Multinacionais controlam pódio da produção de sapatos em Portugal

Gabor, Ecco e Ara são as maiores fabricantes de calçado no país, suportando 2.000 empregos e vendas acima de 180 milhões. Veja o top 20, que inclui marcas nacionais de partida para a feira de Milão.

As três maiores empresas do cluster do calçado em Portugal são multinacionais de origem europeia, que estão implantadas no Norte do país desde as décadas de 70 e 80, e que em conjunto respondem por um volume de negócios superior a 180 milhões de euros e asseguram quase 2.000 postos de trabalho no país.

Segundo a listagem consultada pelo ECO, cujos dados mais recentes são relativos ao exercício de 2020, a alemã Gabor continua a deter o estatuto de maior fabricante de calçado em Portugal. O grupo sediado na cidade alemã de Rosenheim está instalado desde 1986 em Silveiros, no concelho de Barcelos, onde emprega mais de mil pessoas e faturou 67,5 milhões de euros, com 99% desse valor exportado para todo o mundo.

A menos de quatro milhões de euros de distância nas vendas e com um efetivo igualmente acima do milhar de trabalhadores, a unidade da dinamarquesa Ecco em São João de Ver, no concelho de Santa Maria da Feira, foi o primeiro investimento industrial fora do país de origem desta que é uma das maiores empresas do setor a nível mundial, com mais de 2.250 lojas em todo o mundo.

Fundada na Dinamarca em 1963, esta empresa de base familiar estreou-se em Portugal em 1984, na década de 1990 chegou mesmo a liderar este ranking com uma produção de quatro milhões de pares de sapatos e perto de 1.700 trabalhadores. Com a crise financeira internacional no final da primeira década deste século, a multinacional nórdica até encerrou a produção no país, acabando por regressar pouco tempo depois, sendo a operação dirigida atualmente por Gustavo Kremer.

A fechar o pódio está outra empresa de origem alemã, a Ara, que reclama ter sido das primeiras multinacionais do setor a investir diretamente em Portugal e com unidades de produção próprias – instalou-se oficialmente no dia 6 de dezembro de 1974, sete meses depois da “Revolução dos Cravos” e num período em que a situação política era ainda bastante instável. Sediada em Langenfeld e especializada em calçado de conforto, está presente em 70 países, mas só chegou às sapatarias portuguesas em 2003.

A Ara começou por ter uma fábrica em Avintes (1975-2005), depois acrescentou outra em Pedroso (1987-2009), igualmente no concelho de Vila Nova de Gaia, e atualmente está em atividade apenas em Seia, através de uma unidade que abriu em 1991 e que no final de 2021 empregava 709 pessoas. As receitas da Ara Shoes Portuguesa ascenderam a 50,1 milhões de euros nesse ano, das quais 48,8 milhões foram provenientes dos mercados internacionais.

“São três empresas de capital estrangeiro, que anteciparam a entrada de Portugal na União Europeia, altamente exportadoras e responsáveis por muitos postos de trabalho. Trouxeram muito conhecimento para o setor, aprendemos muito com elas”, realça Paulo Gonçalves, porta-voz da associação do setor (APICCAPS). E sendo conhecidas, reputadas e tendo presença comercial em dezenas de países, levam também o made in Portugal aos quatro cantos do mundo, nota o responsável.

São três empresas altamente exportadoras e responsáveis por muitos postos de trabalho. Trouxeram muito conhecimento para o setor, aprendemos muito com elas.

Paulo Gonçalves

Porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado (APICCAPS)

O top 5 das maiores produtoras é encerrado por duas empresas de capitais portugueses, a Jefar e a Rodiro. São ambas de Felgueiras, quase 100% exportadoras, e geram, cada uma delas, um volume de negócios superior a 44 milhões de euros anuais e centenas de postos de trabalho. Aliás, na lista das 20 maiores empresas, fora do pódio, não estão representadas outras empresas estrangeiras.

Comitiva com 70 empresas viaja até Milão

Levando na mala as marcas Pratik e Imagini Shores, a Jefar, que detém o título de maior empresa portuguesa a título individual – o grupo Kyaia, detido por Fortunato Frederico, é outra referência, mas está dividido em várias empresas, surgindo a maior delas apenas no 16.º lugar deste ranking – é uma das 33 empresas que integram a comitiva nacional na Micam, considerada a principal feira profissional do setor, que arranca este domingo em Milão, Itália.

O cluster português de calçado e artigos de pele, que exporta para 172 países, já integrou uma dezena de iniciativas promocionais no exterior desde o início do ano. Neste regresso a Milão, no espaço de uma semana, vai ter um total de 70 empresas em três certames de referência dedicados ao setor. Na MIPEL vai ter um expositor e na Lineapelle, entre empresas de componentes para calçado de curtumes, a delegação nacional será assegurada por 33 empresas. Em dias distintos, os secretários de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, e da Economia, Pedro Cilínio, visitam os stands portugueses em Itália.

Em declarações ao ECO, Paulo Gonçalves reconhece que, “do ponto de vista da atividade promocional, o setor ainda não arrancou em definitivo, depois da pandemia”. No entanto, adverte, “o setor precisa da promoção internacional porque quem exporta mais de 95% da produção para os cinco continentes tem de ter uma atividade promocional constante”.

O plano de promoção externa no valor de dez milhões de euros, que apresentou no ano passado, mas que ainda aguarda “luz verde” por parte do Ministério da Economia, prevê mais de 40 ações durante este ano, sendo 55% do orçamento para feiras, 31% para promoção e prospeção, e o restante para imagem e comunicação.

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