Portugueses metem “comboios na linha” com mais de 600 propostas
Plano Ferroviário Nacional recebeu 619 contributos após três meses de consulta pública. De Trás-os-Montes ao Algarve, veja algumas das sugestões feitas ao Governo por cidadãos, autarquias e empresas.
Os portugueses parecem querer colocar os comboios na linha. Nos últimos três meses deram entrada um total de 619 contributos para melhorar o Plano Ferroviário Nacional (PFN), apresentado no final de novembro de 2022. Do fim de uma passagem de nível até à construção de novas linhas, todas as propostas apresentadas por cidadãos, autarquias e outras entidades serão escrutinadas pelo Governo nas próximas semanas, antes de o documento ser submetido à aprovação do Conselho de Ministros e à votação no Parlamento.
“As mais de seis centenas de contributos representam o dobro do que foi recebido [318] na fase de auscultação do PFN“, assinala ao ECO fonte oficial do Ministério das Infraestruturas, que lidera este processo. “Todas as regiões e territórios de Portugal Continental enviaram contributos para a consulta pública”, acrescenta o gabinete, liderado por João Galamba desde o final de dezembro.
Apesar de a recolha de contributos ter começado a 17 de novembro de 2022, seguiu-se à risca o hábito de deixar tudo para a última semana: “mais de dois terços” das sugestões chegaram no final do período de consulta pública. “Desde o cidadão comum a associações, passando por autarquias ou associações empresariais”, os portugueses de “todas as regiões e territórios” quiseram deixar a sua ideia.
Após a aprovação no Conselho de Ministros, o PFN será entregue na Assembleia da República em meados deste ano, já com a respetiva avaliação ambiental estratégica. Ainda assim, poderão ser feitas alterações em sede parlamentar.
Quando foi apresentado há quatro meses, o plano previa comboios de alta velocidade nas 10 maiores cidades portuguesas, uma nova ponte ferroviária sobre o rio Tejo, ligações sobre carris em todos os distritos e Lisboa e Porto a três horas de comboio de Madrid. Os portugueses, no entanto, ambicionam mais. Veja abaixo algumas das propostas deixadas ao Governo.
Trás-os-Montes vs Beira Alta
É um debate que ainda mal começou, mas que promete aquecer o mundo ferroviário nos próximos anos. Há duas décadas que se fala na construção de uma linha de alta velocidade entre Aveiro e Salamanca, com passagem pela cidade de Viseu. O projeto da alta velocidade foi cancelado, entretanto, mas Portugal tentou duas vezes obter financiamento para a ligação Aveiro-Mangualde. A proposta foi chumbada nas duas ocasiões por causa da avaliação negativa entre custo e benefício.
Num local onde já existe a Linha da Beira Alta, o PFN voltou a pôr em cima da mesa a construção de uma linha de alta velocidade na região, na configuração Aveiro-Viseu-Guarda-Vilar Formoso. A Assembleia Municipal da Guarda aprovou uma moção em defesa de uma paragem do comboio da alta velocidade na cidade.
Mais a norte, a proposta do plano fala numa nova linha entre Caíde e Bragança, com passagem por Vila Real, permitindo comboios Porto-Bragança em duas horas. A ideia foi chumbada pela Associação Vale d’Ouro, que reforçou a proposta para a construção da nova Linha de Trás-os-Montes. Nesta travessia, a ligação entre Porto e Bragança demora 1 hora e 15 minutos; da cidade Invicta até Madrid bastariam duas horas e 45 minutos. A construção desta linha também é apoiada pela SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social.
Ligeiramente mais abaixo, no Douro, a mesma associação defende a reabertura da Linha do Douro até Barca d’Alva e respetiva ligação com o trajeto em Espanha até Salamanca.
No Minho, a Assembleia Municipal de Vila Verde defendeu a construção de um ramal entre este município e Braga; a comunidade intermunicipal do Cávado quer que os comboios suburbanos do Porto cheguem à cidade de Barcelos e que no local também haja uma paragem do comboio Celta (entre Porto e Vigo).
