Ações de armamento disparam mais de 100% com a guerra

As ações das empresas de armamento militar europeu dispararam desde o início da guerra da Ucrânia, mas a contar pelo aumento das suas carteiras de encomendas há ainda espaço para muito mais.

Os carros de combate Leopard 2, desenvolvidos pelo grupo alemão Rheinmetall e utilizados pelo exército ucraniano, contribuíram fortemente para a valorização de 158% das ações da empresa alemã desde o início da guerra.EPA/JAKUB KACZMARCZYK POLAND OUT

Ser o maior fornecedor militar do país que mais gasta em armamento (EUA) é um título importante, mas para os acionistas da Lockheed Martin isso não basta. Com uma capitalização bolsista de mais de 120 mil milhões de euros, as ações desta empresa norte-americana contabilizam uma valorização de 26% desde o início da guerra na Ucrânia.

Na frente de batalha, a defender as posições do exército ucraniano, contam-se centenas de mísseis anti-tanque Javelin, que se tornaram num símbolo da resistência ucraniana, e de vários Sistemas de Artilharia de Alta Mobilidade (Himars) enviados pelos EUA. Tudo propriedade da Lockheed Martin.

O gigante de armamento norte-americano é apenas uma das empresas que tem visto o seu negócio crescer à velocidade com que a guerra evolui na Europa, e muito por conta do pacote de ajuda de 100 mil milhões de dólares dos EUA e dos mais de 40 mil milhões de dólares dos países da NATO para armar o exército ucraniano contra as forças militares da Federação Russa.

Entre as empresas europeias, a estrela do batalhão tem sido o grupo alemão Rheinmetall, que produz os carros de combate Marder e o famoso tanque Leopard 2 – um pedido recorrente da parte de Volodymyr Zelensky aos seus aliados. De acordo com os dados oficiais, os países da NATO já enviaram 12 destes tanques para a Ucrânia – Portugal vai enviar três.

Fonte: Reuters. Evolução das ações na sua moeda local. Ações europeias medidas pelo desempenho do índice Euro Stoxx 50 e as ações mundiais medidas pelo índice MSCI World.

As ações da empresa liderada por Armin Papperger valorizaram 158% no espaço de um ano, que compara com uma subida de 5,8% do principal índice acionista alemão (DAX) ou com a valorização de 10,8% (incluindo dividendos) das ações das 50 maiores empresas da Zona Euro presentes no índice Euro Stoxx 50.

Recentemente, numa entrevista à revista Stern, Armin Papperger, CEO do Rheinmetall, antecipava que o negócio da empresa está somente a começar, perspetivando dois anos igualmente intensos a 2022, com as vendas a escalarem até aos 12 mil milhões de euros até 2025, cerca de mil milhões acima da meta anteriormente estabelecida.

Nessa entrevista, o líder da empresa alemã afirmou que a carteira de encomendas da Rheinmetall era de 30 mil milhões de euros em dezembro de 2022, um valor recorde que compara com os 24,5 milhões de euros no final de 2021, e 33% abaixo dos 40 mil milhões de euros com que espera terminar este ano.

A guerra da Ucrânia vista pelo sobe e desce da Bolsa

A guerra é o palco preferido das empresas de defesa e produção de armamento militar. É durante os períodos de conflito militar que estas empresas veem crescer o seu negócio. A última guerra no Afeganistão, que durou quase 20 anos (entre outubro de 2001 e agosto de 2022), é disso exemplo.

Segundo cálculos do think thank “Cost of War”, da Universidade de Brown, este conflito teve um custo de mais de 2 biliões de euros para o Tesouro dos EUA que se repercutiu em milhares de milhões de receitas para os cofres dos maiores fabricantes de armamento do mundo, onde se incluem as empresas pertencentes ao Complexo Industrial Militar Americano (CIMA): Lockheed Martin, Raytheon, General Dynamics, Boeing e Northrop Grumman.

Durante a guerra do Afeganistão, as ações das empresas que constituem o CIMA valorizaram, em média, 927%, cerca de 1,8 vezes mais que os títulos das 500 empresas que constituem o principal índice acionistas norte-americano (S&P 500).

A guerra na Ucrânia não foge à regra. Tem também sido o palco da amplificação do negócio de muitas empresas de defesa e produção de armamento militar. As ações das empresas do CIMA, por exemplo, contabilizam uma valorização média de 15% no último ano, face a uma desvalorização de 4% do S&P 500 no mesmo período.

As contas das principais empresas de defesa e armamento militar europeias apresentam uma carteira de encomendas para os próximos anos em números recordes.

Destaque para as ações da Lockheed Martin que acumulam uma subida de 25,6% desde 24 de fevereiro de 2022, mas que poderão ainda disparar mais caso os países da NATO cheguem a acordo para enviar para a Ucrânia alguns caças F-16, como tem sido pedido por Volodymyr Zelensky – aviões que são produzidos pela empresa norte-americana.

No entanto, na guerra da Ucrânia, têm sido as empresas militares europeias as mais beneficiadas, contabilizando para si a maior fatia dos pacotes de apoio à Ucrânia. Além da alemã Rheinmetall, destaque para as ações da sueca Saab que subiram 173% desde o eclodir da guerra, seguindo à boleia do sucesso do seu sistema de mísseis anti-tanque NLAW; e para os títulos da empresa italiana Leonardo, responsável pela produção do sistema de defesa para os tanques M1A1, que escalaram 66% no último ano.

Um negócio com presente e futuro

O bom momento para as empresas europeias de defesa e armamento militar não é apenas contabilizado no presente. A BAE Systems, a maior construtora de armamento do Reino Unido, apresentou na quinta-feira lucros de 2,7 mil milhões de euros e um recorde de encomendas no final de 2022 de 67 mil milhões de euros, como resultado de uma crescente procura por armamento por parte de vários países.

“Embora seja trágico que tenha sido necessária uma guerra na Europa para aumentar a consciência da importância da defesa em todo o mundo, a BAE Systems está bem posicionada para ajudar os governos a manter os seus cidadãos a salvo e seguros num ambiente de ameaça elevada“, referiu Charles Woodburn, CEO da empresa no decorrer da apresentação de resultados, sublinhando ainda que para 2023 antecipa um aumento das vendas entre 3% a 5%.

No último ano, as ações da BAE Systems, cotadas na bolsa de Londres, subiram 52% (já contabilizando os dividendos distribuídos) face a uma valorização de 9,8% dos títulos das 100 empresas que constituem o principal índice acionistas britânico (Footsie).

Uma carteira constituída há um ano de forma equitativa pelas quatro principais empresas de armamento militar europeu que mais têm ganho com a guerra na Ucrânia (Rheinmetall, Saab, Leonardo e BAE Systems) apresenta hoje uma valorização média de 111%.

O sinal dado por Charles Woodburn não é restrito às contas da BAE Systems. As contas das principais empresas de defesa e armamento militar europeias apresentam uma carteira de encomendas para os próximos anos em números recordes. A italiana Leonardo, por exemplo, que apresentará contas a 9 de março, já revelava em setembro uma carteira de encomendas de 37,4 mil milhões de euros, o equivalente a 2,5 anos de produção.

O mesmo sucede com a Saab, que além de registar um incremento de 16% das vendas em 2022, teve um crescimento de 21% da sua carteira de encomendas para mais de 12 mil milhões de euros e antecipa um aumento orgânico de 15% das vendas este ano. “Temos uma sólida carteira de encomendas e uma forte posição para captar mais crescimento”, referiu Micael Johansson, presidente e CEO da Saab.

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