Tripulantes da TAP “podem vir a ganhar mais” do que em 2019 se trabalharem mais, diz administrador financeiro

  • Lusa
  • 11 Novembro 2022

"Temos todos que ser mais produtivos, incluindo os tripulantes de cabine. Na British Airways podem trabalhar até 900 horas por ano. Porque é que na TAP só se pode trabalhar até 600?", diz Gonçalo Pire

O administrador com o pelouro financeiro da TAP (CFO), Gonçalo Pires, garantiu que “todos os tripulantes de cabine da TAP podem vir a ganhar mais do que ganhavam em 2019”, mas que para isso têm de “trabalhar mais”.

Em entrevista à Lusa, a propósito da renegociação dos acordos de empresa que está a decorrer na companhia, e que motivou a convocação de uma greve pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), Gonçalo Pires disse que a proposta da TAP assenta no aumento da produtividade.

“Não queremos confundir ninguém, é preciso ter uma discussão informada e perceber que a reação do sindicato dos tripulantes de cabine à proposta da TAP” deve ser “enquadrada no mundo real”, referiu, salientando que não há “mais oportunidades para fazer da TAP uma empresa financeiramente sustentável”, tendo em conta as ajudas de Estado, de 3,2 mil milhões de euros, o que obriga a “administração a rever a estrutura de custos da empresa e fazer tudo o que está ao seu alcance para tornar a empresa financeiramente rentável”.

“Neste contexto, ter acordos coletivos de trabalho que sejam competitivos, modernos, ajustados aos tempos que vivemos, a momentos de competitividade com outras companhias aéreas é uma obrigação da empresa e desta administração”, destacou.

O CFO da TAP considera que os atuais acordos “são antigos” e “fora de prazo”, sendo preciso ajustá-los “aos tempos modernos”, citando um estudo, de um consultora para a companhia, que concluiu, segundo o gestor, que “para as duas grandes categorias profissionais de tripulantes de cabine, na do comissário assistente na TAP ganham 25% mais, já depois dos cortes salariais, e no caso do topo da carreira, dos supervisores de cabine, 50% mais” do que na British Airways.

O SNPVAC, num comunicado esta semana, contestou a publicação destes dados, que considera um “ataque difamatório”. Segundo Gonçalo Pires, “a TAP não existe contra grupos profissionais”, garantindo que são “uma família” que deve “contribuir para o mesmo, para tornar a empresa sustentável”. “Queremos em boa-fé negociar estes acordos de trabalho para garantir precisamente a sustentabilidade da empresa”, indicou, referindo que “todos os tripulantes de cabine da TAP podem vir a ganhar mais do que ganhavam em 2019. Têm é de trabalhar mais”.

“Nós temos todos que ser mais produtivos, incluindo os tripulantes de cabine. Na British Airways podem trabalhar até 900 horas por ano. Porque é que na TAP só se pode trabalhar até 600?”, questionou.

O CFO recusou que os tripulantes de cabine possam perder em média 450 euros com o novo acordo. “A nossa proposta faz um ajuste da remuneração fixa. Mas paga mais se se voar mais”, reforçou. “O mandato desta administração é entregar o plano [de reestruturação]. E o plano obriga-nos a ser financeiramente sustentáveis. E para atingir essa sustentabilidade temos de mexer em contratos que são antigos e prejudicam a empresa e estamos a fazê-lo para todos”, garantiu, realçando que a gestão tem de “rever os acordos coletivos de trabalho que infelizmente garantem muito pouca produtividade”.

“Isto não é nenhuma injustiça”, sublinhou, afirmando que é preciso “negociar de boa-fé” porque “é uma mudança na vida das pessoas”, sendo que “no caso dos tripulantes de cabine em média o corte representa 120 euros na remuneração fixa”, indicou, reconhecendo que “é uma alteração contra as condições que tinham em 2019”.