Algarve reclama ligação a Espanha
Depois de a última Cimeira Ibérica ter aberto a porta aos estudos de uma ligação entre Faro e Sevilha, o conselho regional da CCDR-Algarve propôs, até 2050, o “desenvolvimento estruturado e concretização da linha Lisboa – Évora – Beja – Faro, com a estratégica ligação a Sevilha”. Desta forma, seria possível a “inserção competitiva da região na Europa, face às novas dinâmicas e padrões de mobilidade, mais sustentáveis e descarbonizados”.
O movimento algarvio Mais Ferrovia também defende a construção de “uma nova Linha do Sul, com passagem por Beja”, e respetivamente ligação à futura ligação entre Faro e Sevilha, segundo o semanário local Barlavento.
Antes disso, a CCDR do Algarve defende a “realização de obras de reabilitação em diversas estações e apeadeiros, há muito desativadas”, como a estação de São Marcos da Serra, no concelho de Silves, onde “apenas se faz o cruzamento entre comboios”. A situação “inibe o pleno potencial do modo ferroviário na região”.
Alentejo quer mais comboios
Seja no literal e no interior, a região do Alentejo contribuiu com várias propostas para o PFN. Mais perto do mar, a Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral defende a necessidade de retomar, com “urgência”, um serviço de passageiros na Linha de Sines. A CIMAL também é a favor da construção de uma linha entre Sines e Grândola, com viagens para passageiros incluídas, refere a Rádio Campanário.
Mais no interior, a câmara de Beja dá prioridade à eletrificação do troço Casa Branca-Beja, com ramal ao aeroporto, e ainda a reativação e eletrificação do troço Beja-Funcheira, que poderia servir como redundância para a atual Linha do Sul. O município também apoia a nova linha Évora-Beja-Faro, segundo o Correio Alentejo.
Centro aproxima-se de Leiria
A expectativa de uma estação em Leiria na linha de alta velocidade Porto-Lisboa levou a região a contribuir para o PFN. A câmara de Ourém pôs à consideração um metro de superfície entre a futura estação de Leiria e a cidade de Fátima.
Não muito longe, em Tomar, houve aprovação unânime da proposta da ligação ferroviária entre a cidade, Fátima e Leiria, a requalificação da estação de Santa Cita e a continuação do Ramal de Tomar até Castelo Branco, refere o portal Médio Tejo.
A comunidade intermunicipal do distrito também defende a criação de um serviço Intercidades Lisboa–Leiria-Figueira da Foz via Linha do Oeste e ainda a construção de uma plataforma logística em Pombal com acesso à rede ferroviária nacional.
Beira Baixa quer linha mais competitiva
Praticamente esquecida no PFN, a região da Beira Baixa quer uma linha de comboio mais competitiva, através da melhoria da oferta e da redução do tempo de viagem. Isso seria feito, sobretudo, através de correções de traçado e da supressão de passagens de nível, segundo a associação Move Beiras. Além de aproximar as zonas industriais da linha centenária, a região pretende ainda dinamizar o turismo ferroviário.
Terceira ponte e regresso dos comboios noturnos
Para fortalecer as ligações de Lisboa com Espanha, Alentejo e o Algarve, a associação ambientalista Zero defendeu a construção da terceira travessia, “exclusivamente ferroviária” sobre o rio Tejo na zona da capital. A entidade também pediu a quadruplicação da Linha de Cintura de Lisboa, Ligação da Linha de Cascais a Alcântara-Terra e duplicação da Linha de Leixões.
O movimento Aterra, que junta mais de 20 organizações, pediu a “retoma imediata” dos comboios noturnos SudExpress (Lisboa-Hendaye) e Lusitânia (Lisboa-Madrid). Mais adiante, é favorável ao regresso das ligações de noite Porto-Madrid e Porto-Hendaye – com possível prolongamento até Barcelona – e pretende um comboio noturno de Braga a Faro.
Nota final para os contributos da Mubi. A Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta defende estacionamentos seguros e cobertos junto às principais estações ferroviárias, um mínimo de oito lugares por carruagem para estes veículos em todo o tipo de comboios e a possibilidade de comprar e reservar bilhetes para passageiros e bicicletas.
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