Encontro APS Dia 2: Desenhar seguros que promovam a cibersegurança
A jornada que encerrou o 18º Meeting APS reuniu plateia e convidados internacionais. Falou de humanizar algoritmos e lançou desafio de compensar clientes de seguros proativos em cibersegurança.
A digitalização já era tendência muito antes da pandemia e, com o isolamento imposto contra a Covid-19, tornou-se realidade incontornável no quotidiano e nos seguros, justificando espaço de discussão no 18º Encontro de Resseguros, organizado pela Associação Portuguesa de Seguradores (APS).

Futuro feito de algoritmos e neurociência?
No segundo dia do meeting internacional da APS, no Estoril, Ana Paiva, Professora Catedrática de Engenharia Informática (IST-UL) e Joe Paton, Diretor de Investigação em Neurociência na Fundação Champalimaud, estiveram na mesa redonda do painel “Human vs Digital: Como vamos pensar e sentir o futuro?” Dados e algoritmos, aprendizagem de máquina e modelação multi-agentes são realidades que vão ganhando espaço (com maior ou menor utilidade) nas empresas e nas nossas casas. Porém, quando os cientistas abordaram limites e complementaridades human vs digital concluíram que “as máquinas não têm o senso comum,” como disse Ana Paiva dando mote ao desafio de humanização das máquinas.
“O nosso cérebro tem várias camadas (…) até um nível de abstração que os algoritmos ainda não conseguem alcançar,” complementou Joe Paton, corroborando a ideia de que o futuro inclui o desafio da interação entre o humano e o digital. Nas conversas entre os congressistas presentes foi lembrado que os modelos de simulação sobre comportamentos têm potencial nos seguros. A regulação também já percebeu que tem trabalho pela frente.
Como previsto, o painel de fecho do Encontro APS teve Martin Kreuzer, Senior Risk Manager na Munich Re, na qualidade de keynote speaker para 5º tema do evento (“Ciber Risco – Entre a Ameaça e a Oportunidade”). Coautor de diversos relatórios da resseguradora alemã, o especialista traçou panorama global sobre ameaça cyber e abordou a gestão do risco na ótica da indústria seguradora.

Num mundo com 5,3 mil de milhões de utilizadores de internet, mais de 16 mil milhões de dispositivos ligados (IoT), um bilião de sensores embutidos um pouco por todo o lado e custos globais do cibercrime estimados em 6 biliões de dólares (USD 6 trillion), “todos os grandes conflitos geopolíticos tornar-se-ão totalmente digitalizados” e é de “esperar mais regulação” para ciber-risco, antecipou.
Desenhar oferta de seguros que promovam a cibersegurança
No debate que se seguiu à intervenção do especialista alemão, António Gameiro Marques, Diretor-Geral do Gabinete Nacional de Segurança, intervindo por videoconferência, abriu a mesa redonda de forma direta, em português: “Continuamos a estar bastante mal na literacia digital (…) e também mal na cibersegurança.”
Perante esta realidade, “sem a colaboração com as entidades públicas e privadas não se consegue fazer nada,” vincou António Marques sugerindo também que as entidades seguradoras atuem “como um veículo para transmitir requisitos” de cibersegurança aos clientes. Porque não desenvolver uma oferta de seguros “com um serviço de acompanhamento?”, desafiou.

No evento, o representante da Autoridade Nacional de Segurança (ANS) referiu que, desde início do ano registaram-se “8 ataques significativos a entidades”, duas públicas e as restantes privadas. Os mais destrutivos “não foram ransomware. Foram aqueles em que o atacante entrou e apagou tudo. Tudo.” Em dois destes ciberataques, “até os back ups foram apagados. Para sempre…” E essas duas organizações investem muito em cibersegurança,” acrescentou. “A perceção de risco dos CIO é fundamental”, preconizou.
Javier Mora Rubio – Head of Infrastruture and IT Governance, Mapfre Re, outro interveniente do painel e que partilhou a experiência de um ciberataque sofrido pelo grupo espanhol, descrevendo os procedimentos de resposta e contenção da infeção adotados pela Mapfre. Na mesa redonda, Jorge Portugal, Diretor-Geral da Cotec, Associação Empresarial para a Inovação, desenvolveu a ideia da “maturidade na prevenção de risco” que deveria supor uma compensação sobre os prémios que os clientes pagam às seguradoras pela cobertura de segurança,” defendeu o responsável da Cotec.
Além destes incentivos para promover cultura de cibersegurança, os participantes convergiram em outros aspetos considerados centrais na problemática do ciber risco. O nível de proficiência e certificação dos profissionais de IT seria contributo positivo. Neste sentido, a Autoridade Nacional de Segurança vai avançar com uma Academia de Segurança e as certificações poderão “reforçar a maturidade digital apresentada pelas empresas,” defendeu Gameiro Marques.
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