Regresso do comboio a Barca d’Alva depende de eletrificação da Linha do Douro

Infraestruturas de Portugal apenas prevê reabertura do troço Pocinho-Barca d'Alva quando a Linha do Douro estiver totalmente eletrificada, em investimento estimado em 74,7 milhões de euros.

Apenas quando a Linha do Douro estiver totalmente eletrificada é que os comboios poderão voltar a circular entre Pocinho e Barca d’Alva, junto à fronteira. Este é o pressuposto do estudo técnico que a Infraestruturas de Portugal (IP) apresentou na semana passada junto do que grupo de trabalho que está a discutir o modelo de regresso deste ligação ferroviária, documento a que o ECO teve acesso.

Condicionar a reabertura do troço à eletrificação da restante Linha do Douro dificulta a previsão sobre quando os comboios vão voltar à fronteira. Atualmente, só há corrente elétrica no percurso entre Porto-São Bento e Marco de Canaveses.

O troço seguinte, Marco de Canaveses-Régua, deveria ter sido eletrificado até ao final de 2019, segundo o plano de investimentos Ferrovia 2020, apresentado em fevereiro de 2016. Contudo, o percurso Marco-Régua ainda não tem sequer concurso público lançado; isto é, não ficará pronto, pelo menos, até ao final de 2023.

A eletrificação do trecho seguinte, entre Régua e Pocinho, pertence ao conjunto de obras do Programa Nacional de Investimentos 2030, ainda sem calendário definido.

Como vai ficar a linha?

A análise da IP incidiu sobre 27,1 quilómetros da Linha do Douro, entre a saída da estação do Pocinho (quilómetro 172,85) e a saída da estação de Barca d’Alva (quilómetro 199,96). Depois da recuperação, o troço vai manter-se em via única, com velocidades entre 70 e 100 km/h, passando a contar com catenária e sinalização eletrónica.

Todas as passagens de nível serão automatizadas e será implementado o sistema de controlo automático de velocidade. Para não prejudicar as vistas e minimizar os impactos ambientais, os postes de catenária serão colocados do lado contrário do rio Douro.

A linha não vai sofrer alterações de monta, ocupando o mesmo espaço que foi posto a funcionar no final de 1887. Côa, Castelo Melhor, Almendra e Barca d’Alva vão manter-se como as quatro estações e apeadeiros. Barca d’Alva será a única estação com bilheteira física.

Das quatro pontes deste troço, apenas a de Canivais não precisará de reforços estruturais. Nas pontes do Côa, Aguiar e do Grincha, a estrutura metálica do tabuleiro terá de ser reforçada.

Nas três passagens inferiores, os tabuleiros metálicos serão totalmente substituídos, deixando de ser necessário o reforço estrutural.

Dos 74,74 milhões de euros previstos para a reabilitação, cerca de 80% (59,35 milhões) são dedicados às obras – a restante verba tem a ver com estudos e projetos, fiscalização e estaleiro.

As maiores intervenções servirão para reforçar as estruturas de proteção e estabilização da plataforma e da própria via férrea. O relatório avisa que será necessária a “adoção de sistemas de queda de blocos com sistemas de videovigilância remota”.

Regresso com benefícios

O regresso dos comboios permitirá “providenciar uma infraestrutura que garante a oportunidade de promover um serviço turístico que dinamiza e valoriza o património local, e que se pode constituir como um fator relevante no alavancar de outros projetos económicos e dinamização demográfica dos concelhos envolvidos.

O estudo elenca cinco benefícios da reabertura do troço entre Pocinho e Barca d’Alva:

  • Coesão territorial – ligação a territórios do litoral ao interior “através de uma linha de caminho de ferro que faz parte integrante da história, da economia e da vida das populações, acompanhando, desde o município de Baião a Barca d’Alva, a única via fluvial navegável identificada no mapa da rede transeuropeia de transportes”;
  • Turismo – “com a complementaridade entre os diversos meios de transporte disponíveis poder-se-á potenciar ainda mais o designado turismo ferroviário e/ou fluvial que o Douro atualmente proporciona”. Também poderão ser criados novos serviços ferroviários;
  • Economia regional – “será influenciada positivamente com o aumento do fluxo turístico previsto, dinamizando o comércio local, o alojamento e restauração. Permitirá estabilizar e fomentar o emprego local”;
  • Património – “a Linha do Douro, na sua plenitude, permitirá unir áreas de património cultural e natural classificados, nomeadamente, o ADV – Alto Douro Vinhateiro, Parque Arqueológico do Vale do Côa e o Parque Natural do Douro Internacional”;
  • Alterações climáticas – “a utilização de um modo de transporte mais eficiente, que permitirá a transferência de modos de transporte mais poluentes como é o caso do rodoviário e fluvial, com redução significativa de emissões de ruído e vibrações permitirá contribuir positivamente para a qualidade de toda uma região”.

A conclusão do estudo técnico era o passo que faltava para que, durante o mês de maio, fique concluído o estudo de viabilidade económica, a cargo da IP e que foi pedido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).

O grupo de trabalho para a reabertura do troço Pocinho-Barca d’Alva foi constituído formalmente em maio de 2021. Coordenado pela CCDR-N, o grupo integra autarcas em representação da Comunidade Intermunicipal do Douro (como a Régua) e membros da IP. A equipa vai ajudar a definir qual o modelo mais viável para reabrir a ligação ferroviária

Antes disso, em março de 2021, o Parlamento aprovou, por unanimidade, uma petição para a reabertura deste troço. O documento apresentado pela Liga dos Amigos do Douro Património Mundial e da Fundação Museu do Douro reuniu 13.999 assinaturas.

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