Universidade do Porto investe 45 milhões para dar cama a estudantes

Universidade do Porto avança com programa para atacar “falta de alojamento a preços comportáveis”. Número de alunos já está 10% acima do nível pré-pandemia e um em cada cinco são estrangeiros.

A Universidade do Porto (UP) tem um plano de investimento de quase 45 milhões de euros para “enfrentar o grave problema da falta de alojamento estudantil”, esperando financiar cerca de dois terços desse montante através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Mas até à conclusão destes projetos, que irão “demorar alguns anos”, o reitor, António de Sousa Pereira, pede uma “política concertada com as autarquias para a dinamização do mercado de arrendamento a custos controlados”.

Depois da requalificação recente das residências Alberto Amaral, Novais Barbosa, Campo Alegre I, Jayme Rios de Sousa e Ciências, num valor global de três milhões de euros, a instituição de ensino superior, que dispõe atualmente de perto de 1.100 camas, apresentou manifestações de interesse no âmbito do PRR para a construção de três novas residências, que representam cerca de 400 novos lugares, e para a renovação de quatro já existentes.

Além destas, em parceria com o Câmara do Porto está prevista a construção de residências para estudantes no Quartel do Monte Pedral e no Morro da Sé – mais perto de quatro centenas de camas – e está a colaborar com a Federação Académica do Porto (FAP) num projeto inovador para a instalação de uma residência adicional no antigo Centro Social da Sé, que vai ser gerida pelo organismo estudantil em instalações cedidas pelo município liderado por Rui Moreira.

Segundo informações disponibilizadas pela autarquia, este último espaço residencial terá capacidade para cerca de 20 quartos, que vão poder ser ocupados já no próximo ano letivo. O edifício foi recuperado pela empresa municipal Porto Vivo e “será cedido à FAP pelo prazo de 30 anos, pelo valor simbólico de uma renda mensal de 50 euros”.

António de Sousa Pereira, reitor da Universidade do Porto

“A massificação do ensino superior traz maior diversidade social, o que é positivo, mas pode traduzir-se no aumento do número de estudantes carenciados. (…) A falta de alojamento a preços comportáveis é um dos maiores problemas socioeconómicos dos estudantes. O custo da habitação impede os mais carenciados de acederem às universidades e cursos que desejam e para os quais estão habilitados, agravando os riscos de insucesso e abandono escolar”, alerta António de Sousa Pereira.

O atual reitor, que se vai recandidatar a um segundo e último mandato nas eleições agendadas para 6 de maio, falava esta tarde na sessão solene comemorativa dos 111 anos da UP, realizada no Salão Nobre da Reitoria, em que salientou ter sido a universidade que mais aumentou o número de vagas em contexto de pandemia. Em 2021/2022 terá mais três mil estudantes de grau do que no ano letivo 2018/2019, o que representa um crescimento de 10% face ao nível pré-Covid.

O custo da habitação impede os mais carenciados de acederem às universidades e cursos que desejam e para os quais estão habilitados, agravando os riscos de insucesso e abandono escolar.

António de Sousa Pereira

Reitor da Universidade do Porto

 

Na área da internacionalização, entre estudantes ao abrigo de programas de mobilidade e outros que escolhem esta universidade para realizar os seus cursos de graduação e pós-graduação, os alunos internacionais representam atualmente cerca de 20% do total de inscritos, oito pontos percentuais acima do peso que tinham em 2016. Sousa Pereira salientou ainda os 121 novos projetos Erasmus+ aprovados, num valor superior a 75 milhões de euros, dos quais cerca de 20 milhões são geridos diretamente pela UP.

No campo da investigação, o reitor da universidade que acaba de ganhar o maior programa de empreendedorismo tecnológicos e digital do mundo destacou a constituição da Associação i3S, que promove a gestão integrada dos três institutos (IBMC, INEB e IPATIMUP); e a parceria com a Bosch em dois projetos: o THEIA (desenvolvimento de tecnologia de inteligência artificial para veículos autónomos) e o Safe Cities (soluções de inovação para cidades seguras).

Com um impacto total de 284 milhões de euros no PIB e de quase 6.500 postos de trabalho, o Parque de Ciência e Tecnologia (UPTEC) chegou às 100 spin-offs em 2021 e contribui para o aumento do número de pedidos de patentes europeias. Em 2019 obteve, pela primeira vez, resultados positivos, que manteve em 2020 e 2021, ano em que lhe foi atribuído o Estatuto de Utilidade Pública.

Do impacto da guerra à refinaria da Galp

Numa fase em que a atualidade está dominada pela guerra na Ucrânia e em que assume que será reforçado o orçamento europeu para garantir a autonomia em termos energéticos e de defesa, o também presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) avisa que “o investimento no ensino superior, na investigação e na inovação não pode ser descurado”, pois será fundamental, a prazo, para a construção da Europa que todos desejam.

“Não há democracia sem cidadãos qualificados e informados, com consciência cívica para defender a democracia e com espírito crítico perante campanhas de desinformação. Não há segurança sem literacia científica ou sem investimento significativo na investigação e desenvolvimento em áreas como a saúde, a produção de energias verdes, a segurança informática ou a inteligência artificial”, resumiu.

Ambicioso e disruptor foi, por outro lado, como António de Sousa Pereira classificou o projeto em parceria com a Galp e com a autarquia de Matosinhos para a construção de um polo de inovação nos terrenos da antiga refinaria de Leça da Palmeira, no âmbito do projeto mais vasto de requalificação urbana para a criação de um Innovation District naquele local. O novo campus é descrito como “um ecossistema de ensino, investigação e inovação de excelência, com centros de interface e incubadoras, onde empresas e investigadores possam trabalhar em conjunto”.

Este projeto, que terá “particular ênfase na transição digital e energética”, é apresentado pelo reitor como “uma oportunidade única de desenvolvimento e projeção internacional da Universidade, que praticamente duplicará a [sua] área de implantação dos atuais 50 para 90 hectares” e que lhe permitirá “consolidar a posição nacional como maiores produtores de ciência do país, e [afirmar-se] como uma universidade de investigação de primeira linha na Europa”.

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