Retalho automóvel teve quebras na procura de 3.500 milhões de euros com a pandemia, calcula ACAP

Pandemia provoca quebras na procura superiores a 3.500 milhões de euros, levando a prejuízos adicionais no setor automóvel, diz estudo. Guerra na Ucrânia coloca em causa transição energética.

A pandemia de Covid-19 provocou uma quebra na procura do setor do retalho automóvel de 3.597 milhões de euros, um valor que contagiou outros indicadores da economia, são as conclusões do estudo “As redes de retalho automóvel em Portugal – O presente e o futuro do sector”, realizado pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP).

O documento divulgado esta quinta-feira resulta de um inquérito realizado junto dos consumidores nacionais, concessionários e marcas, e foi realizado por investigadores do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG).

Seguindo o modelo input-output, um modelo económico quantitativo que representa as interdependências de diferentes setores de uma economia, o estudo concluiu que a quebra na procura final do retalho automóvel trouxe consigo outras consequências. Esta quebra superior a 3.500 milhões, por sua vez, traduziu-se numa redução de 5.528 milhões de euros do valor da produção de todos os setores, mas os efeitos não acabam aqui.

O valor acrescentado bruto (VAB) – a diferença entre o valor da produção e o valor do consumo intermédio, ou seja, o impacto no PIB – também afundou 2.494 milhões de euros em função da quebra na procura. No entanto, também a receita fiscal caiu 16 milhões de euros, o resultado da diminuição do IVA, pode ler-se no relatório.

Um mercado em oscilação

Apesar das flutuações registadas durante a pandemia, o estudo aponta que isto não é uma novidade no mercado. Só o setor do comércio automóvel já registou “grandes oscilações” nos últimos 20 anos, justificadas principalmente pela evolução do contexto económico internacional, pode ler-se. São exemplos destas oscilações os decréscimos superiores a 20% anuais de 2011 e 2012, em reflexo da crise do subprime de 2008, sendo que a recuperação desta crise se deu entre 2012 e 2016 com crescimentos médios anuais de 15%.

Já em 2020, ano inicial da pandemia, foi registado um decréscimo de 16%, mas o estudo aponta para um crescimento médio anual na casa dos 5%, fora das fases de recessão e de recuperação. O documento da ACAP indicia também um tecido empresarial do setor do comércio automóvel constituído por cerca de 95% de microempresas, embora aponte para uma elevada concentração. As grandes empresas, correspondentes a 0,2% do total, são responsáveis por 36% do volume de negócios automóvel.

Entre os segmentos com maior peso no volume de negócios, a “Venda de veículos automóveis” corresponde a 73% do total, estando a “Venda de peças e acessórios para veículos automóveis” em segundo lugar, com 14%. A venda de veículos elétricos e híbridos, por sua vez, também está a ganhar terreno a um ritmo acentuado. Enquanto em 2017 os veículos a gasóleo representavam mais de 60% do total das vendas automóvel, este peso já diminuiu para cerca de 20% em 2021.

Este crescimento na venda de veículos elétricos e híbridos, por sua vez, resultou numa redução das emissões de CO2, sendo que atualmente o setor dos transportes é responsável por cerca de 27% do total de emissões na União Europeia. A impulsionar esta redução, além da venda de elétricos e híbridos, está ainda o investimento em I&D.

Consequências da guerra na Ucrânia para a descarbonização

A guerra na Ucrânia veio salientar novas preocupações no setor automóvel. O estudo da ACAP aponta mesmo para o risco de um “esquecimento” da transição energética, exacerbado pelas preocupações noutras áreas trazidas pelo conflito. A aceleração da inflação, aumento das taxas de juro, subsequente diminuição do poder de compra das famílias, e as condições mais difíceis para o investimento, podem levar a uma recessão no setor automóvel já que estas condicionantes “serão prolongadas no tempo”, alerta a ACAP.

Por outro lado, as tensões resultantes da guerra na Ucrânia também podem destacar o processo de transição energética, num sentido de “libertação da dependência energética” em relação à Rússia, aponta o estudo. A justificar esta posição, o relatório sublinha que as consequências económicas da guerra serão “conjunturais”, sendo que as políticas da UE para a recuperação económica irão permitir “uma forte aceleração” do crescimento económico, incentivando desta forma a transição energética.

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