Toma-se mais decisões baseadas no coração do que na razão. Como gerir emoções no trabalho
Entender a exigência emocional em que os seus colaboradores estão envolvidos é o primeiro passo para criar um ambiente de trabalho mais positivo e, consequentemente, mais produtivo.
Se estamos a decidir mais com a emoção do que propriamente com a razão, como sugere o recente estudo “Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho”, da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), não será hora dos líderes e gestores investirem na gestão das emoções no local de trabalho? Entender a exigência emocional em que os colaboradores estão envolvidos é o primeiro passo para criar um ambiente de trabalho mais produtivo.
“As emoções desempenham um papel em todos os aspetos da nossa vida, incluindo o local de trabalho. De facto, as emoções podem ter um impacto poderoso no comportamento organizacional e na comunicação. Por exemplo, emoções positivas como a felicidade e a gratidão podem levar a uma maior cooperação e trabalho de equipa. Por outro lado, as emoções negativas como raiva e a ansiedade podem levar a conflitos e a mal-entendidos”, começa por explicar a psicóloga Cristina Pereira, membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), ao ECO Pessoas.
Segundo o estudo da OOP, é mais provável que tomemos decisões baseadas na emoção do que na razão, “o que significa que a gestão das emoções no local de trabalho é essencial para a tomada de decisões sólidas”, considera Cristina Pereira. “Ao compreender e reconhecer o papel que as emoções desempenham no local de trabalho, podem ser criados ambientes de trabalho mais saudáveis e positivos.”
Algo que evitaria — ou, pelo menos, minimizaria — os problemas relacionados com o stress e a saúde mental dos trabalhadores, que resultam, muitas vezes, em absentismo, presentismo e quebras de produtividade com custos para as empresas. Custos que continuam a aumentar. No ano passado resultaram em perdas até 5,3 mil milhões de euros às empresas portuguesas, uma subida face aos 3,2 mil milhões estimados no ano anterior, aponta o II Relatório “Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho”.
Os custos “representam já um valor equivalente ao que o Governo gastou em 2021 em medidas para mitigar os impactos da pandemia”, lê-se nesse mesmo estudo. Apostar em saúde mental nas empresas pode reduzir as perdas em, pelo menos, 30%.
Para criar um ambiente de trabalho emocionalmente positivo, é essencial que os gestores e lideranças — que desempenham um papel fundamental no bem-estar dos colaboradores, influenciando na mesma proporção que um parceiro, e mais ainda do que um terapeuta ou psicólogo — considerem a prevenção, a promoção do bem-estar e a implementação estratégica de mudanças que assegurem práticas organizacionais centradas no bem-estar e na sustentabilidade.
Áreas de ação que a OPP defende que passarão pela “intervenção dos psicólogos e psicólogas nas organizações, através da consultoria e assessoria às lideranças, em prol da saúde ocupacional”.
Para começar já a trabalhar num espaço de trabalho mais saudável e a gerir melhor as emoções das suas pessoas, ficam os conselhos da psicóloga ouvida pela ECO Pessoas:
1. Crie uma cultura de valorização
Cabe ao líder garantir que os seus trabalhadores se sentem apoiados e valorizados. “Quando os trabalhadores sentem emoções positivas no trabalho, é mais provável que se sintam motivados a dar o seu melhor”, explica a especialista.
2. Contribua para aliviar a carga emocional
“Os gestores/lideranças podem ajudar a aliviar a carga emocional, estando atentos à cultura do local de trabalho. Podem criar oportunidades para discussão aberta das suas experiências emocionais e darem apoio quando necessário. Se conceptualizarem o trabalho e tomarem medidas para gerir o bem-estar enquanto cultura interna organizacional, os gestores/lideranças apoiarão melhor o desempenho e produtividade dos seus trabalhadores.”
