Área de milho deverá aumentar 5%, mas impacto no abastecimento nacional será reduzido

  • Joana Abrantes Gomes
  • 22 Junho 2022

Previsão de 78 mil hectares de área semeada de milho não será suficiente para fazer face às necessidades de abastecimento. Tomate é dos poucos produtos a escapar a decréscimo de produtividade.

Apesar da seca, do aumento dos custos de produção e dos preços dos produtos agrícolas e da suspensão das transações comerciais com a Rússia e a Ucrânia, as previsões agrícolas no final de maio apontam para a normal instalação das culturas de primavera. No caso do milho, a área semeada deverá aumentar 5%, para os 78 mil hectares, mas o impacto face às necessidades de abastecimento será reduzido, revelam os dados publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

O gabinete nacional de estatísticas justifica as previsões com o facto de a produção nacional de milho representar, em média, apenas um quarto do consumo interno, além de que a Ucrânia era o principal fornecedor nacional deste cereal, ao assegurar uma média de 41% das importações entre 2012 e 2021. Para compensar a suspensão das transações comerciais com a Ucrânia, as importações de milho provenientes do Canadá, Brasil e Polónia “aumentaram significativamente, atingindo 140 mil toneladas” nos dois primeiros meses de guerra, uma quantidade sete vezes superior ao período homólogo.

Ainda assim, “as sementeiras de milho de regadio para grão continuam a decorrer com normalidade, apesar de algum atraso em zonas do litoral Norte (por ainda não se ter concluído o corte das forragens) e do litoral Centro (em resultado da falta de humidade do solo)”, nota o INE, acrescentando que a previsão de área semeada se aproxima muito da média do último quinquénio, apesar da diminuição da área de milho a um ritmo anual de 2,7% nos últimos 36 anos.

Fonte: INE

Quanto ao preço de exportação do milho, que há um ano já tinha atingido os 270 euros por tonelada, chegou a um máximo histórico de 342 euros por tonelada nos portos do Golfo do México, nos EUA, entre a última semana de abril e a primeira semana de maio. A guerra foi mais uma vez “determinante” para este cenário, já que a importância da Ucrânia nas exportações mundiais era “consideravelmente superior” até 2020, com um peso médio de 12%, apenas atrás de EUA, Brasil e Argentina.

Já nos cereais de outono/inverno, o INE prevê que o impacto da seca nas produtividades corresponda a um decréscimo entre 10%, para os cereais praganosos, a 15%, para o trigo duro e a aveia, o que, aliado a uma área semeada historicamente baixa, agravará a dependência do abastecimento externo. De momento, estes cereais “encontram-se em plena maturação, apresentando, de um modo geral, fraco desenvolvimento vegetativo”.

As sementeiras do arroz, por sua vez, têm decorrido com normalidade: no final de maio, estimava-se que cerca de dois terços da área estivesse semeada, apesar do vento forte que se fez sentir nos últimos dias do mês. No entanto, as previsões do gabinete estatístico apontam para um decréscimo de 5% face à campanha anterior, sobretudo devido às obras de manutenção dos canais de rega de Alcácer e Grândola.

Também para a batata está prevista uma diminuição da área semeada, na ordem dos 10% no regadio e dos 15% no sequeiro. A falta de precipitação e humidade no solo, bem como o aumento dos preços dos meios de produção, particularmente dos fertilizantes e dos combustíveis, e a proibição do uso de produtos com clorprofame, são os principais fatores para este decréscimo.

“A colheita da batata de sequeiro iniciou-se sem dificuldades, apresentando os tubérculos qualidade e calibres razoáveis. No entanto, na região do Oeste, onde esta cultura é mais representativa, os batatais apresentam um fraco desenvolvimento vegetativo, pelo que se preveem quebras de 60% face a 2021”, ressalva o INE.

O tomate é dos poucos produtos agrícolas que não terá um decréscimo de área semeada, impulsionado pela perspetiva de subida do preço para a indústria aquando da celebração dos contratos. De acordo com os dados do INE, “a plantação de tomate para indústria decorreu sem interrupções e em boas condições”, sendo a área contratada entre os produtores e a indústria transformadora de 16,5 mil hectares, um aumento de 4% face à campanha passada.

A produção de cerejas foi distinta nas principais regiões produtoras. No Ribadouro, a produtividade deverá ser idêntica à da campanha passada, enquanto a Cova da Beira foi afetada pelas condições meteorológicas, prevendo-se um decréscimo de produtividade de 25%. Os pomares de pessegueiros também terão um decréscimo de produtividade, na ordem dos 10%, devido a floração por precipitação, baixas temperaturas noturnas e formação de geadas.

O INE aponta ainda que, apesar do agravamento da situação de seca meteorológica, com 98,5% do território em seca severa e extrema, apenas existem restrições de rega nos aproveitamentos hidroagrícolas beneficiados pelas albufeiras do Monte da Rocha e da Bavura. Além disso, o volume de água armazenado nas principais albufeiras com aproveitamento hidroagrícola encontrava-se a 67% da capacidade total, não tendo sido um fator limitante para a instalação das culturas anuais de regadio.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Área de milho deverá aumentar 5%, mas impacto no abastecimento nacional será reduzido

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião