Seca: Atividade de inverno comprometida e pecuária a entrar em “gravidade extrema”

  • Lusa
  • 26 Janeiro 2022

Avizinha-se um “ano terrível” para os agricultores, alerta a CAP, que está surpreendida com inexistência de uma "mensagem oficial dirigida a população em geral para que olhe para a torneira".

A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) alertou que, face à seca, toda a atividade de inverno está comprometida, destacando que a pecuária está a entrar em situação de “gravidade extrema”, pedindo a intervenção do Governo. “Toda a atividade de inverno está comprometida e a entrar em situação de gravidade extrema no que diz respeito à pecuária e às culturas de outono e inverno”, afirmou o presidente da CAP, Eduardo Oliveira e Sousa, em declarações à Lusa.

Segundo este responsável, a seca começou por afetar a região Sul, mas, neste momento, já afeta praticamente todo o território. Eduardo Oliveira e Sousa lembrou que a chuva “é fundamental” para o abastecimento das águas subterrâneas e para a humidade superficial, consumida pelas plantas.

Assim, perante os dias de sol que se têm registado, as plantas entram em “atividade fotossintética expressiva” e, consequentemente, em carência por não terem humidade. A pecuária está a ser especialmente afetada, encontrando-se perto de uma “fase muito complicada” no que concerne à alimentação animal. Por outro lado, as barragens estão em níveis “historicamente baixos” e os rios sem um caudal “com alguma expressão”.

A CAP disse ainda que apenas poderia ser feita alguma coisa para contornar a situação se o país, sobretudo na região do Algarve, tivesse dessalinizadoras, evitando o consumo dos volumes armazenados nas barragens para o abastecimento humano e jardins públicos.

“O panorama é muito preocupante. Estou muito admirado por não haver já uma mensagem oficial dirigida a população em geral para que olhe para a torneira, tenha cuidado com os abastecimentos, não desperdice água de maneira nenhuma. Todo um cuidado coletivo em relação à água porque o problema da seca não se resume ao mundo rural e aos agricultores. A seca vai atingir-nos a todos. As carências começam na agricultura, mas vai haver um dia em que chegam às nossas torneiras nas nossas casas”, vincou.

Acresce a isto a subida dos preços dos fatores de produção, nomeadamente, dos combustíveis, energia elétrica ou da matéria-prima. Conforme exemplificou a confederação, no caso do aluguer de barcos para o transporte de cereais e outros produtos para o fabrico da alimentação animal, o aumento foi de até 500%. Assim, avizinha-se um “ano terrível” para os agricultores e a situação pode piorar se continuar a não chover.

No caso das plantas em dormência, como as fruteiras, se chover no princípio da primavera, “as coisas podem até não correr muito mal”, mas caso se verifique o contrário, será como “uma mancha de óleo a arrastar-se para todos os setores”. Pode mesmo não ser possível avançar com algumas culturas, o que será um “problema gravíssimo até pela potencialização dos desastres de verão associados aos fogos”.

Os preços para o consumidor vão também ser impactados pela seca, devido a necessidade de “reforçar a importação, com custos acrescidos de transporte e logística”.

Perante esta situação, a CAP notou que a Política Agrícola Comum (PAC) é um instrumento financeiro que pode ajudar a mitigar o impacto, mas pediu a intervenção do executivo. “É bom que o Governo comece rapidamente a pensar em ajudar os setores que manifestamente serão mais afetados por esta situação”, concluiu.

Na semana passada, a climatologista Vanda Cabrinha já tinha considerado que a situação de seca em Portugal, especialmente a Sul, começa a ser preocupante, salientando que ainda não chegou aos piores níveis dos últimos 20 anos para esta altura.

Em declarações à agência Lusa, a climatologista indicou, na altura, que a situação de seca “entre fraca e moderada” já se verificava no último trimestre de 2021 e que não há para já previsões de chuva significativa, pelo menos até ao fim de janeiro.

É uma situação anormal para esta altura. Não está ao nível de uma seca como tivemos em 2005. Mas se entre o final de janeiro e fevereiro não houver precipitação, a situação poderá agravar-se imenso”, referiu.

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