Promovem a parentalidade, mas poucas empresas têm benefícios na questão da fertilidade
Em Portugal, embora várias empresas tenham políticas para a promoção da parentalidade, são poucas as que apoiam os colaboradores que estão a braços com tratamentos de fertilidade. Mas há exceções.
Se muitas empresas estão dispostas a oferecer benefícios como carro, ioga ao final da tarde, massagens gratuitas ou kit para celebrar e apoiar o nascimento de um bebé, será que não deveriam também envolver-se na questão da fertilidade, ajudando os colaboradores que estão a braços com tratamentos de infertilidade? A resposta é sim, considera Matthew Law, corporate consultant da Connor Broadley, responsável pela gestão de benefícios. E empresas como a Ferring e a Microsoft comprovam-no, sendo ainda das poucas em Portugal que já integram este benefício na sua política.
“Os benefícios de fertilidade dos empregados são suscetíveis de beneficiar mais pessoas do que muitos imaginam”, afirma o especialista. “A paternidade é muito mais difícil de conseguir para uns do que para outros, sendo que o elevado custo pode colocar o tratamento privado fora de alcance. Existe um forte argumento comercial para apoiar ativamente o planeamento familiar no local de trabalho, sobretudo para evitar a perda de talentos de topo”, começa por explicar Matthew Law, citado pela Wired.
Em Portugal, embora várias empresas disponham de uma série de políticas para a promoção da parentalidade, são poucas as que dispõem de algum benefício que abranja aqueles colaboradores que estão a braços com tratamentos de fertilidade para poderem, finalmente, cumprir o sonho da parentalidade. Mas existem exceções. É o caso da Ferring e da Microsoft.
A empresa que atua precisamente na área da medicina reprodutiva e saúde materna tem como missão ajudar as pessoas no mundo inteiro a constituírem e a viverem de forma saudável. E isso começa logo pelos próprios colaboradores. O novo programa global de benefícios da empresa contempla, para além das 26 semanas de licença parental a qualquer um dos pais, um apoio monetário para tratamentos de fertilidade para os colaboradores em todo o mundo, incluindo em Portugal.
“Não existe um valor máximo definido neste novo programa de benefícios. Sabemos que os desafios são diferentes para cada família, e por este motivo a determinação da empresa é apoiar os nossos colaboradores a ultrapassar as dificuldades específicas que tenham, seja, por exemplo, com aconselhamento médico, tratamentos de fertilidade, vitrificação de óvulos entre outros disponíveis, sem um limite financeiro definido”, explica à Pessoas Beatriz Perez, head of HR da Ferring Pharmaceuticals, que emprega atualmente 6.000 pessoas em todo o mundo.
O programa da Ferring pretende proporcionar igualdade de oportunidades para criar uma família, independentemente da situação médica, circunstâncias pessoais ou estrutura familiar. Isto significa fornecer o apoio financeiro necessário para aceder a tratamentos de fertilidade, adoção, congelamento de ovos, aconselhamento e serviços relacionados. Além disso, para assegurar que os colaboradores se sentam apoiados durante o processo de constituição familiar, estão disponíveis licenças remuneradas para tratamentos de fertilidade e processos de adoção.
Estima-se que a infertilidade afeta um em cada seis casais heterossexuais em todo o mundo, sendo uma questão clínica significativa, segundo dados da European Society of Human Reproduction and Embryology e da World Health Organization. Os impactos negativos da infertilidade são profundos, existindo um fosso claro entre o número de pessoas que sofrem de problemas de saúde mental devido à infertilidade e o número de pessoas que procuram ajuda para resolver estes problemas.
Subjacente ao apoio prático fornecido pelo novo programa da farmacêutica, está o apoio ao bem-estar emocional dos colaboradores, através de quatro semanas de licença remunerada devido a aborto, por exemplo, e serviços de aconselhamento oferecidos a todos os colaboradores desde o início da sua jornada de fertilidade.
