Um terço dos jovens e crianças recebe mesada ou semanada

  • Joana Abrantes Gomes
  • 1 Junho 2022

Relatório da DECO revela que 35% das crianças e jovens recebem mesada ou semanada e mais de 80% guarda poupanças no banco ou no mealheiro. Porém, a maioria desconhece para que serve uma conta a prazo.

Apenas 35% dos jovens e das crianças em Portugal recebem dinheiro semanal ou mensalmente, enquanto os restantes recebem dinheiro pontualmente (35%) ou não recebem (30%). A conclusão consta do relatório “As Crianças, os Jovens e o Dinheiro”, realizado pela DECO – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, que procurou perceber o nível de literacia financeira das faixas etárias mais novas.

Num universo de 1.156 crianças e jovens inquiridos, do 1.º ciclo ao ensino secundário de 27 escolas de todo o país, cerca de 407 afirmam receber semanada ou mesada, praticamente o mesmo número de crianças e jovens que pedem dinheiro aos familiares quando precisam de comprar alguma coisa. Cerca de 347 dos inquiridos não recebem dinheiro dos familiares.

Em declarações ao ECO, Carla Dourado, técnica do gabinete de Proteção Financeira da DECO e uma das responsáveis pela realização do relatório, explica que o número de crianças e jovens a receber semanada ou mesada numa turma do 1.º ciclo ou numa turma do ensino secundário é “semelhante”. No entanto, como só um terço é que recebe, só esse terço é que permite medir se fazem uma boa gestão do seu dinheiro ou não.

As crianças e jovens foram questionados também se sabem onde gastam o dinheiro: apenas 3% responderam que não. Porém, embora 97% saibam onde gastam o seu dinheiro, é importante notar que metade destes não gere uma semanada ou mesada, pedindo dinheiro para despesas pontuais, o que ajuda a perceber com maior exatidão onde é que é gasto, assinala o documento.

Quanto às despesas essenciais, 61% das crianças e jovens identificam, em primeiro lugar, a alimentação como bem de primeira necessidade e, em seguida, o telemóvel (16%), que hoje em dia é uma ferramenta importante de comunicação, diz a Deco.

Ainda no âmbito da gestão de orçamento, e para aferir como procurariam realizar o seu objetivo de poupança, os alunos foram questionados sobre como fariam para pagar a viagem de finalistas, sendo que os pais só podiam pagar metade. A maioria das respostas incidiu em tentar encontrar um rendimento extra (43%) a par com a poupança da semanada/mesada (38%), enquanto 18% admitiu abdicar de prendas de Natal ou de aniversário.

Estes resultados, ainda que revelem que os jovens estão dispostos a fazer sacrifícios para realizar um objetivo de poupança, mostram, segundo Carla Dourado, que a maior dificuldade dos jovens e crianças reside na gestão de dinheiro, “porque não o têm na mão”. Por isso, considera “importante consciencializar os jovens e as famílias que é preciso transferir para as crianças alguma responsabilidade de gestão para eles, cedo e em tenra idade, adquirirem essas competências de lidar com o dinheiro”.

Mais de 80% guardam poupanças no banco ou no mealheiro

Na segunda parte do relatório, sobre numeracia financeira, 41% dos inquiridos disse guardar as suas poupanças no banco, enquanto 44% apontaram o mealheiro como o lugar preterido para o mesmo efeito. Em menor número, para 7% são os pais que guardam as suas poupanças e os restantes 8% admitiram gastar tudo – ou seja, não poupam dinheiro.

“Estes números são reveladores de que mais de metade dos jovens não está familiarizada com os produtos bancários e não sabe que pode ter uma conta a prazo que lhe permite guardar as suas poupanças”, sublinha a DECO no relatório.

A Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor procurou também medir a tomada de decisões que envolvam dinheiro por impulso: perante a possibilidade de comprar os ténis de sonho por 99,99 euros, cerca de 27% dos participantes comprava de imediato sem ponderação.

Neste aspeto, o relatório conclui que as crianças e os jovens “estão moldados para o consumo imediato”, destacando as técnicas de marketing utilizadas, como a dos preços acabados em 99 cêntimos, que “têm grande efeito em consumidores menos experientes”, criando a ilusão de que o produto é mais barato.

Questionados ainda sobre o que fariam se recebessem uma prenda de 300 euros, 40% optaria por poupar algum desse dinheiro, não o gastando todo, e 50% preferia mesmo guardá-lo na totalidade em casa ou depositá-lo no banco. Daqui resultam duas interpretações possíveis, aponta a DECO: ou a resposta foi influenciada pelas perguntas anteriores que lançaram temas como a poupança e a sua importância; ou os jovens, que passaram por estes dois anos de pandemia, observaram no seu seio familiar que, de facto, é importante ter alguma poupança”.

Maioria desconhece contas a prazo

Embora 82% dos jovens e crianças saibam o que é uma conta bancária, apenas 29% sabe que, abrindo uma conta a prazo, beneficiam do pagamento de juros por parte da instituição bancária, o que demonstra uma vez mais “a pouca sensibilidade dos jovens relativamente aos produtos financeiros”, lamenta a DECO.

Por outro lado, cerca de 90% das crianças e jovens identificaram, com facilidade, o que é e para que serve o cartão multibanco, a mesma percentagem que revelou conhecer a aplicação MBWay e saber como esta funciona.

Entre as principais conclusões do relatório, a DECO observou que as crianças e jovens têm uma “boa capacidade de avaliar os seus recursos financeiros e de tomar decisões conscientes”. No entanto, chama a atenção para a falta de conhecimento de conceitos financeiros, que impedem o aproveitamento de ferramentas de gestão, como o orçamento ou o recurso aos serviços bancários, para tirar rentabilidade do seu dinheiro, e para o facto de que “no agregado familiar não estão enraizadas competências de gestão de dinheiro”.

Nesse sentido, Carla Dourado apela à necessidade de fazer um orçamento familiar, para que as crianças e os jovens ajudem os pais a ver onde podem economizar. “Desenvolvemos até o conceito de fundo de emergência, para tudo aquilo que, em família, conseguissem poupar (…). Ou então transferir para as crianças e para os jovens algumas responsabilidades”, como fazer uma lista de compras e, no supermercado, escolher os produtos mais convenientes dentro do orçamento, detalhou a técnica da DECO.

O relatório foi elaborado com base num quiz feito na semana de 21 a 25 de março, durante a qual a DECO participou na “Global Money Week”, uma campanha anual de informação global cujo objetivo passa sempre por sensibilizar para as boas práticas de gestão do dinheiro pessoal e a importância de criar hábitos de poupança entre os jovens.

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