BPI prevê correção de 1,5% no preço das casas em 2023
O arrefecimento da procura associado ao apertar das condições financeiras e ao ritmo de subida de taxas de juro mais rápido do que o inicialmente estão na base da previsão do BPI Research.
O mercado imobiliário continua a mostrar uma elevada resiliência. Sinal maior dessa solidez aconteceu durante a pandemia, com o preço das casas a subir 8,5% em 2020 e 9,4% em 2021.
O último trimestre de 2021 foi inclusive o período em que se registou o maior número de transações de imóveis desde que há registo: entre outubro e dezembro de 2021 foram realizadas quase 46 mil negócios de imóveis.
Os analistas do BPI Research antecipam uma “ligeira correção” de 1,5% do preço das casas em 2023 mas, na prática, é uma travagem brusca: depois de nos últimos nove anos os preços do imobiliário terem escalado a um ritmo médio de 8% ao ano, em 2023 deverão contrair de 1,5%.
Para este ano, o BPI Research estima que o preço dos imóveis possa continuar a subir a um ritmo de 11,7%. Numa nota enviada na passada sexta-feira aos clientes do banco, os analistas destacam seis variáveis que têm contribuído decisivamente para o aumento dos preços:
- Período prolongado com condições financeiras favoráveis (baixas taxas de juro);
- Baixo desemprego;
- Escassez de oferta de imóveis novos;
- Procura crescente;
- Aumento dos custos de construção;
- Aquisição de imóveis como investimento;
Porém, os analistas sublinham que o contexto mudou, particularmente no terceiro trimestre do ano. “Com o impacto da inflação nos orçamentos familiares e com a inversão da política monetária pelo BCE (início do aumento das taxas de juro), perspetivamos que no final deste ano os preços estabilizem. E, para o próximo ano, antecipam mesmo uma correção de 1,5% do preço das casas”, descrevem.
Fonte: INE e BPI Research. Dados de 2023 referem-se a estimativas do BPI Research.
Mercado imobiliário trava a fundo no próximo ano
O próximo ano deverá ser marcado por um “arrefecimento da procura associado ao apertar das condições financeiras e ao ritmo de subida de taxas de juro mais rápido do que o inicialmente previsto”, lê-se no documento enviado aos clientes do banco.
Por isso, os analistas do BPI Research antecipam uma “ligeira correção” de 1,5% do preço das casas mas, na prática, é uma travagem brusca: depois de nos últimos nove anos os preços do imobiliário terem escalado a um ritmo médio de 8% ao ano, em 2023 deverão contrair de 1,5%.
Num mercado ainda fortemente alimentado pelo crédito à habitação e por uma forte participação de compradores residentes, é praticamente impossível que a subida das taxas de juro que se tem assistido no último ano não acabe por ter impacto no mercado.
Os analistas do BPI Research, por exemplo, estimam que o rácio de esforço nos novos créditos à habitação (que relaciona rendimento médio das famílias com o pagamento de empréstimo de hipoteca) possa já ter ultrapassado os 36% no final de setembro – há um ano, esse rácio era inferior a 22%. Mas Portugal não está sozinho nesta crise.
A crise no imobiliário é global
Num relatório divulgado pela Oxford Economics em meados deste mês, com base numa análise ao mercado imobiliário de 41 países (Portugal incluído), os seus especialistas antecipam que quase todos os países sofram um abrandamento no próximo ano, e que mais de metade registe uma contração dos preços — a última vez que isso aconteceu foi em 2009.
“Esta é a perspetiva mais preocupante do mercado imobiliário desde 2007-2008, com os mercados posicionados entre a perspetiva de quebras modestas e quebras muito mais acentuadas”, referiu Adam Slater, economista principal da Oxford Economics, ao Financial Times (acesso pago, conteúdo em inglês).
De acordo com estimativas da Oxford Economics, Espanha, França, Itália e Alemanha deverão registar uma correção entre 0,5% e 2% dos preços das casas no próximo ano. Já Portugal e Irlanda, apesar de virem a enfrentar um abrandamento abrupto dos preços em 2023, não deverão registar uma correção no preço dos imóveis face a 2022.
Porém, ao contrário da maioria dos países, que depois de enfrentarem uma travagem a fundo em 2023, no ano seguinte deverão registar taxa de crescimento superiores, Portugal deverá voltar a “marcar passo” em 2024, com a Oxford Economics a estimar um aumento dos preços do imobiliário de apenas 0,14%, menos 0,13 pontos percentuais que o estimado para 2023.
Pior só o Reino Unido. Depois de registar uma correção de 4,38% dos preços em 2023, deverá afundar ainda mais no ano seguinte, com os preços do imobiliário a resvalar mais 6,75%.
Fonte: Oxford Economics.
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