Sabemos que os desafios são diferentes para cada família, e por este motivo a determinação da empresa é apoiar os nossos colaboradores a ultrapassar as dificuldades específicas que tenham, seja, por exemplo, com aconselhamento médico, tratamentos de fertilidade, vitrificação de óvulos entre outros disponíveis, sem um limite financeiro definido.
“É com base neste compromisso [de ajudar as pessoas de todo o mundo a constituir família e a viverem melhor] que introduzimos um novo pacote de benefícios abrangente e inclusivo que visa fomentar e apoiar todos os nossos colaboradores a constituir família, quer seja através de apoio financeiro para tratamentos de fertilidade ou outros, como licenças remuneradas de apoio à parentalidade. Queremos ainda fomentar um ambiente de trabalho que apoie e valorize o processo de constituição familiar”, refere Cristiano Ferreira, diretor-geral da Ferring Service Center.
Já na Microsoft, onde os benefícios variam em função das regiões e das leis locais de cada país onde a multinacional está presente, tem adaptado e revisto continuamente as suas medidas em função das necessidades dos colaboradores. “Sabemos que o que oferecemos é essencial não só para o seu trabalho, como também para a sua vida. Isto inclui o caminho pessoal de construção e planeamento familiar, independentemente do que o conceito família possa representar”, refere fonte oficial da empresa.
Através do acesso gratuito à Maven, uma plataforma de saúde e planeamento familiar, a tecnológica disponibiliza a todos os colaboradores “apoio na pré-conceção e fertilidade, através de acompanhamento especializado e apoio emocional na preparação para a gravidez, incluindo os que procuram fertilização in vitro e congelamento de óvulos“.
Além disso, são oferecidos cuidados privados, 24 horas por dia, sete dias por semana, virtuais, para aspirantes a pais e novos pais. “Os nossos colaboradores e parceiros podem utilizar a Maven para marcação de consultas virtuais com fornecedores em mais de 30 especialidades, incluindo pediatria e saúde mental; obter recursos personalizados para si e para a sua família e estabelecer conexões com outros pais”, detalha a mesma fonte oficial.
Já a licença de maternidade é de 140 dias consecutivos e a de paternidade de 42 dias, em ambos os casos pagos a 100%.
“Evitar a perda de talentos de topo”
Uma investigação da Fertility Network UK concluiu que apenas 26% das pessoas que são submetidas à fertilização in vitro (FIV) estavam empregadas em organizações com políticas de fertilidade implementadas.
No entanto, o cenário começa a mudar e, sobretudo lá fora, o tema começa progressivamente a entrar pelas portas das empresas. O LinkedIn oferece tratamentos de fertilidade como um benefício desde 2019, enquanto, durante este verão, a NatWest começou a dar aos seus colaboradores descontos no valor de vários tratamentos, à semelhança do que já tinha feito a Centrica, distribuidora de gás britânica, depois de os empregados terem fundado um grupo de apoio para temas de fertilidade.
“Não se esqueça de como pode ser difícil lidar um tratamento falhado. Pense em conciliar este benefício com um acesso mais amplo ao apoio à saúde mental, tempo livre para aqueles que não conseguem engravidar ou que abortam, e apoio à adoção.
“Existe um forte argumento comercial para apoiar ativamente o planeamento familiar no local de trabalho, sobretudo para evitar a perda de talentos de topo”, considera Matthew Law. “Passar por um tratamento de fertilidade pode ser um acontecimento sensível e altamente pessoal”, acrescenta o especialista. E alerta: “Os trabalhadores podem recear que, se a sua empresa souber da sua intenção de constituir uma família, a sua intenção possa ter impacto na progressão da sua carreira. Como tal, além de oferecerem o benefício, as empresas devem também comunicá-lo de forma eficaz, de forma que fique claro que a empresa apoia os seus trabalhadores nessa viagem”.
Por outro lado, recorda: “Não se esqueça de como pode ser difícil lidar um tratamento falhado”. “Pense em conciliar este benefício com um acesso mais amplo ao apoio à saúde mental, tempo livre para aqueles que não conseguem engravidar ou que abortam, e apoio à adoção”, sugere o corporate consultant da Connor Broadley.
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