Portugal acompanha tendência mundial de recuperação da indústria de cruzeiros
Porém, número de passageiros deverá ficar ainda aquém de 2019 (cerca de 450 mil, contra os mais de 500 mil pré-pandemia), assistindo-se a um alargamento da temporada turística ao longo de mais meses.
Portugal está “a acompanhar a tendência mundial de recuperação da indústria” de cruzeiros, devendo Lisboa receber 450 mil passageiros e 320 navios este ano, acima dos 310 de 2019, segundo a Associação Internacional de Companhias de Cruzeiros (CLIA).
“As projeções para este ano são muito boas. A nível global e, também, na Europa, esperamos que todos os nossos navios voltem a operar a 100% até ao final do verão”, afirmou a diretora-geral da CLIA para a Europa, Marie-Caroline Laurent, em entrevista à agência Lusa.
Admitindo que “o número de passageiros é que ainda é um ponto de interrogação”, a responsável referiu que, “olhando para as reservas já feitas para o verão, as perspetivas são muito boas”: “Assim, a meta é voltar aos números de 2019 até ao final do ano, tanto em termos de navios em operação, quanto de passageiros”, apontando as previsões para entre 23,1 e 29,8 milhões de passageiros a nível global.
Segundo a diretora-geral da CLIA (do inglês ‘Cruise Lines International Association’), esta tendência estende-se a Portugal, prevendo-se que o porto de Lisboa supere este ano as 310 escalas de navios registadas em 2019, antes da pandemia, recebendo 320 cruzeiros.
Já o número de passageiros deverá ficar ainda aquém de 2019 (cerca de 450 mil, contra os mais de 500 mil pré-pandemia), assistindo-se a um alargamento da temporada turística ao longo de mais meses, com o consequente impacto positivo nas comunidades locais, e a uma crescente procura por parte de portugueses.
“Vemos cada vez mais portugueses interessados em fazer cruzeiros e é por isso que há uma aposta no desenvolvimento do porto de Lisboa, no sentido de dar mais possibilidades de os portugueses embarcarem e fazerem um cruzeiro Lisboa-Lisboa. Este ainda é um mercado em crescimento e vemos, todos os anos, a adesão de mais e mais passageiros portugueses”, notou.
De acordo com Marie-Caroline Laurent, esta preferência por viagens mais curtas tornou-se mais evidente com a pandemia e é uma tendência global: “Os passageiros, principalmente com a covid, gostam de viajar localmente, para não ir muito longe. Fazendo um cruzeiro, podem embarcar em Lisboa, fazer um passeio pelo Mediterrâneo, por exemplo, onde conhecem vários países, e regressar novamente a Lisboa. Portanto, [este produto] tem correspondido a uma nova procura”, explicou.
Outra das tendências evidenciadas com a pandemia e que a CLIA quer continuar a explorar é a atração de um novo perfil de clientes, mais jovens, para o turismo de cruzeiros. Atualmente, a idade média do passageiro de cruzeiros é de 47,7 anos.
Após os “dois anos terríveis” vividos pelo setor devido à pandemia, a diretora-geral da CLIA destaca a “solidez da indústria” de cruzeiros, cujas empresas “continuaram a investir”, nomeadamente em navios novos e em tecnologias menos poluentes.
“Durante a pandemia os nossos membros não pararam o investimento. Há novos navios prontos e a ser entregues”, salientou Marie-Caroline Laurent, avançando que, nos próximos cinco anos, os membros da associação vão investir 23.000 milhões de euros em novos navios, sendo todos eles “construídos na Europa”.
“E isso é um aspeto também importante, porque comparando com a indústria de navios de carga, onde todos os novos navios são construídos na Ásia, todos os navios de cruzeiro são construídos na Europa – Itália, França, Finlândia, Noruega, Alemanha – pelo que é uma indústria realmente europeia”, sublinhou.
Outra das prioridades do setor é a aposta na sustentabilidade e na descarbonização, sendo que, no âmbito do compromisso ‘Global Net-Zero’, as companhias de cruzeiro se comprometeram a atingir zero emissões de gases de efeito de estufa até 2050.
“O primeiro foco é na propulsão dos navios. Os nossos membros têm feito investimentos significativos em novos navios de GNL [gás natural liquefeito], que emitem 20% menos CO2 [dióxido de carbono] e em que todos os diferentes tipos de emissões são reduzidos. Já temos três ou quatro navios em operação e esperamos mais 23 nos próximos cinco anos”, disse Marie-Caroline Laurent.
Paralelamente, os navios mais antigos estão a ser adaptados: “Um dos nossos membros adaptou algumas baterias num dos navios, para garantir que, quando chega ao porto, ele pode funcionar com a bateria e eliminar as emissões”, avançou, como exemplo.
A este facto acresce a “frota muito jovem” do setor, cuja idade média é de 14 anos, e ainda os investimentos ao nível da eletrificação em curso em vários portos, com vista a “eliminar todas as emissões nos portos” de escala na Europa até 2030.
“O objetivo é que, quando os navios estiverem nos portos, não haja impacto na população local, não haja emissões, para que possamos, realmente, fazer parte do desenvolvimento sustentável das cidades e dos portos que visitamos”, enfatizou a diretora-geral da CLIA.
No caso do porto de Lisboa, disse, “a primeira fase do investimento na eletrificação será por volta de 2024/2025”, sendo o objetivo poder “conectar os navios, provavelmente, em 2028”.
“A mensagem principal é que podemos ser uma forma de turismo totalmente sustentável. Estamos a investir em novos navios, mas também estamos comprometidos em conectar-nos à eletricidade nos portos. Isso permite-nos não ter impacto nas comunidades locais, algo que é sempre uma preocupação com os grandes cruzeiros”, salientou.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Portugal acompanha tendência mundial de recuperação da indústria de cruzeiros
{{ noCommentsLabel }}