Indústria dos casamentos vive lua-de-mel depois da pandemia

As empresas ligadas a casamentos vivem uma "retoma galopante" depois dos cancelamentos no início da pandemia. Confira a agenda preenchida nas quintas, cabeleireiros, estilistas ou agências de viagens.

Em 2020, devido à pandemia, o dia de sonho transformou-se num pesadelo e a indústria dos casamentos ficou totalmente paralisada, sem perspetivas de retomar e com prejuízos avultados. Passados 18 meses, os empresários do setor dizem que os portugueses “voltaram a ganhar confiança para casar” e há quem fale mesmo numa “retoma galopante”. O cluster está a viver uma lua-de-mel após períodos conturbados.

Depois do Governo dar luz verde à realização dos casamentos, os telefones que não tocaram durante meses voltaram a ouvir-se com pedidos de reagendamento. A passadeira vermelha voltou a ser estendida e as agendas começaram a ficar lotadas porque o desejo de casar era maior do que o medo provocado pela pandemia. A indústria começou a ver a luz ao fundo do túnel e a época alta foi um sucesso, com o número de casamentos a duplicar este ano, mesmo ficando ainda aquém dos valores pré-pandemia.

Depois de sofrer uma quebra de 95% no volume de negócios, a Quinta do Roseiral, na Ericeira, já tem cerca de 60 casamentos agendados para o próximo ano. “Houve um boom na procura. Temos a agenda bastante preenchida e a perspetiva é boa. No entanto, temos de ter em conta que adiámos casamentos deste ano para o próximo”, realça a proprietária, Ana Batalha.

A líder da Quinta do Roseiral destaca que “já existe uma grande procura e, de repente, toda a gente começou a remarcar casamentos”. Ana Batalha brinca e diz que “foi como cair em cima uma bomba atómica”. “As pessoas perceberam que a pandemia não vai passar e decidiram avançar com o casamento”, adianta.

Apesar de fazer um balanço positivo, a proprietária da Quinta do Roseiral conta que, com o aumento da procura, “os preços dos fornecedores ficaram mais caros”. “Estamos a assistir a um aumento de tudo: ingredientes, energia, flores, mão-de-obra”. Apesar deste aumento, a Quinta do Roseiral não aumentou os preços, que rondam os 125 euros por pessoa.

O vestido de noiva é outro ponto alto nos preparativos. O estilista Gio Rodrigues conta ao ECO que estão a assistir a uma “retoma galopante” e que “nunca [fez] tantos vestidos de noiva em cima da hora como este ano”. Se do lado das noivas não tem mãos a medir e teve de recusar pedidos, do lado dos noivos a procura duplicou, quando comparado com os anos anteriores à pandemia.

“Estamos a assistir a uma retoma galopante e já começámos com essa retoma neste verão. Tenho noivas que querem casar para o próximo ano e já não conseguem porque as quintas estão lotadas”, conta o estilista, que é uma referência na moda e já vestiu famosos como Cláudia Jacques, Cuca Roseta, Ângelo Rodrigues, Luciana Abreu, Marina Monteiro, entre muitos outros.

 

A equipa de Gio Rodrigues já está a fazer vestidos para setembro do próximo ano. O estilista produz, em média, 150 vestidos de noiva por ano. Apesar da “retoma galopante”, diz que ainda não conseguiu chegar aos níveis de faturação que tinha antes da pandemia. Mas queixa-se da falta de capacidade e tempo: “Tivemos de recusar muitos clientes porque foi tudo muito em cima da hora”.

No dia do enlace, o fotógrafo e o videógrafo são essenciais para registar essas memórias para a posteridade. Na empresa de produção de vídeo NativeBirds, localizada em Vila Nova de Gaia,a retoma já é uma realidade, mas ainda está a filmar casamentos que foram adiados no ano passado devido à pandemia de Covid-19.

“Este ano, a nível de volume de trabalho já foi normal e correspondeu a um ano pré-pandemia. No entanto, em 2022 ainda estamos a fazer trabalho de 2020, vamos ganhar dinheiro que já devia ter sido ganho o ano passado. Os casamentos funcionam, maioritariamente, aos fins de semana e as datas são contadas. Se tivermos as datas preenchidas com casamentos de 2020, ficamos com menos abertura para aceitar novos trabalhos”, constata Edgar Félix, cofundador da Native Birds Films.

