Lemonade recua nas doações em ano mais amargo

  • ECO Seguros
  • 19 Julho 2022

O último ano foi mais “amargo” para a insurtech vedeta, pois encolheu as suas doações e há dificuldades, embora prémios e clientes cresçam.

Pela primeira vez, em 2022, a Lemonade, uma insurtech que capta todas as atenções, pagou menos às organizações sem fins lucrativos (1,9 milhões de dólares) escolhidas pelos seus segurados que em 2021, quando destinou a causas sociais, ambientais e outras 2,3 milhões de dólares.

A seguradora assenta as suas doações na filosofia de doar o excedente dos prémios de seguro que vende, depois de descontada a sua percentagem e os custos de sinistros, resseguros e outros e salvaguardando a solvibilidade financeira da empresa. As doações atingiram 6,2 milhões de dólares desde 2017, tendo como ponto de partida, uns modestos 53.174 dólares em doações. Em 2019, estas já superavam 631 mil dólares.

Não se trata de um donativo qualquer, mas uma das principais características do modelo de negócios da empresa e uma das razões da sua popularidade global. No seu último relatório anual, a Lemonade afirma que, se fosse forçada a alterar ou remover esta característica de afetar uma parte dos prémios a causas sociais, tal poderia “minar o seu modelo de negócio”.

Insurtech da moda

A Lemonade é uma das insurtechs da moda. Reúne, para isso, todos os condimentos. Fundada em 2015 e listada no NYSE (bolsa de Nova Iorque), a tecnologia e a forte consciência ambiental e social, o modelo de negócio inovador que, entre outras coisas, compromete os segurados com doações para causas populares, conduziram-na a uma situação ímpar e colocaram-na nas bocas do mundo financeiro e sob os holofotes dos media.

Tornou-se uma das principais insurtechs do mundo, com um crescimento assinalável e sucessivas rondas de financiamento bem-sucedidas. Até abrir o capital ao público em julho de 2020, a Lemonade arrecadou 480 milhões de dólares em 5 rondas junto dos investidores.

A Lemonade não faz as coisas por pouco. Apresenta-se como a “seguradora do Séc. XXI, propõe a primeira apólice de seguro de código aberto do mundo e, no seu site, um botão destaca a “apólice 2.0”, “simplificada”, “modernizada” e “digitalizada”, para que o cliente possa “ler e entender”.

Possui uma clientela predominantemente jovem, utiliza chats e bots para lidar com a inscrição e as reivindicações, um orgulho para o CEO Daniel Schreiber que já afirmou publicamente que a Lemonade consegue resolver um sinistro “em cerca de três ou quatro segundos” por um bot da app. A insurtech, para abreviar, oferece ao cliente uma experiência digital completa.

O modelo de doações, para que, segundo a insurtech, “o seguro se transforme de um mal necessário num bem social”, é a sua marca distintiva. A Lemonade, que resulta do encontro de especialistas em tecnologias de informação, em seguros e no comportamento, cobra, no prémio faturado mensalmente ao cliente, uma taxa fixa de 25%, utilizada para cobrir custos administrativos e o seu lucro e uma parcela de 75%, utilizada para financiar sinistros, comprar resseguros e cobrir impostos e taxas. O excedente desta parcela vai para uma causa social da escolha do cliente.

Os segurados são agrupados na base da sua seleção de uma causa social. Isto significa que entre os segurados individuais em grupos de menor sinistralidade ou em que esta reveste menos impacto financeiro será maior o excesso de prémios – ou até 40% deles, como a Lemonade já teve oportunidade de explicar –, que irão para a instituição de caridade escolhida pelo grupo. Aqueles grupos com índices de perda acima de 40% “geralmente não receberão retorno” social, reconhece a insurtech.

As contribuições também têm a vantagem aparente de reduzir as fraudes, já que em relação aos segurados, jovens, da geração do milénio, socialmente conscientes, há a esperança de que se sintam menos inclinados a tentar ludibriar a sua seguradora se houver doações em jogo.

Mas os prémios mais que triplicaram…

O valor dos prémios cresceu e o número de clientes na insurtech disparou de 400.000 clientes em 2021, para 1,4 milhões.

A rentabilidade continuou, no entanto, negativa e a empresa registou um prejuízo líquido, que apresenta uma tendência ascendente, de 241,3 milhões de dólares em 2021, quase duplicando o prejuízo de 122,3 milhões de dólares apurado em 2020.

No entanto, grande parte da resposta ao que se passou reside no desempenho dos sinistros, ao qual está atrelado o respetivo ressarcimento. A Lemonade depende da “boa sorte e bom comportamento de nossos clientes”, disse um porta-voz da Lemonade à Insurance Business. Eventos climáticos catastróficos e inflação podem levar a níveis de doações cada vez menores.

No Texas e em Oklahoma, a Lemonade sofreu um golpe de 6,9 milhões de dólares da Winter Storm Uri, enquanto registou perdas devido aos incêndios florestais da Califórnia e outras grandes perdas com o “desenvolvimento desfavorável do período anterior”, o qual se reporta ao último trimestre do ano passado.

A sinistralidade geral da insurtech foi de 93% em 2021, um aumento de 71% em relação ao ano anterior.

Sem fins lucrativos

Os números, contudo, não parecem ter demovido a iniciativa dirigida a instituições de apoio social.

Entre os principais destinatários incluíram-se a Charity: Water, que recebeu 134.909 dólares para apoiar projetos de água no Mali, a Direct Relief, que recebeu 133.955 dólares para fornecer mochilas médicas de emergência a refugiados ucranianos e a “justiça climática” sem fins lucrativos 350.Org, que recebeu 118.443 dólares.

Os maiores beneficiários quanto ao aumento das doações foram as causas ambientais, de acordo com os números compartilhados com a Insurance Business pela Lemonade – um aumento de 72% em relação ao ano passado e um pouco mais de 492.000 de dólares em doações. As causas de direitos civis também tiveram crescimento, alcançando 272.331 de dólares, um aumento de 52%.

As organizações sem fins lucrativos relacionadas com a saúde também tiveram um aumento de 18%, atingindo 379.320 dólares, enquanto as organizações LGBTQ+ arrecadaram 154.649 dólares, representando um crescimento de 11%.

Várias instituições de caridade como a Women In Need, National Breast Cancer Foundation e a American Red Cross Greater New York, compartilharam as notícias das doações nas redes sociais e agradeceram ao provedor.

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