A empresa de tecnologia indiana Softgrid Computers, por exemplo, criou um software que indica quando é que o horário de trabalho chegou ao fim, avisando os trabalhadores que está hora de irem para casa. O programa está equipado com um sistema de notificações, surgindo um alerta assim que o turno termina com a mensagem: “O sistema vai encerrar dentro de dez minutos. Por favor, vá para casa!”. Mas veja aqui outros exemplos de boas práticas.
3. Fomente a cultura de apoio entre colegas
A cultura de apoio deve ser promovida também entre os próprios colegas de trabalho. “Alimenta níveis mais elevados de retenção e compromisso para com a organização. Por outro lado, o stress em excesso prejudica a memória, atenção, controlo de impulsos e flexibilidade mental”, alerta.
4. Invista na inteligência emocional
“É caso para dizer que na era da inteligência artificial, a inteligência emocional ‘ainda é o que era’, e mantém a sua relevância. A capacidade de estar consciente e gerir as próprias emoções, bem como as emoções dos outros, envolvendo autoconsciencialização, empatia e autorregulação, vai além das capacidades cognitivas, na compreensão e na gestão dos sentimentos. Pessoas emocionalmente inteligentes são capazes de criar um ambiente de trabalho mais produtivo e positivo.”
Medidas com resultados
As organizações revelam-se como um dos principais contextos para a promoção do bem-estar e da saúde psicológica, que pode traduzir-se em inúmeros benefícios, não só para os trabalhadores, mas também para os empregadores, através do aumento do compromisso, da motivação e satisfação com o trabalho; aumento da produtividade; menos tempo de trabalho perdido devido ao absentismo e respetiva redução de custos.
“A investigação demonstra, consistentemente, que quando as trabalhadoras e os trabalhadores se sentem apoiados e valorizados tendem a apresentar níveis mais elevados de bem-estar; níveis mais elevados de desempenho, concentração e motivação; níveis mais elevados de envolvimento e compromisso com os objetivos da organização. Diminuição dos problemas (e custos) de saúde física associados com o stresse ocupacional, como as doenças cardíacas, as dores nas costas, as dores de cabeça, as perturbações gastrointestinais. Diminuição dos problemas (e custos) de saúde psicológica associados com o stresse ocupacional, como a depressão, a ansiedade, a perda de concentração e a dificuldade em tomar decisões. Diminuição dos conflitos laborais e da violência no local de trabalho, assim como aumento das relações e clima positivo laborais”, elenca ainda a psicóloga.
As atitudes adotadas relativamente à saúde psicológica podem fazer uma grande diferença nas organizações, nomeadamente para os trabalhadores que experienciam problemas de saúde psicológica.
No caso das pessoas que experienciam um problema de saúde psicológica, manter-se a trabalhar com o apoio da organização pode ajudar a construir a autoestima, confiança e competências de coping, assim como promover a inclusão social. “Ao mesmo tempo, a organização vincula competências e experiência valiosa, evitando custos de formação e contratação de novos trabalhadores”, diz.
“As atitudes adotadas relativamente à saúde psicológica podem fazer uma grande diferença nas organizações, nomeadamente para os trabalhadores que experienciam problemas de saúde psicológica.”
Boas práticas para os colaboradores
Cristina Pereira deixa ainda algumas recomendações de boas práticas que podem ser adotadas por parte dos funcionários, que podem (e devem) colaborador em todo o processo.
- Encorajar e participar na comunicação aberta entre colegas e gestores/lideranças, nomeadamente quando surgem problemas e é necessário encontrar soluções; Partilhar a própria experiência de um problema de saúde psicológica e mostrar-se disponível para ouvir a experiência de colegas;
- Denunciar situações de discriminação assédio violência e bullying;
- Cooperar com as políticas e procedimentos do local de trabalho na criação de um local de trabalho saudável apoiando e participando nas iniciativas que procuram melhorar a saúde psicológica e o bem-estar no trabalho (desde o preenchimento de questionários de avaliação da saúde psicológica e do bem-estar no local de trabalho à participação em ações de formação e prevenção).
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