Setor editorial do livro voltou a crescer em 2022 e mercado gráfico estabilizou

  • Lusa
  • 5 Março 2023

O presidente da Apigraf disse ainda esperar que este ano saiam medidas de apoio "que estão a demorar", sem falar no Plano de Recuperação e Resiliência "que está a tardar a chegar às empresas.

O presidente da associação Apigraf afirma, em declarações à Lusa, que o setor editorial do livro voltou a crescer em 2022 e que, depois do “drama” do primeiro semestre de falta de papel, o mercado está “estabilizado”.

José Manuel Lopes de Castro falava à Lusa a pouco menos de uma semana do encontro anual da Associação Portuguesa das Indústrias Gráficas e Transformadoras do Papel (Apigraf), que decorre a 11 e 12 de março, no Luso, e onde será feito um balanço de 2022, que fechou “positivo” e irão também falar dos 170 anos do associativismo gráfico.

“Iremos comemorar no fim do ano com uma exposição no Porto, na Faculdade de Belas Artes, e com o lançamento de um livro com dois volumes sobre os 170 anos do associativismo”, diz, adiantando que para a produção de conteúdo tem a parceria da Universidade Nova, mais precisamente do Instituto de História Contemporânea, e conta com alto patrocínio da Presidência da República”.

Este “é um projeto de peso” em que a Apigraf apostou, com o objetivo de “mostrar uma dinâmica de um setor” que “recorrentemente não é conhecido”, destaca José Manuel Lopes de Castro.

Relativamente ao encontro anual, refere que o balanço será feito sem números, “porque não há números fechados”, mas há “sensibilidades”. E, nesse ângulo, “o ano foi bom genericamente”, apesar de o primeiro semestre ter sido “um desastre com a escassez de matéria-prima [papel] e pelo aumento brutal” do preço da mesma, algo que foi “transversal ao setor todo”, refere.

No entanto, em meados do ano passado, o mercado “começou a estabilizar, a normalizar, e agora penso que as coisas estarão mais ou menos normalizadas na oferta e mais ou menos estabilizadas no preço”, considera o presidente da Apigraf, setor que emprega cerca de 20.000 trabalhadores, conta com mais de 2.700 empresas e representa 4% da indústria transformadora.

O ano — temos que confirmar isso com números –, pelos indicadores que temos, foi positivo, o que é francamente bom”, avança.

Estes são alguns dos pontos que a Apigraf vai partilhar no encontro, salientando que o setor é muito mais do que as artes gráficas, inclui o setor editorial, o da embalagem, os dos rótulos, só para citar alguns. Por exemplo, no setor editorial livro acontece um “fenómeno estranho positivo” diz, que é contrário ao editorial jornal e revistas.

“Mais uma vez, em 2022 o livro voltou a subir, quer na aquisição, quer os números de leitores subiram, mas os números de compradores também subiram na Europa toda, é um fenómeno interessante”, destaca o presidente da Apigraf.

Lopes de Castro considera que as notícias da morte do livro foram manifestamente exageradas e estes dados de 2022 comprovam isso: “Já foi considerado morto várias vezes, está a subir, está a crescer e há indicadores de que está para ficar e bem”.

Agora, “o jornal, todos, todos baixaram muito de tiragens”, enfatiza, apontado que algumas até são “residuais”. A leitura do jornal, diz, “foi comprometida pela oferta, quer ao nível do telefone, tablet, essa oferta toda digital”, prossegue, salientado que “vão resistindo e bem os jornais muito vincados”.

A nível internacional, aponta, “há projetos interessantes”, quer nos Estados Unidos e na Europa, de jornais que deixaram de imprimir em papel e que agora estão a regressar à impressão. “Porque só regressando ao papel é que têm acesso a uma receita chamada publicidade impressa, é um fenómeno engraçado”, exemplifica.

No caso português, há o Diário de Notícias (DN), que saiu do papel e depois regressou, mas com baixas tiragens. “Há uma coisa que me parece que está comprovada: os subscritores do jornal online são os compradores do jornal em papel”, refere José Manuel Lopes de Castro.

O mesmo acontece com os leitores de livros, que são os compradores dos ‘ebooks’ [livros eletrónicos] Kobo e Kindle, “esses aparelhos não criaram novos mercados de leitura”, refere. No caso dos jornais, insiste, “estamos a falar de um setor em crise há muito tempo, não é de agora” e “dificilmente voltará ao que era”.

Em suma, atualmente a oferta e a procura de papel “já estão equilibradas e, por exemplo, estabilizou uma coisa que era uma preocupação para nós, o preço também estabilizou, estabilizou em alta, mas está estabilizado”, sublinha.

“Agora, o drama que vivemos o ano passado, no primeiro semestre, não termos matéria-prima foi complicado” e isso teve consequências, entre os quais jornais “encerraram” e “há projetos editoriais que não foram realizados porque simplesmente não foi produzido, não havia matéria-prima”, diz.

PRR está a tardar a chegar às empresas, diz Apigraf

O presidente da associação Apigraf diz à Lusa esperar que em 2023 saiam medidas de apoio “que estão a demorar”, sem falar no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “que está a tardar a chegar às empresas”.

O responsável considera que o setor tem de se preparar para este ano, consolidar e “ver se de facto vão sair medidas de apoio que estão a demorar“, apontando o PT2030. “Já nem quero falar no PRR que está a tardar a chegar às empresas”, lamenta, referindo que o Plano de Recuperação e Resiliência ainda não chegou. “Ainda não chegou, além da sua execução ser mínima, ser residual, às empresas ainda não chegou, o que é pena”, salienta.

No ano passado, “as exportações do país voltaram a subir”, o que mostra que “é com as empresas que o país tem que arranjar soluções para as crises, mas era preciso apoiá-las também”, refere José Manuel Lopes de Castro.

“É preciso que, quando há dinheiro vindo do exterior, seja de alguma forma equilibradamente distribuído. Neste momento, todas as empresas têm razões de queixa em relação ao PRR“, o setor gráfico incluído, insiste o responsável. “Esperamos que saiam medidas para apoio”, sublinha o presidente da Apigraf.

A indústria gráfica tem, de uma forma transversal, desafios que vão desde a natureza ambiental, passando pela pegada de carbono, temas sérios que o setor “está a olhar com muito cuidado”.

Por exemplo, “a área da reciclagem está controlada, trabalhamos com matérias-primas recicladas na ordem dos 74%, 75% a nível europeu, mas há desafios interessantes, a internacionalização das nossas empresas que trabalham com o exterior”, que atualmente obriga a certificações que não são nada fáceis, aponta.

“Portanto, há aqui desafios que nós queremos começar obviamente a sensibilizar os nossos associados, que já estamos a fazer, vamos evoluir para ações de formação, estamos à procura de parceiros para essa formação, nacionais e internacionais, e isso, digamos, é um desafio e é transversal”, remata.

José Manuel Lopes de Castro considera que “2023 vai ser interessante”, um ano em que “as empresas têm que olhar de frente para estas questões, até porque há legislação permanentemente a sair, algumas de difícil compreensão, [que] criam custos de contexto elevados”.

E cita o exemplo dos 30 cêntimos aplicados à embalagem de uso único, “que custa mais do que a embalagem propriamente dita”. Mas isso, acrescenta, “é o diálogo entre confederações, associações, Governo e esse diálogo está a existir, de certa forma, da nossa parte, empresas, temos que responder a essas exigências que cada vez mais o mercado está a pedir”, conclui.

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