Questionado sobre o sentido de oportunidade de avançar com estas medidas numa altura de inflação elevada, Gonçalo Pires disse que a administração não esquece “a situação” atual, recordando que já foi anunciado que, “dependendo dos resultados do final do ano”, está “a equacionar uma forma de compensar excecionalmente o impacto da inflação”.

Sobre as negociações com os pilotos, Gonçalo Pires disse que estão “mais avançadas”, mas ainda longe de um desfecho. Segundo o CFO, os pilotos “aceitaram a nova proposta da TAP e estão a negociá-la. Sabem que a proposta que fizemos não vai ser aquela que vai ficar, porque isto é uma negociação, mas aceitaram e estamos à mesa e a discutir ponto a ponto. É isso que queremos fazer com todos os grupos profissionais e é isso que gostaríamos que acontecesse com os tripulantes de cabine”, indicou.

“Nós não estamos a negociar para beneficiar uns e prejudicar outros. Percebemos que existem especificidades em cada um dos grupos profissionais e obviamente que a rapidez com que fecharmos com cada um não depende só de nós, mas também da vontade que eles têm de chegar a acordo”, referiu.

“Estamos a fazer tudo para que 2023 corra muito melhor” na operação

Gonçalo Pires garantiu também que a administração da companhia está “a fazer tudo para que 2023 corra muito melhor” em termos operacionais, sobretudo no verão. O gestor disse que a empresa estava “a trabalhar precisamente para isso”, mas recordou vários constrangimentos. A TAP, à imagem de outras companhias aéreas europeias, cancelou dezenas de voos durante o verão por problemas operacionais.

A TAP vive com um tema estrutural, que é a nossa infraestrutura. Estamos com um aeroporto congestionado”, recordou, abordando ainda a questão da insolvência da Groundforce, que presta serviços de assistência em terra nos aeroportos (handling), processo sobre o qual disse esperar “ter notícias em breve”.

“Tivemos estes upgrades tecnológicos na NAV [que implementou um novo sistema], estamos a lidar com o absentismo dos tripulantes de cabine”, destacou, indicando que é preciso melhorar “em cada um destes pontos para no próximo verão ter uma operação muito mais consistente”.

Gonçalo Pires reconheceu que é nos picos da atividade que existem os “maiores problemas”. Por isso disse que a companhia estava muito concentrada “em garantir que o próximo verão correrá muito melhor”, apontando ainda os problemas de frota que prejudicaram a companhia.

“Quando chegamos havia um plano para receber seis novos E-jets da Embraer”, mas “esses aviões estão ainda atrasados, só recebemos três e ainda estamos à espera de três que esperamos receber até ao início do próximo ano”, indicou, recordando ainda as questões em torno da “fiabilidade da frota de [aviões] ATR”.

“Reduzimos a frota dos ATR e acabamos o contrato com a White”, recordou, explicando que “não era um operador com uma sustentabilidade financeira para garantir serviço aos clientes da TAP”, sendo que, por isso, haverá “mais fiabilidade na operação” da companhia. “Estamos a fazer tudo para que 2023 corra muito melhor”, rematou.

Questionado sobre a possibilidade de a TAP optar por mais contratos de prestação de serviços externos, conhecidos na aviação como ACMI, o administrador financeiro realçou que “em 2022 foram menores do que em 2019”. Gonçalo Pires justificou a opção por estes contratos, muito contestados pelos sindicatos, “pelo atraso dos E-jets”, indicando que foi preciso “proteger o serviço”, e por “um problema técnico” com a frota do A339 da Airbus.

“A guerra criou problemas na cadeia de abastecimento e isto está a gerar grandes impactos nas cadeias de produção especialmente em aviões”, referiu, lembrando que depois da pandemia “houve uma grande recuperação da atividade e isso causou problemas”. “Para o ano é possível que tenhamos que usar taticamente ACMI se tivermos algum problema com algum dos nossos parceiros, mas será sempre para suprir uma operação, todas as companhias aéreas o fazem”, sublinhou.

 

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