tem deixado os investidores nervosos, que temem um contágio ao resto da economia, mas Haruhiko Kuroda garante que não há motivo para receios de maior. “O problema do imobiliário na China é diferente do Japão em 1998 ou da crise do subprime nos Estados Unidos em 2008. Não parece existir um investimento extremamente especulativo no mercado imobiliário”, analisa o governador do Banco do Japão.

“As autoridades chinesas estão a tomar várias medidas para conter um investimento excessivamente especulativo. Neste momento é improvável que este problema vá afetar o mercado imobiliário chinês como um todo ou a economia chinesa inteira”, considera Haruhiko Kuroda. “Não vejo uma grande crise financeira a emergir na China e espalhar-se para o resto do mundo”, concluiu.

Ciberataques

Questionados sobre os principais riscos financeiros, quase todos os banqueiros centrais apontaram os cibertataques. “Um ataque bem-sucedido a uma grande instituição ou plataforma financeira” pode desencadear uma crise, na opinião de Jerome Powel. A falta de liquidez nos mercados monetários de curto prazo que ocorreu durante uma fase da pandemia também preocupa o presidente da Reserva Federal e o governador do Banco de Inglaterra, que estão a estudar medidas.

Olhando mais para o longo prazo, Christine Lagarde aponta as alterações climáticas: “Pode levar a instabilidade financeira se ignorarmos completamente as consequências sobre o trabalho que é feito, sobre os ativos detidos e na transição que planeamos daqui para frente”.

Moedas digitais

O crescimento das moedas digitais ainda não dá dores de cabeça aos banqueiros centrais, pelo menos no discurso público, mas estão a seguir a sua evolução atentamente. “Os cripto ativos não terão um impacto forte no sistema monetário. O papel do dólar como a moeda mais importante não deverá mudar”, considera Haruhiko Kuroda. Já as stablecoins, que são moedas digitais privadas que seguem as divisas oficiais dos bancos centrais, “podem ter algum impacto no sistema financeiro” e ser “motivo de preocupação”, defende o governador do Banco do Japão.

Jerome Powell garante que a Reserva Federal irá garantir a segurança e estabilidade do sistema de pagamentos nos Estados Unidos. O tema está, no entanto, a ser estudado e será divulgado um relatório que irá para consulta pública e servirá para orientar a política da Fed. Reconheceu que a inovação digital está a acontecer muito rapidamente e também mostrou preocupação sobre as stablecoins: “Podem tornar-se muito populares e estão fora da regulação”.

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