Portugal vai bater recorde na produção de camiões em 2022

Fábrica da Mitsubishi Fuso, no Tramagal, prevê produzir 12 mil unidades neste ano, superando o anterior recorde, obtido no ano 2000. Trabalhadores receberam "cheque anti-inflação" de 400 euros.

Portugal vai bater este ano o recorde de produção de camiões. A culpa é da fábrica da Mitsubishi Fuso, unidade de produção de pesados localizada no Tramagal, que é detida pela Daimler e que também tem a marca japonesa como acionista. Em 2023, a fábrica vai estrear-se na produção em série de veículos pesados elétricos.

“Contra toda as expectativas, como a crise dos semicondutores, o aumento do preço dos fretes e a Covid-19, vamos ter um número recorde. Preparamo-nos para produzir 12 mil unidades em 2022. Estamos muito contentes com isso”, anuncia ao ECO Arne Barden, o alemão que desde 1 de março comanda os destinos desta fábrica, localizada a 150 quilómetros de Lisboa.

O atual recorde de produção da fábrica da Fuso data do ano 2000, quando foram fabricadas 11.714 unidades. “Não podemos mudar o vento, mas temos de colocar as velas de forma correta. Atuámos de maneira adequada: nos momentos mais difíceis, preparámos veículos incompletos, que estamos agora a terminar — e que permitiram manter a fábrica a funcionar”, assume o gestor alemão.

Modelo Canter é fabricado no Tramagal desde 1980.

ArneBarden assumiu a presidência da fábrica da Fuso no Tramagal a 1 de janeiro deste ano, mas apenas se mudou para Portugal no início de março. O gestor liderava anteriormente a cadeia de abastecimento da marca japonesa, que está nas mãos do grupo automóvel Daimler, um dos maiores do mundo.

Não podemos mudar o vento mas temos de colocar as velas de forma correta. Atuámos de maneira adequada: nos momentos mais difíceis, preparámos veículos incompletos, que estamos agora a terminar – e que permitiram manter a fábrica a funcionar.

Arne Barden

Presidente executivo da Mitsubishi Fuso Truck Europe

Com cerca de 500 trabalhadores, a fábrica europeia da Fuso “é pequena para os padrões da Daimler, onde as fábricas de automóveis do grupo costumam ter 10 mil a 14 mil trabalhadores”. No entanto, para Arne Barden isso não é necessariamente mau.

“Esta fábrica é muito focada e tem um propósito muito claro e específico: fabricar camiões para o mercado europeu. Fazemos isso com toda a atenção e muito perto da perfeição. Aqui não estamos distraídos. Não há investigação e desenvolvimento [concentrada no Japão], não há área de vendas, nem há coisas engraçadas. Somos excelentes no fabrico de veículos. Ponto final.”

Além de serem exportados para toda a Europa, os camiões ligeiros fabricados no concelho de Abrantes têm também Marrocos, Austrália e Nova Zelândia como destino. Por motivos estratégicos, em 2020 foi abandonado o projeto de fabrico de unidades sem motor, a gasolina, para os Estados Unidos.

Aposta elétrica

Foi em 2017 que a fábrica da Fuso começou a produzir a primeira geração da eCanter, unidade totalmente elétrica do camião ligeiro. E que serviu sobretudo para municípios de cidades como Lisboa, Amesterdão, Berlim, Londres, Nova Iorque e Tóquio. Na primeira etapa eram produzidas apenas séries especiais, de 50 ou 100 unidades.

A partir de 2023 avança a produção da segunda geração da eCanter, que contará com perto de 200 quilómetros de autonomia e que será fabricada em série. “Tenho 100% de certeza que vamos vender a eCanter que nem pãezinhos quentes. Os mercados gostam muito do produto e procuram camiões elétricos. A procura será muito elevada”, prevê o gestor alemão. Ainda assim, a maior parte da produção na fábrica continuará a ser para camiões com motor a gasóleo.

Segunda geração da eCanter foi apresentada em Hannover e conta com perto de 200 quilómetros de autonomia.

Também na área do ambiente, a fábrica do Tramagal já atingiu a neutralidade carbónica. Graças à instalação de painéis solares no último mês, a unidade da Fuso já consegue absorver as emissões que resultam da sua atividade, assegura o grupo.

“Cheque” de 400 euros

Mais complicados de absorver têm sido os efeitos da guerra na Ucrânia. “É muito difícil lidar com a subida de custos: é a energia, são os componentes… em quase todas as áreas estamos a ser atingidos pela inflação. Estamos a ter acomodar isso nas nossas contas, porque não queremos alimentar mais a inflação“, assume o líder alemão.

Admitindo que é necessário “ajustar os salários de forma inteligente” e que “não se pode andar a espalhar o dinheiro de qualquer maneira”, a fábrica do Tramagal atribuiu um pagamento extraordinário de 400 euros em setembro. “Todos os operários foram incluídos, até os estagiários”, anuncia Arne Barden.

Ponte prometida e turnos flexíveis

A chegada à unidade da Fuso faz-se por estrada ou pela linha do comboio, que habitualmente conta com tráfego de mercadorias — a estação do Tramagal fica a menos de 10 minutos a pé da linha de montagem. As acessibilidades, contudo, não correspondem às necessidades.

“O transporte por estrada também é muito complicado”, considerando os troços estreitos para os camiões. Há uma ponte prometida pelo Governo português há muito tempo, mas que nunca avançou. “Estamos ansiosamente à espera disso”, frisa. Há mais de 30 anos que se fala numa nova ponte sobre o Tejo. Em 2008 chegou mesmo a ser feito o anúncio, durante uma visita à fábrica do então primeiro-ministro, José Sócrates.

Também há dificuldades com a linha do comboio. “Todos os anos verificamos com as empresas se há possibilidade de transportar os veículos por comboio. As empresas querem comboios cheios todos os dias, mas nós não lhes conseguimos proporcionar isso”, completa o gestor.

Fábrica do Tramagal funciona desde 1964 junto à Linha da Beira Baixa.

ArneBarden defende também maior flexibilidade nos turnos dos trabalhadores. Atualmente, a laboração funciona entre as 8h e as 16h, nos dias úteis. “A lei do trabalho portuguesa não nos dá muita margem para adequar os horários à disponibilidade das peças. Temos de acompanhar a procura de mercado”, argumenta.

Apesar das críticas à lei laboral, o responsável de origem alemã sublinha que o país proporciona outro tipo de vantagens. “Estou muito contente por ter aceitado esta proposta. Portugal um país fantástico. As pessoas são muito boas, dentro e fora da empresa. Gosto muito da comida, da hospitalidade portuguesa e do tempo”, elogia.

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