Vladimir Putin reconhece independência de Donetsk e Lugansk e envia tropas para as duas regiões

Putin reconheceu a independência das duas regiões e tropas russas já atravessam a fronteira para "manutenção de paz". Bruxelas fala em "clara violação dos acordos de Minsk" e acena com sanções.

Vladimir Putin reconheceu a independência de Donetsk e Lugansk da Ucrânia e já ordenou o envio de tropas para a duas regiões separatistas para “manutenção da paz”. A Comissão Europeia já tinha avisado que avançaria com sanções e diz agora tratar-se de uma “clara violação dos acordos de Minsk”, assegurando que vai reagir.

Num anúncio ao país, o Presidente russo afirmou que a Ucrânia foi criada pela Rússia, afirmando que Lenine, o ex-primeiro-ministro da União Soviética, foi o “autor e criador” da Ucrânia, avança o The Guardian. Num discurso fortemente marcado por uma revisão da História, disse ainda que a Rússia foi “roubada” pelo colapso da União Soviética e que a Ucrânia “nunca teve tradições do seu próprio Estado”.

Putin fez ainda uma ameaça direta à Ucrânia, avisando que a Rússia está “preparada para mostrar como é a verdadeira descomunização”. “Isso é o que eles [Ucrânia] chamam de descomunização… Vocês querem descomunização? Isso convém-nos. Mas não parem no meio do caminho. Estamos prontos para mostrar à Ucrânia o que a descomunização real significa“, disse o Presidente, citado pelo jornal britânico.

O Chefe de Estado da Rússia acusou ainda a Ucrânia de ser controlada pelo “estrangeiro”. Esses países “empurraram a Ucrânia para uma guerra civil”, deixando-a “dividida”. “A embaixada dos Estados Unidos controla diretamente a agência anticorrupção da Ucrânia”, acrescentou. “A Ucrânia é uma colónia dos Estados Unidos com um regime de fantoches. Os drones norte-americanos na Ucrânia estão constantemente a espiar a Rússia”.

Putin disse ainda que sondou os Estados Unidos quanto à possibilidade de a Rússia entrar para a NATO, mas que percebeu que a Casa Branca não estava disposta a isso. “Vou dizer algo que nunca disse em público: em 2000, quando Bill Clinton visitou Moscovo, perguntei-lhe como é que olhava para a possibilidade de a Rússia entrar na NATO“, recorda. “Porquê? Porque é que fizeram de nós um inimigo?”, questiona. Assim, afirma que “a admissão da Ucrânia na NATO é uma ameaça direta à segurança da Rússia”.

“A Ucrânia está a planear criar as suas próprias armas nucleares. Nos últimos meses, tem sido inundada de armas vindas do Ocidente”, acusou o Presidente russo, afirmando que Kiev tem usado armas nucleares “para preparar um ataque à Rússia”. “Se a Ucrânia obtiver armas de destruição em massa, a situação global vai mudar significativamente e isso é algo que não pode ser ignorado”, continuou.

A Ucrânia está a planear criar as suas próprias armas nucleares. Nos últimos meses, tem sido inundada de armas vindas do Ocidente.

Vladimir Putin

Presidente da Rússia

“A Rússia vai reconhecer a independência das duas regiões separatistas no leste da Ucrânia”, afirmou, praticamente no fim do seu discurso. “Creio que o Ocidente vai impor sanções de qualquer forma”, disse. E avisou que “a Rússia tem o direito de adotar medida de retaliação”, prometendo tomar “precauções para garantir a sua segurança”.

Minutos antes do discurso de Putin, o Kremlin já tinha anunciado a sua decisão. “O Presidente da Rússia disse que pretendia assinar o decreto relevante num futuro próximo”, disse o Kremlin, em comunicado. “O Presidente de França e o chanceler federal da Alemanha expressaram a sua deceção com este desenvolvimento. Ao mesmo tempo, indicaram a sua prontidão para continuar os contactos”, refere o documento.

