Portugal financia-se em 1.250 milhões a curto prazo com juros mais negativos
Os custos de financiamento desceram ligeiramente na emissão de dívida pública a 11 meses e a três meses, ao contrário do que aconteceu na emissão de longo prazo na semana passada.
Apesar do aumento dos juros da dívida portuguesa no mercado secundário nas últimas semanas, fruto dos sinais de normalização da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), os custos de financiamento de Portugal não se agravaram no leilão de obrigações de curto prazo que a agência que gere a dívida pública realizou esta quarta-feira, ao contrário do que tinha acontecido na emissão a longo prazo da semana passada. Pelo contrário, a emissão conseguiu juros mais negativos.
De acordo com os dados da Reuters, nos títulos com maturidade a 11 meses, o IGCP financiou-se em 958 milhões de euros, com uma taxa de -0,555%, em comparação com -0,55% no leilão anterior. A oferta superou em 1,74 vezes a procura, face a 1,67 vezes no leilão anterior.
Nos títulos com maturidade a três meses, o IGCP financiou-se em 292 milhões de euros, com uma taxa de -0,61% — um juro negativo recorde neste prazo –, face a -0,592% no leilão anterior. A oferta superou em 3,69 vezes a procura, mais do que o rácio de 2,71 do leilão anterior.
Portugal regista taxas mais negativas
Fonte: IGCP
A procura atingiu 1.078 milhões de euros para os Bilhetes do Tesouro a 3 meses e 1.663 milhões de euros para os BT a 11 meses. Portugal colocou o máximo pretendido nesta operação, mas os investidores demonstraram muito mais apetite por dívida portuguesa de curto prazo, o que acabou por contribuir — quantas mais ordens o IGCP recebe, mais competitivo é o preço final — para um alívio ligeiro dos juros.
Esta quarta-feira a agência que gere a dívida pública realizou dois leilões de linhas de Bilhetes do Tesouro (BT) com um montante global de 1.250 milhões de euros, com maturidades em 20 de maio de 2022 e 20 de janeiro de 2023, ou seja, a três meses e a 11 meses. Seria expectável um agravamento dos juros neste leilão por causa dos sinais de normalização da política monetária do BCE para travar a aceleração da taxa de inflação na Zona Euro, mas tal acabou por não acontecer.
A 16 de junho de 2021, na última emissão comparável, o IGCP emitiu 500 milhões de euros em Bilhetes do Tesouro a três meses à taxa média de -0,592%, ligeiramente acima dos 0,599% verificados na emissão anterior de 21 de abril. Na emissão a 11 meses foram colocados 750 milhões de euros em BT à taxa de juro média de -0,55%, superior à registada em 21 de abril, quando foram colocados 800 milhões de euros à taxa de juro média de -0,558%.
Na última emissão a curto prazo, a 19 de janeiro deste ano, Portugal colocou 1.500 milhões de euros em BT, montante máximo indicativo, a seis e a 12 meses, com as taxas de juro a caírem no prazo mais curto para -0,596% — um novo mínimo histórico — e a subirem no prazo mais longo para -0,574%, ligeiramente acima dos -0,594% da emissão anterior comparável.
Na última emissão a longo prazo, com leilões a nove e a seis anos, o IGCP já tinha colocado dívida com um juro bem mais elevado do que nas últimas operações comparáveis, tendo também contribuído um menor apetite pela dívida portuguesa por parte dos investidores. Portugal obteve 706 milhões de euros em Obrigações do Tesouro com maturidade em outubro de 2031 (nove anos), pelas quais pagou um juro de 1,008%. Numa outra linha, os títulos com maturidade em outubro de 2028 (seis anos) registaram um juro de 0,603% e permitiram ao Tesouro um “empréstimo” de 555 milhões.
Subidas dos juros não se refletem (ainda) nos prazos mais curtos, diz analista
Em reação aos resultados deste leilão numa nota divulgada esta quarta-feira, o analista Filipe Silva, do Banco Carregosa, explica que “apesar de termos vindo a assistir nas últimas semanas a uma subida do prémio de risco da dívida soberana europeia e por conseguinte na dívida nacional, tal movimento ainda não se reflete nas dívidas de curto prazo, onde as taxas ainda permanecem negativas“.
Tal acontece porque os mercados estão a antecipar uma subida gradual das taxas de juro, como tem dito a presidente do BCE, e não uma evolução abrupta. “Apesar de se esperarem no futuro taxas de juro mais elevadas, o mercado continua a acreditar que o movimento deverá ser gradual, sendo que é esse o fator que faz com que ainda não estejamos a ver o mesmo movimento na dívida de curto prazo“, nota o analista.
Será preciso, por isso, esperar mais algum tempo até se ver efeitos no mercado de curto prazo, nomeadamente pelas reuniões de política monetária do BCE e da Fed em março. “A inflação tem-se mostrado mais persistente do que inicialmente os bancos centrais esperavam, o que tem levado a um ajuste nas políticas monetárias globalmente, com os bancos centrais a anunciarem a redução ou mesmo fim dos programas de compra de ativos que estavam em vigor”, acrescenta Filipe Silva.
(Notícia atualizada pela última vez às 12h32 com comentário de Filipe Silva)
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