Inflação ou recessão: o dilema de Powell (e dos bancos centrais) centra atenções em Jackson Hole

Fed já subiu os juros em 225 pontos base desde março para travar escalada da inflação. Com economia a tremer, como vai proceder daqui para a frente? Powell poderá deixar pistas em Jackson Hole.

Há exatamente um ano, os banqueiros centrais diziam em Jackson Hole que a alta inflação seria um fenómeno passageiro. Um ano depois, a realidade vem brutalmente demonstrar que estavam enganados, com uma agravante: enquanto lidam com a subida dos preços ao ritmo mais elevado em décadas, as economias globais enfrentam o risco de uma recessão.

É neste dilema que Jerome Powell, presidente da Reserva Federal (Fed), centrará todas as atenções no simpósio anual do Fed do Kansas City, que começa esta quinta e termina sábado.

Com Christine Lagarde (Banco Central Europeu) a falhar novamente o evento e Andrew Bailey (Banco de Inglaterra), estando presente, a não ter qualquer intervenção agendada, os “gastos” desta edição estão por conta do anfitrião: Powell tem o seu discurso principal agendado para sexta-feira, pelas 15h00 (hora de Lisboa), sendo o momento mais aguardado pelos investidores.

A Fed tem vindo a empreender uma agressiva campanha de aumento das taxas de juro para travar a inflação que está em máximos de quatro décadas. Desde março já subiu as suas taxas em 225 pontos base. Ao subir os juros, o banco central encarece o preço do dinheiro e trava o consumo e o investimento no sentido de refrear a economia e, assim, os preços. O que vai fazer a seguir?

Nos últimos dias, foram vários os responsáveis da Fed a reforçarem a ideia de que ainda não se pode cantar vitória contra a inflação e que o banco central só irá descansar quando estiver controlada. Estas declarações acabaram por criar junto dos investidores a ideia de que a Fed vai manter a agressividade no aperto das condições financeiras, provocando uma forte pressão vendedora nos ativos com maior risco, como as ações.

Também por isto o discurso de Powell é aguardado com grande expectativa. Os investidores vão procurar pistas sobre o que poderá suceder já na reunião de setembro (dias 20 e 21) – vamos ter um aumento de 50 pontos base ou de 75 pontos como nas duas anteriores reuniões? -– e qual o ritmo de subidas dali para a frente.

O presidente da Fed poderá proteger-se com aquilo que se tem tornado num chavão dos banqueiros centrais por estes dias: a decisão de setembro dependerá da evolução dos dados económicos.

A taxa de inflação nos EUA foi de 8,5% em julho, o que trouxe já um ligeiro abrandamento em relação à taxa de 9,1% observada em junho, e que representou um recorde em 40 anos. Em 2023, a inflação deverá atingir os 4%.

Powell sabe que caminha sobre o gelo fino das expectativas dos agentes económicos: tem de demonstrar que está determinado em fazer baixar a inflação, mas também deve ter a noção do momento em que deve parar com os aumentos das taxas de juro sem sinalizar junto do mercado que a luta está a chegar ao fim.

“Jackson Hole será uma oportunidade para Jerome Powell redefinir as expectativas do mercado e reafirmar a sua prioridade máxima no combate à inflação”, diz Franck Dixmier, Diretor Global de Investimentos em Obrigações da Allianz Global Investors.

BCE com tarefa mais complicada

Na Europa, com uma guerra à porta, as perspetivas são ainda menos animadoras, com aquilo que promete ser um inverno frio nas casas, mas muito, muito quente no que diz respeito aos preços da energia.

O Bundesbank avisou que a inflação na Zona Euro poderá atingir os dois dígitos assim que as medidas tomadas pelos Governos europeus para aliviar o impacto do aumento do custo de vida acabarem.

Para 2023, as previsões do BCE apontam para uma taxa de inflação na Zona Euro na ordem dos 3,5%. O staff do banco central deverá rever em alta as suas previsões para a subida dos preços na reunião de setembro, enquanto piora as estimativas para a economia.

Isabel Schnabel, membro da comissão executiva do BCE, marcará presença em Jackson Hole. Disse recentemente que as pressões inflacionistas vão permanecer connosco por algum tempo. “As pressões não vão desaparecer rapidamente. Mesmo com a normalização da política monetária em curso, levará algum tempo até que a inflação volte a 2%”, admitiu Schnabel.

O BCE ainda só agora começou a subir as suas taxas: aumentou em 50 pontos base em julho, acabando com o ciclo de juros negativos na Zona Euro. O conselho de governadores volta a reunir-se já no arranque do próximo mês, no dia 8, e poderá anunciar nova subida.

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