O Kremlin afirma que Vladimir Putin está a reconhecer a independência destes territórios no âmbito da “agressão militar das autoridades ucranianas”, que têm feito com que “a população civil esteja a sofrer”. Mas a Ucrânia nega ter planos de lançar uma ofensiva militar contra estas duas regiões separatistas, afirmando que a Rússia está a encenar atos de agressão ucraniana para justificar uma invasão.

Pouco mais de uma hora depois deste anúncio oficial, a imprensa internacional avança que Vladimir Putin ordenou o envio de tropas para aquelas duas regiões separatistas, com o objetivo de conduzir operações de manutenção da paz.

E, de acordo com o Conselheiro do Presidente ucraniano os militares russos já estão em território ucraniano, naquelas duas regiões separatistas. “Há alguns minutos, unidades regulares da Federação Russa invadiram abertamente o território da Ucrânia”, escreveu Yuri Biryukov no Twitter.

Bruxelas diz que decisão é uma “violação flagrante do direito internacional”

Esta decisão já era, de certa forma, esperada, embora se esperasse, ao mesmo tempo, o oposto. Josep Borrell, o alto representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, já tinha afirmado que se a Rússia reconhecesse a independência destas duas regiões, Bruxelas estava preparada para reagir com sanções.

“Se houver anexação, haverá sanções, e se houver reconhecimento, colocarei as sanções na mesa e os ministros decidirão”, disse o chefe de política externa da UE esta segunda-feira, após uma reunião dos ministros das Relações Exteriores do bloco comunitário. “Pedimos ao Presidente Putin que respeite a lei internacional. Estamos prontos para reagir com uma forte frente unida caso ele decida” ignorar estes apelos.

Josep Borrell já tinha afirmado o mesmo no Twitter na semana passada. “A UE condena veementemente a decisão da Duma Federal em apresentar um apelo ao Presidente Putin para que reconheça as zonas não controladas pelo Governo de Donetsk e Lugansk na Ucrânia como entidades independentes. Este reconhecimento seria uma clara violação dos acordos de Minsk“, escreveu.

A presidente da Comissão Europeia já reagiu a esta decisão, afirmando tratar-se de uma “violação flagrante do direito internacional, da integridade territorial da Ucrânia e dos acordos de Minsk”. “A UE e os seus parceiros reagirão com unidade, firmeza e determinação em solidariedade com a Ucrânia”, escreveu Úrsula Von der Leyen, no Twitter.

Os Estados Unidos já anunciaram sanções às duas regiões separatistas: vão proibir novos investimentos, comércio e financiamento dos Estados Unidos para, de Donetsk e Lugansk, refere um comunicado enviado esta sexta-feira pela porta-voz da Casa Branca.

O pedido para reconhecer Donetsk e Lugansk foi feito esta segunda-feira pelos responsáveis das próprias regiões — Denis Pushilin (líder da RPD) e Leonid Pasechnik (líder da RPL). “Em nome de todos os povos da república popular de Donestk, pedimos-lhe que reconheça a república popular de Donetsk como um Estado independente, democrático, social e legal“, disse Pushilin.

“Caro Vladimir Vladimirovich, a fim de evitar a morte em massa dos habitantes da república, peço-lhe para reconhecer a soberania e independência da república popular de Lugansk”, disse, por sua vez, Pasechnik. Além disso, o líder da RPL pediu para o líder russo considerar a possibilidade de assinar um tratado de cooperação e amizade entre a sua república e a Rússia.

O índice russo RTS terminou a sessão desta segunda-feira a cair mais de 13%, acumulando perdas superiores a 24% desde o início do ano, de acordo com a Lusa. Durante o dia, a moeda russa também caiu: o rublo ultrapassou por momentos a barreira de 90 rublos por euro antes de estabilizar em torno de 89,5 rublos por euro. Em relação ao dólar, o rublo atingiu um pico de 79,7 por dólar antes de cair para 79,1 rublos por dólar.

(Notícia atualizada às 22h08com mais informação)

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