Afaplan ganha contratos de 18 milhões na ferrovia e nas renováveis brasileiras

O grupo de engenharia de Gaia, que emprega 500 pessoas, cresce à boleia das obras na via-férrea em Portugal e dos parques solares e eólicos no Brasil, preparando-se já para o novo aeroporto de Lisboa.

A Afaplan conquistou vários contratos no setor da ferrovia em Portugal e na área das energias renováveis em Brasil, que são os dois países que mais pesam na atual carteira de projetos da empresa de engenharia de Gaia. No total, essas que são as maiores obras em curso, com um prazo de duração de dois a três anos, valem cerca de 18 milhões de euros, disse ao ECO o cofundador e administrador, Gonçalo Sousa Soares.

No parque eólico Lagoa dos Ventos, em construção no estado do Piauí, tem como cliente a Enel Green Power, subsidiária de energias renováveis do grupo italiano Enel, com quem já colabora há seis anos. O serviço neste que é apontado como o futuro maior parque eólico da América do Sul termina em outubro do próximo ano e mobiliza mais de 30 quadros da Afaplan.

No norte do estado de Minas Gerais, a empresa portuguesa tem atualmente cerca de duas dezenas de técnicos a fazer a gestão do Complexo Solar Janaúba. Com um prazo de execução até março de 2023, o megaempreendimento dedicado à energia solar é o primeiro trabalho para a Elera Renováveis, a nova designação adotada pelo fundo de investimentos canadiano Brookfield para as operações neste segmento.

Gonçalo Sousa Soares, administrador da Afaplan.

Fundada em 1985, a Afaplan é uma empresa de serviços para o controlo de qualidade, atuando como “braço direito” do dono de obra para fiscalizar a gestão dos projetos e a construção propriamente dita. Do outro lado do Atlântico, onde emprega mais de 300 pessoas (80% têm curso superior), faz EPCM – Engineering, Procurement and Construction Management também para outras multinacionais, como as francesas EDF e Voltalia ou as portuguesas EDP e Galp.

“Começámos a trabalhar nas energias renováveis em Portugal em 2004, mas no Brasil apenas em 2014. E à medida que vamos ganhando notoriedade, vamos ganhando mais e mais clientes. (…) Hoje em dia, o Brasil está concentrado praticamente a 100% nas renováveis. Já eram nossos clientes noutro tipo de energias, nomeadamente fósseis, como acontecia no caso da Galp. Eles viraram para as renováveis e nós com eles”, resume ao ECO o administrador da empresa nortenha.

À medida que vamos ganhando notoriedade, vamos ganhando mais e mais clientes. Eles viraram para as energias renováveis e nós com eles.

Gonçalo Sousa Soares

Cofundador e administrador da Afaplan

em Portugal, onde tem perto de duas centenas de funcionários (dos quais seis em cada dez com licenciatura), o grande motor atual são os contratos para a Infraestruturas de Portugal na área ferroviária, estando envolvida em cerca de uma dezena de projetos. O mais significativo para a faturação da empresa é o da modernização da Linha da Beira Alta, ao longo de mais de 85 quilómetros de via-férrea entre Mangualde, Celorico da Beira e a Guarda, a terminar em dezembro de 2023.

Os melhoramentos nas linhas de Cascais – está a acompanhar a instalação de sistemas de controlo-comando e sinalização eletrónica, visando a segurança dos passageiros -, de Leixões e do Douro, além da instalação do metrobus do Mondego e do terminal de mercadorias da Bobadela (Linha do Norte) são outras obras que estão a fiscalizar em termos de custos e de planeamento, “para que o dono de obra acabe por comprar exatamente aquilo que deseja e o que está projetado”.

Abordar concorrentes para “aterrar” nos aeroportos

O crescimento no Brasil, onde praticamente duplicou a faturação (em reais) nos últimos dois anos, e também no mercado doméstico, sobretudo à boleia da ferrovia, mas também da reabilitação de edifícios, vai fazer a Afaplan terminar o exercício de 2021 com um volume de negócios superior a 18 milhões de euros. Compara com 12,2 milhões em 2019 e 13,5 milhões de euros no ano passado.

A próxima aposta “estratégica” é na área das infraestruturas aeroportuárias, em que chegou a prestar serviços para pistas e taxiways e para edifícios e infraestruturas de serviços de tráfego aéreo, antes da eclosão da crise financeira a partir de 2008. Gonçalo Sousa Soares conta que a empresa se está a “posicionar para os futuros trabalhos aeroportuários, nomeadamente para o novo Aeroporto de Lisboa, que [acredita] irão acontecer nos próximos anos”.

Estamos já a conversar com alguns concorrentes para nos candidatarmos em conjunto a futuros projetos na área das infraestruturas aeroportuárias.

Gonçalo Sousa Soares

Cofundador e administrador da Afaplan

“Relativamente aos aeroportos, vamos fazer parcerias com empresas que também atuam nesta área porque os investimentos aí são muito grandes e exigem diversas especialidades. Seja na área da gestão e fiscalização, seja até noutras mais alargadas, como a revisão de projetos, que nos interessam. É importante termos capacidade instalada e muita experiência. Estamos já a conversar com alguns concorrentes para nos candidatarmos em conjunto a futuros projetos. Empresas portuguesas e estrangeiras, pois em Portugal há algum know-how, mas acreditamos que não chega para estes projetos grandes”, frisa o empresário.

6 escritórios e obras em 15 países

Embora o foco esteja atualmente concentrado em Portugal e no Brasil, que em conjunto representam 95% das vendas, a empresa de engenharia tem portefólio para apresentar em mais de uma dezena de países em quatro continentes: Angola, Benim, Cabo Verde, Costa do Marfim, Cuba, Espanha, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Itália, Moçambique, Omã, Polónia, República do Congo e Roménia.

A Afaplan tem dois escritórios em Portugal (Gaia e Lisboa), outros tantos no Brasil (São Paulo e Mossoró) – entrou no país em 1998, embora entre 2002 e 2010 quase não tenha tido atividade – e ainda estruturas físicas mais pequenas em Maputo (Moçambique) e em Luanda (Angola). A mão-de-obra é exclusivamente local, o que leva Gonçalo Sousa Soares a descrever o recrutamento como “o grande desafio”, dadas as diferenças culturais e a necessidade de “adaptação às metodologias locais”.

O engenheiro civil nascido há 62 anos em Lisboa, sócio do Sporting CP e formado na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) – onde casou e ficou a viver depois do curso -, tem como sócios Tomás Saragossa Mendes, que é um ano mais velho e tirou o mesmo curso no IST; Maria José Fonseca, 51 anos, que é economista e licenciada na Faculdade de Economia do Porto (FEP); e ainda Rui Oliveira, 59 anos, formado igualmente na FEUP.

No “currículo”, a Afaplan apresenta vários indicadores para evidenciar a dimensão total das obras em que já participou: 3,6 milhões de metros quadrados de edifícios, 2.900 quilómetros de rodovias e ferrovias, 11 aeroportos e 16 GW de potência instalada de energias renováveis (10 GW no Brasil e 6 GW na Europa).

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