Em 2020 filmaram apenas dois casamentos. Este ano foram 25 e a agenda para o próximo ano está cheia. Já têm agendados 20 casamentos, embora metade seja de eventos adiados no ano passado. Edgar Félix considera que “os noivos ganharam confiança para voltar a casar”, o que é positivo para o negócio. Num ano normal faz entre 25 a 30 casamentos. Na Native Birds, o serviço de vídeo pode começar nos 1.800 euros.

Além da quinta e do vestido, o cabelo e a maquilhagem é outro serviço obrigatório para as noivas. Ao contrário da Quinta do Roseiral e da Native Birds Films, no salão Make Up N´ Hair, em Braga, a retoma ainda não está a ser sentida em larga escala. A proprietária, Ana Paula Antunes, teve uma “procura repentina” até outubro, mas ainda “não está a ser aquela procura a 100%, como era habitual”. Apesar de ter algumas reservas, só a partir de janeiro e fevereiro é que a o negócio “voltará à normalidade”.

Os noivos também estão cada vez mais vaidosos e não descartam um penteado especial. Na icónica barbearia Bigorna, no centro do Porto, estão a “voltar em força” e na época alta atendeu entre dez a 15 clientes destes por mês. Carlos Silva, conta que estão a ter uma procura no segmento dos casamentos igual a 2019. “Além dos noivos, temos muita procura dos amigos e familiares do noivo”, sublinha o proprietário.

“Os noivos de hoje em dia são muito vaidosos e não dispensam esse cuidado. A grande maioria faz a marcação antecipada, pensa bem no look que quer para o casamento. São muito preocupado com a sua imagem”, aponta Carlos Silva.

É neste contexto de retoma que regressa a Exponoivos, a maior feira de casamentos, em Lisboa e em Matosinhos. O evento arranca na capital este sábado, no Parque das Nações, e segue para a Exponor nos dias 30 e 31 de outubro. Do espaço para a festa até às flores e animação, vão estar presentes no evento cerca de 300 expositores, inseridos em 40 subsetores. É o caso da Quinta do Roseiral ou da Agência Viagens a La Carte. Nos dois fins de semana, a organização espera 50 mil visitantes.

O embaixador da Exponoivos, António Brito, conta ao ECO que “depois da angústia vivida pela indústria dos casamentos e pelos noivos, passados 18 meses de paragem absoluta, o cluster está a retomar”. António Brito está confiante com a edição da Exponoivos e adianta que existe “um grande interesse” por parte das empresas em participar na feira e uma “grande certeza que a retoma está de volta”.

Seguindo o mote #lovemustgoon, o embaixador da Exponoivos calcula que entre 60% a 70% dos casamentos não se realizaram em 2020 e muitos também não aconteceram este ano. “Em 2022 vai existir uma enorme procura porque vai acumular todos os casamentos que foram adiados”, perspetiva.

António Brito destaca que a indústria dos casamentos movimentou cerca de 900 milhões de euros em 2019. “Estamos a falar de cerca de 35 mil casamentos por ano e, em média, um casamento para 100 pessoas custa cerca de 25 mil euros”, resume o embaixador da Exponoivos. No ano de pandemia houve menos de 15 mil casamentos.

Agências otimistas. Maldivas é o destino

As viagens ficaram suspensas devido à pandemia e as agências sofreram um impacto brutal com todas as restrições e lockdowns. A Agência Viagens a La Carte, localizada em Tavira, não escapou à crise que assombrou vários setores de atividade. Depois de registar no ano passado uma quebra de 90% no volume de negócios, os dias felizes estão de volta à agência.

Sofia Santos, proprietária da Agência Viagens a La Carte, diz ao ECO que este ano já houve bastantes luas-de-mel e, quando comparado com 2019, a “diferença não é significativa”. A proprietária indica que “os noivos estavam desejados de conseguir dar esse passo na vida e voltar a viajar”. E já tem várias marcações para 2022.

MaldivasRomaneau por Pixabay

Maldivas e Bayahíbe, na República Dominicana, são os destinos mais procurados pelos casados de fresco. Depois de quase dois anos limitados, os noivos abriram os cordões à bolsa e até “alterarem os destinos de lua-de-mel para locais mais dispendiosos“. Uma lua-de-mel nas Maldivas, em regime de tudo incluído, pode custar, em média, 2.000 euros por pessoa. Para Byahibe, os preços variam entre 1.000 e 1.500 euros.

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