Israelita Aman passa cheque de dez milhões para expandir consultora de Lisboa

A HCCM Consulting, que nasceu como Netpeople na ParaRede, foi vendida pela HCapital ao grupo Aman. Vai duplicar a equipa portuguesa e tem dez milhões para investir noutras empresas de tecnologia.

O grupo israelita Aman, que tem operações em oito países, uma faturação de 220 milhões de euros por ano e um total de 2.500 colaboradores, comprou a portuguesa HCCM Consulting, especializada em tecnologias de informação (TI). O valor do acordo não foi divulgado pelas partes envolvidas, mas o presidente executivo da consultora lisboeta, que se prepara para recrutar mais uma centena de profissionais, adianta ao ECO que a multinacional fundada em 1973 em Telavive tem um pacote de dez milhões de euros adicionais para investir “a curto prazo” em Portugal.

Além de “reforçar a empresa com mais formação e qualificações para responder aos novos projetos internacionais [trazidos pelos novos donos], que são muitas vezes mais ambiciosos”, Rui Pereira da Silva está encarregado de encontrar outras empresas nacionais que tenham “capacidade de desenvolvimento” e uma dimensão entre 30 a 50 consultores. “É o tipo de negócios que queremos adquirir. Mas tal como encontrar profissionais com experiência, também é muito difícil comprar empresas [com este perfil] porque está tudo ocupado”, frisa o gestor da antiga NetPeople.

Com clientes nos setores da banca, seguros, serviços públicos, energia, retalho, telecomunicações e indústria, a HCCM Consulting tem três linhas de negócio principais: a área de desenvolvimento, baseada em parcerias com a Microsoft e com a Outsystems; a área de enterprise applications, com a implementação de projetos SAP em todo o mundo; e ainda os serviços profissionais e de nearshoring, em que coloca equipas a prestar serviços em clientes no estrangeiro, sendo neste momento o segmento mais representativo no volume de negócios, que rondou os cinco milhões de euros em 2021.

Os projetos internacionais permitem pagar melhor às pessoas porque são diferentes [dos valores praticados] em Portugal. A questão do custo é sempre importante, mas estamos mais folgados.

Rui Pereira da Silva

CEO da HCCM Consulting

“Temos a ambição de crescer 35% nas receitas em 2022. Por um lado, este investimento traz um conhecimento que nos faz ampliar a oferta em Portugal, junto dos nossos atuais clientes, em áreas que não tínhamos e em que o grupo Aman é bastante forte, como é o caso do CRM [customer relationship management] ou da cibersegurança. Por outro lado, com os clientes que eles nos estão a trazer todas as semanas e a que estamos a tentar responder”, relata o CEO. É o caso de um banco de Israel que quer ter um nearshore em Portugal e que, como acontece noutros grandes projetos, “permite pagar melhor às pessoas porque são diferentes” dos valores que se praticam no mercado interno. “A questão do custo é sempre importante, mas estamos mais folgados”, acrescenta.

A consultora nacional emprega atualmente 117 pessoas e quer terminar este ano com mais meia centena de colaboradores em termos líquidos, o que implica “contratar, se calhar, 80 ou 100 porque outras vão sair”. O plano a dois anos prevê a duplicação da equipa em Portugal e, além da capital – tem escritório na Avenida Duque d’Ávila –, está também à procura de mais profissionais experientes no Porto e em Aveiro. Rui Pereira da Silva sublinha que “até há dois anos, sempre que [queria] contratar várias pessoas numa localidade tinha de abrir um escritório, mas agora trabalham remotamente, não obriga a um espaço físico”.

Netpeople no berço, Glintt e HCapital na “incubadora”

Fundada em 1995, a antiga Netpeople nasceu dentro do histórico grupo ParaRede – estreou-se na Bolsa portuguesa a 1 de julho de 1999 e tinha Carlos Coelho de Campos como presidente e acionista principal – e em 2008 acabou por ser adquirida por um valor de 5,3 milhões de euros pela Glintt, pertencente ao universo empresarial da Associação Nacional de Farmácias (ANF). Já em 2015, em conjunto com a Glintt BPO e a Glintt Tecnology Enabled Services, acabou por passar para as mãos da sociedade de private equity HCapital, que tem João Arantes Oliveira como managing partner, e troca o nome para New Outsourcing Company.

No ano seguinte, este fundo investiu igualmente na Green Avenue Consulting, que tinha Rui Pereira da Silva como sócio principal, e propôs ao gestor de 51 anos, natural de Rio Maior, fundir as duas empresas e ficar a liderar a nova HCCM Consulting, a partir de 1 de novembro de 2017. A chegada da pandemia de Covid-19 travou os planos de desinvestimento no prazo previsto, ao final de cinco anos, que acabaram por ser adiados até ao verão de 2021, quando encontrou este novo investidor israelita, que tem atualmente 90% das ações (as restantes pertencem ao presidente executivo) e encara este investimento como uma expansão das suas operações internacionais.

Rui Pereira da Silva, CEO da HCCM Consulting

“Portugal está na moda do ponto de vista de TI. O objetivo deles era absorver a nossa experiência porque temos áreas em que eles não trabalham – somos parceiros da SAP e da Outsystems na implementação de projetos – e reforçaram a oferta também para os outro países em que estão presentes. Mas o que vieram procurar foi recursos [humanos]. Nos países em que estão há já uma falta muito grande. Aqui também, mas acreditam que ainda existe a possibilidade de encontrar bons consultores especializados e profissionais nas áreas de desenvolvimento de software. (…) Sempre numa ótica de nearshoring, isto é, criar equipas em Portugal para prestar serviços para projetos fora do país”, justifica.

No portefólio de clientes da HCCM Consulting, que renderam cerca de cinco milhões de euros em 2021, destacam-se referências como a EDP, o banco Santander Totta, o Ministério das Finanças ou a Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Antes da aquisição do grupo Aman, em meados do ano passado, a consultora já tinha uma “pequena percentagem” de clientes internacionais (é o caso do Lidl) ou de projetos no estrangeiro (como o sistema integrado de gestão instalado em várias geografias onde o grupo EDP está presente), mas a faturação era quase sempre feita em Portugal e não era contabilizado como exportação de serviços.

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