Licenciados ganham mais do dobro dos trabalhadores com 9.º ano

  • Lusa
  • 3 Outubro 2022

A vantagem de ter estudado no ensino superior não se nota apenas no vencimento, mas desde logo na fase de arranjar emprego, revela a OCDE.

Um licenciado em Portugal ganha mais do dobro do que um trabalhador que só concluiu o 3.º ciclo. Esta é uma das conclusões do relatório “Education at a Glance 2022” da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgado esta segunda-feira e que, nesta edição, destaca o ensino superior.

Confirmando que as habilitações literárias dos trabalhadores se refletem no seu salário em todos os países da OCDE, o mais recente relatório sobre o estado da educação sublinha que ter um curso superior é uma mais-valia ainda maior em Portugal.

Em 2020, os trabalhadores entre os 25 e os 64 anos com o ensino secundário recebiam, em média, um salário 25% mais elevado do que os colegas que não foram além do 3.º ciclo. Olhando para os trabalhadores com formação no ensino superior, a diferença é mais do dobro, ligeiramente acima da média da OCDE.

A tendência é geral, mas existem determinadas áreas em que compensa mesmo ter, pelo menos, uma licenciatura. É o caso das tecnologias de informação e comunicação, a área que paga melhores salários em Portugal e em que, ao final do mês, ter uma licenciatura vale mais do dobro do que ter apenas o secundário. Por outro lado, segundo o relatório, é nas artes que os licenciados ganham menos.

A vantagem de ter estudado no ensino superior não se nota apenas no vencimento, mas desde logo na fase de arranjar emprego.

De acordo com o relatório, as habilitações literárias estão, de facto, associadas a melhores perspetivas de emprego, não só em Portugal, mas em toda a OCDE.

Em 2021, por exemplo, a taxa de emprego na faixa etária dos 25 aos 34 anos foi mais alta entre os jovens que completaram pelo menos um nível do ensino superior. Em média, a taxa de emprego nesse grupo foi 14 pontos percentuais mais alta face aos jovens com o 3.º ciclo e cinco pontos percentuais comparativamente àqueles que concluíram o secundário.

Esta relação é “particularmente forte” no caso das mulheres. No mesmo ano, pouco mais de metade das mulheres que não chegou ao ensino secundário estava empregada (63%), enquanto 86% das mulheres com cursos superiores tinham trabalho. No caso dos homens, a diferença é apenas de 74% para 80%, respetivamente.

À semelhança dos salários, também há variações entre diferentes áreas e, no que respeita à empregabilidade, as tecnologias de informação e comunicação voltam a ser aquelas em que um diploma do ensino superior é mais valorizado, sendo que a empregabilidade entre os licenciados foi de 96%.

Ainda assim, esta é uma das áreas menos procuradas pelos jovens que seguem para a universidade e, entre um total de 380.235 pessoas a estudar no ensino superior em 2020, só 3% dos novos alunos é que optou por cursos de tecnologias de informação e comunicação.

“Apesar da necessidade crescente de competências digitais e das boas perspetivas de emprego dos estudantes com cursos em tecnologias da informação e comunicação, apenas uma pequena percentagem dos novos alunos escolhe esta área”, lê-se no relatório, que refere que a média da OCDE é ligeiramente mais alta (6%).

Em contraste, as áreas mais populares são comuns a quase todos os países da OCDE, incluindo Portugal, onde 24% dos novos alunos das universidades ou politécnicos foi para cursos em gestão ou direito.

A maioria dos estudantes portugueses do ensino superior está em licenciaturas (57%), seguindo-se os mestrados (33%). No caso das licenciaturas, só 38% é que termina o curso no tempo esperado.

Lacuna na formação de adultos

A propósito do ensino superior, o “Education at a Glance” aponta que, em Portugal, a oferta está sobretudo orientada para as necessidades da principal faixa etária a ingressar em cada ciclo de estudos, ou seja, os jovens que saíram do ensino secundário para uma licenciatura e daí para o mestrado, estando pouco direcionada para a formação de adultos.

Referindo os conceitos de ‘upskilling’ e ‘reskilling’, ou seja, melhorar as competências necessárias para o seu trabalho ou adquirir novas competências para outra área, os especialistas consideram que as instituições de ensino de competências investem pouco na requalificação dos adultos.

“Oferecem oportunidades de estudo moderadamente diversificadas e relativamente inflexíveis, o que representa uma barreira que limita o seu papel em ‘upskilling e reskilling'”, referem, propondo que as instituições atualizem a sua oferta para captar pessoas que já estão no mercado de trabalho e querem trabalhar as suas competências.

O relatório sugere também medidas que permitam facilitar o acesso ao ensino superior, como a possibilidade de estudar em regime ‘part-time’, uma vez que para muitos estudantes que têm filhos ou precisam de trabalhar para pagar as propinas, estudar a tempo inteiro não é opção.

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